Na última quinta-feira, dia 26 de janeiro, moradores da Vila Autódromo estiveram na Prefeitura do Rio de Janeiro para a entrega de um ofício solicitando uma reunião com o novo prefeito da cidade, Marcelo Crivella, para tratar da segunda fase de urbanização da comunidade, que não foi concluída na gestão anterior como prometido.
Os moradores foram recebidos por uma funcionária da prefeitura, que se prontificou em agendar a reunião para março. Março marcará um ano da apresentação do plano de urbanização vigente, desenvolvido pela gestão de Eduardo Paes após anos de luta da comunidade contra a remoção e pela urbanização. Os moradores, no entanto, na época denunciaram a falta de participação da comunidade na sua concepção e na sua apresentação, a qual se deu não para os moradores, mas para um grupo de jornalistas durante um evento no qual a participação dos moradores foi deliberadamente dificultada.
Em 2016, a apresentação do plano foi seguida por reuniões com o então prefeito e com o então sub-prefeito da Barra da Tijuca, Alex Costa. A principal demanda da comunidade era que fosse incluído no plano oficial os princípios do Plano Popular da Vila Autódromo, desenvolvido pelos moradores em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e premiado internacionalmente por sua qualidade, preocupação ambiental e baixo custo de implementação.
Apesar do caráter não participativo do plano da prefeitura, os moradores conseguiram reivindicar algumas alterações nele que refletisse melhor as suas necessidades, como o aumento da área das casas de 46m² para 56m² e a inclusão da construção de uma Associação de Moradores, quadra, parque e um centro cultural.
A primeira fase do plano foi realizada com a construção das casas, após uma intensa campanha nas redes sociais sob a hashtag #UrbanizaJá!, que mobilizou apoiadores da causa, incluindo celebridades como Camila Pitanga e Gregório Duvivier. No entanto, as casas não ficaram prontas no cronograma anunciado por conta do atraso em sua ligação à rede de eletricidade no ato da entrega. Até as Olimpíadas as casas e a rua ficaram prontas, mas o restante do plano faltou êxito. Continuam faltando a nova sede da Associação de Moradores, o centro cultural, parque para as crianças e quadra poliesportiva. Até o momento falta clareza quando e quanto da implementação do plano vai ser retomada.
Crivella não se posicionou em relação à Vila Autódromo (mas sim denunciou à política de remoções) durante a sua campanha pela prefeitura e seu plano de governo não ofereceu propostas especificas em relação às favelas no contexto de propostas para política habitacional. Quando questionado sobre qual seria sua estratégia para melhorar a vida dos moradores de favela, respondeu apenas em termos de saúde e saneamento, que, apesar de configurarem aspectos importantes que merecem a atenção da administração da cidade, não abarcam todas as facetas da necessidade de urbanização da Vila Autódromo, por exemplo.
Seu reconhecimento de que os moradores de favelas são os mais afetados pela má qualidade da saúde pública não foi acompanhado pelo cumprimento de sua promessa de um mutirão de saúde no primeiro dia de governo para dar fim às filas no sistema público. Segundo o Secretário de Saúde, Carlos Eduardo de Mattos, o mutirão de cirurgias teria começado nesse sábado, 28 dias após Crivella assumir a prefeitura. Ainda segundo ele, ao longo dessa semana o prefeito e o Ministro da Saúde anunciarão parceria para ampliar a oferta de exames, consultas e cirurgias, que deverão ser realizados dentro de 90 dias a partir de fevereiro. Crivella não deu um prazo para a realização de sua promessa de por fim ao esgoto a céu aberto nas favelas, mas cabe à população monitorar o seu cumprimento, assim como pressioná-lo pela efetivação do plano de urbanização da Vila Autódromo.