Estação Azul, um movimentado restaurante 24 horas, é um ponto central no coração de Rio das Pedras. Sem uma localização formal no mapa, a extensa comunidade está situada na Zona Oeste do Rio, entre os bairros de Itanhangá, Jacarepaguá e Anil. As fronteiras de Rio das Pedras estão definidas pelo Parque Nacional da Tijuca, a Lagoa da Tijuca e um terreno privado destinado à expansão da Barra da Tijuca. Mas, apesar da prevalência do nome “Tijuca” na definição de seu espaço e em sua história, Rio das Pedras criou a sua própria identidade.
Embora o desenvolvimento das favelas do Rio não possa ser atribuído a um único fio condutor, muitas delas cresceram como resultado de determinados projetos de construção, urbanização, ciclos de trabalho ou a expansão de uma área: a Vila Autódromo se desenvolveu em razão da necessidade de moradia para os trabalhadores que estavam construindo a nova pista de corrida, enquanto que a Favela do Metrô atendeu aos trabalhadores que estavam construindo a estação de metrô do Maracanã. Rio das Pedras não é exceção, cresceu junto com a Barra da Tijuca nos anos 70 e 80, à medida que aumentava a demanda por mão de obra na região.
Rio das Pedras recebeu esse nome em razão de um rio que começa na Floresta da Tijuca e corre inteiramente através da favela. Há 30 anos, o rio era limpo o suficiente para crianças brincarem, pessoas tomarem banho e lavarem suas roupas. Atualmente, a favela enfrenta a mesma batalha de saneamento que tantas outras comunidades do Rio. Seu rio se parece mais com um grande esgoto a céu aberto revestido de concreto até encontrar a Lagoa da Tijuca.
Com mais de 55,000 moradores situados em uma área de 90 hectares de terra em expansão, Rio das Pedras pode ser dividida em duas partes principais: uma área norte mais consolidada e uma área sul com infraestrutura mais recente e, por consequência, mais precária. Mas para os moradores as principais divisões dentro de Rio das Pedras são as sub-comunidades conhecidas como Areal 1, Areal 2, Areinha, Casinhas, Pinheiro e Pantanal. As ruas principais são a Rua Nova, Rua Velha e Engenheiro.
Rio das Pedras foi o local de uma das primeiras milícias no Estado do Rio, e permanece livre das facções de tráfico de drogas. Se desenvolvendo ao longo dos anos 80, moradores já haviam observado traficantes tomando o controle em outras favelas, e por isso ao construir Rio das Pedras já estavam cientes e cautelosos sobre o que o tráfico poderia fazer a uma comunidade como aquela. O objetivo original das milícias no Rio era, assim, conter o tráfico de drogas nas favelas, na ausência de medidas de segurança formal adequadas. No caso de Rio das Pedras, os moradores são obrigados a pagar uma taxa de proteção para a milícia, o que tem mantido o tráfico de drogas longe da comunidade. Mas, à medida que as milícias se expandiam, elas também começaram a ser associadas a severas restrições das liberdades individuais dos moradores, fomentando a corrupção e sua particularmente perniciosa forma de violência.
Historicamente atraindo trabalhadores vindos do nordeste, hoje muitos dos habitantes de Rio das Pedras são migrantes que, antes mesmo de chegarem, conheciam um parente ou um amigo que já morava na comunidade e recomendava o local. O status da área como uma comunidade de migrantes ainda permanece, com mais nordestinos chegando através de uma viagem de três dias de ônibus, feita pela companhia Itapemirim, saindo direto do Ceará para Rio das Pedras. A geração original de migrantes foi responsável por tecer a cultura local, que define a comunidade atualmente.
A cultura nordestina em Rio das Pedras é palpável quando se visitam as pequenas lojas que ocupam as ruas da favela. Entre os locais mais populares estão as granjas (onde você pode escolher o seu frango enquanto ele ainda está vivo), as Casas do Norte (lojas que só comercializam produtos nordestinos) e comerciantes de rua vendendo tapioca.
A economia local de Rio das Pedras prospera, atuando como ponto central não só para favelas menores da região, como Muzema, mas indo além. Com muitos moradores proprietários de comércios, trabalhando nos negócios locais e gastando dinheiro na própria favela, o dinheiro continua circulando dentro da comunidade num círculo virtuoso de desenvolvimento. Desse modo, alguns moradores dizem que, muito embora o Brasil esteja atravessando uma crise econômica, ela não afetou Rio das Pedras com tanta força como em outros lugares.