No sábado, 12 de setembro, moradores da Vila Autódromo se reuniram na igreja católica da comunidade onde eles foram presenteados com um mapa aéreo de sua comunidade. O mapa foi composto por 20 fotografias selecionadas a partir de 1.238 imagens tiradas da altura de 200 a 300 metros entre 09:00-11:00 horas, do dia 15 de agosto de 2015. O projeto–da UFRJ, do MediaLab #dronehackademy, uma iniciativa de Pablo da Soto, Douglas Monteiro e Marlus Araújo com a ajuda de membros da comunidade–usa câmeras GoPro em drones para documentar o quanto as áreas da cidade mudam rapidamente. O objetivo do evento de sábado foi explorar as possíveis utilizações do mapa aéreo e o modo que ele pode beneficiar a Vila Autódromo durante este intenso momento de transformação, devido às remoções, na comunidade localizada ao lado do futuro Parque Olímpico de 2016.
O encontro aconteceu, primeiramente, com os moradores que se reuniram em torno do mapa aéreo. A vista aérea convida a um senso de globalismo para a Vila Autódromo, permitindo que moradores possam intervir e oferecer uma perspectiva local, com destaque para casos específicos do que está acontecendo ao redor de cada área da comunidade.
Todas as apresentações foram feitas por membros da comunidade, que falavam livremente trocando ideias entre eles, porém todos unidos em sua mensagem. Como tem sido uma das características de longa data e invejável da resistência da Vila Autódromo, vimos ali o surgimento de novas lideranças, com idades entre 20 e 80 anos. Cerca de 100 famílias ainda habitam a comunidade, algumas aguardando a indenização que eles acham justa, enquanto outros esperam por um plano de urbanização prometido pelo Prefeito Eduardo Paes em 2013 e confirmado publicamente por Paes no mês passado.
A Vila Autódromo sempre foi uma comunidade segura, autossuficiente e acessível, razões porque muitas pessoas escolheram morar lá, e planejaram viver a vida lá. A moradora Dona Dalva falou de seus 25 anos vivendo na comunidade e que tem não somente os netos vivendo lá, mas bisnetos também.
A líder comunitária Natália disse: “Eles não estão desapropriando só casas, eles também estão desapropriando histórias de vidas”.
“É uma grande família”, acrescentou Dona Dalva. O sentimento de família entre os membros restantes da comunidade era palpável, abraçados refletiam coletivamente sobre o mapa.
Uma série de demolições estão programadas para ocorrer esta semana na Vila Autódromo. Um membro da comunidade afirmou que sua casa será a única que restará na quadra.
Desde que as imagens aéreas foram tiradas um mês atrás, 20 casas foram demolidas. A entrada da Vila Autódromo foi removida para dar lugar a construção de um hotel. Segundo os moradores, há um projeto de estrada prevista que vai cortar em linha reta através de suas terras. Eles pretendem contestar. Os membros da comunidade sentem que estão sendo “esmagados”, a cada semana constroem um novo muro, barreira ou outro limite para a comunidade. Além disso, a perda de sua entrada e da sinalização dá o sensação que o governo “está retirando a identidade da comunidade”, disse Natália.
Pressões psicológicas aumentam conforme a comunidade é forçada a viver entre os canos rachados, os restos de casas e pertences. Essas pressões afetam a determinação dos moradores. Deste modo, muitos que pensavam que nunca iriam sair, aceitaram a indenização ou a realocação para apartamentos no conjunto habitacional nas proximidades, Parque Carioca. Em última análise, isso cria uma sensação de medo que se faz sentir ser uma estratégia chave da prefeitura.
O Prefeito Eduardo Paes confirmou à comunidade em várias ocasiões que aqueles que desejassem ficar poderiam fazê-lo, e a parte central da comunidade não está marcada para a remoção. Pelo menos 30 famílias restantes na Vila Autódromo estão decididas a permanecer, independentemente das circunstâncias ou indenizações, insistindo que a prefeitura cumpra sua promessa. “Se nós, os moradores não cobrarmos, quem irá cobrar por nós?”, argumentou Natália.
O mapa aéreo provocou um diálogo entre os moradores restantes da Vila Autódromo, abrindo um espaço para as pessoas falarem e partilharem as suas histórias. Muitos relembraram as construções, as casas e eventos diários, enquanto outros imaginavam o que poderia ter sido. O evento foi concluído com a ideia de que o mapa pode ser usado para criar uma comunidade “imaginária”, e também algo que as crianças pudessem participar e ser um símbolo global da união da comunidade.