Quem for dar um rolé pelo mais novo point turístico do Rio de Janeiro proporcionado por mais uma obra faraônica do programa PAC, o badalado teleférico do Complexo do Alemão, terá que fazer um esforço maior para conhecer um pouco mais do que apenas o belo visual de um dos maiores complexos de favelas do Brasil.
É fato que um meio de transporte que funciona inicialmente fora dos horários de pico, 07:00 até 12:00hs, não pode ser considerado de utilidade pública, a não ser pelo forte apelo turístico. Sem contar a falta de unidades médicas de pronto atendimento e de profissionais bem treinados nas estações, além da grave denúncia feita por moradores ao Jornal Rio Suburbano de que duas gôndolas despencaram e se espatifaram na rua no período de teste feito antes da inauguração por sorte sem nenhuma vítima, notícia que segundo o próprio jornal conseguiu ser abafada e não foi divulgada pela grande mídia. Todos esses fatores somados dão uma angustiante sensação de estar servindo de cobaia a uma irresponsável experiência.
Se você estiver no Rio nesse mês de julho, vença todas suas fobias e experimente o passeio, que com certeza proporcionará belas imagens. É claro que se você não for uma pessoa que tenha fobia a altura e fixe o olhar para baixo entre os becos e vielas de todas as comunidades, verá vários lixões espalhado por todo o complexo. Efeito resultante da falta de conscientização por parte de alguns moradores e principalmente por tantos anos de ausência de serviços de utilidade pública presente na maioria dos bairros da cidade, porém ainda em fase de adaptação em favelas que tiveram seu território recentemente retomado pelo Estado. Essa ausência do poder público só pode ser percebida em toda a sua essência quando nos permitimos o esforço físico e psicológico de percorrer caminhando pelas ruas das comunidades de todo o Complexo do Alemão.
Se permitir a sugestão, vá até a Estação do Morro da Baiana e procure por uma senhora conhecida como “Dona Marlene”, moradora da Rua Amaral há 16 anos no Complexo. Essa senhora mora em uma casa, se é que podemos chamar assim, que sustenta outras duas e teve sua estrutura totalmente abalada após o início das obras do PAC, quando um ralo foi construindo em um beco que se situa atrás da sua casa, porém lança toda água e esgoto de outras casas no que antes era sua cozinha. Em seu relato conta que dormir entre fezes e ratos faz parte de seu cotidiano desde então e ainda faz uma grave denúncia, tendo em suas mãos um documento que prova a interdição de sua casa por responsáveis do PAC, e mesmo assim ainda não foi lhe apresentada uma solução ao seu problema. Para agravar ainda mais o quadro, Dona Marlene mora com uma filha de 16 anos e portadora de necessidades especiais. (Assista ao Video)
Diante desse cenário desesperador é fácil perceber que o bonde que atravessa o Complexo do Alemão há anos é o do descaso, que continua sem freio pelos becos e vielas das comunidades pacificadas. Mesmo assim o passeio pelo bondinho do Alemão continua valendo, além do visual único e inconfundível oferecido apenas pelas favelas cariocas é um lugar de gente receptiva e de bem, muito carentes de uma visita.
li a matéria.já é natural das autoridades cariocas investirem em projetos que tapam buracos,esse foi só mais um.
Creio que deva ser levado em consideração as especifícidades de cada região, seja ela montonhosa ou não. O fortalecimento dos transportes alternativos, já que é fonte de renda de tantas famílias no próprio Complexo do Alemão, poderiam ser ponderados pelas autoridades competentes.