Um grupo enérgico reuniu-se no sábado, 25 de março, para mostrar apoio à comunidade da Vila Hípica, situada no Parque Nacional da Tijuca, no Alto da Boa Vista. Três anos atrás, a administração do Parque decidiu cortar o acesso da comunidade à rede elétrica, deixando os moradores sem energia. De acordo com duas moradoras da Hípica, Lucy da Cantara e Maria Teruz, cada família da comunidade costumava pagar R$90 por mês quando o Parque lhes enviada as contas de luz, mas há três anos, o Parque parou de enviar as contas e logo depois a energia elétrica foi cortada. A administração afirma que a energia foi cortada a fim de melhorar a rede elétrica, mas os moradores notaram que outros, incluindo o comércio local, mantêm o acesso à rede elétrica, enquanto os moradores da comunidade foram deixados na escuridão. Os apoiadores estão convencidos de que as ações do Parque são uma maneira indireta de tentar forçar os moradores a deixarem suas casas.
Embora os moradores da Hípica tenham se reunido nos últimos três anos para elaborarem ideias sobre como resistir melhor a essa remoção passiva, sábado marcou a primeira manifestação pública para chamar atenção para o problema. De acordo com Otávio Alves Barros, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Alto da Boa Vista–bem como líder de sua própria comunidade, o Vale Encantado, uma eco-favela localizada perto da Hípica–a relação entre a Hípica e o Parque Nacional da Floresta Tijuca sempre foi tensa desde o início da sua história.
A Hípica foi fundada na década de 1940 por funcionários da Sociedade Hípica Brasileira, com sede no Alto da Boa Vista. Depois que a Sociedade Hípica deixou a área em 1984, ex-trabalhadores permaneceram em suas casas e continuaram a construir sua comunidade.
Apoiadores, incluindo representantes de outras favelas que enfrentam ou sofreram remoções, como Horto e Vila Autódromo, assim como membros da Câmara dos Vereadores, se reuniram para aprender sobre as lutas da Hípica e oferecer solidariedade. Moradores do Horto falaram sobre o estado atual de sua comunidade, que é localizada em terras administradas pelo Instituto Jardim Botânico. Eles observaram que, como a Hípica, os moradores do Horto também foram tratados como invasores e têm sido afetados negativamente por estereótipos atribuídos as favelas como locais criminosos. Sandra Maria, da Vila Autódromo, falou sobre como a modesta multidão representava as muitas pessoas em favelas que estão enfrentando remoções ou já foram retiradas de suas casas e afirmou que a manutenção do Parque Nacional da Floresta da Tijuca se dá graças a comunidades como a Hípica que se encarregaram de cuidar do meio ambiente.
Um tema reiterado por vários oradores durante a manifestação foi a importância de aumentar a conscientização sobre a negação de eletricidade à Hípica. Otávio, encarregado de supervisionar oito pequenas favelas dentro do Alto da Boa Vista, está consciente da difícil batalha que enfrenta a Vila Hípica. Para ele, o primeiro objetivo é restaurar a eletricidade para a comunidade, mas ele acrescentou que se Hípica for forçada a sair, deve ser garantida uma moradia digna.
Para ajudar a divulgar a questão, a Hípica planeja realizar reuniões semanais de organização, a partir de 11 de abril, que estarão abertas ao público.