Quem circula pela Vila do Pinheiro sexta à noite, provavelmente já viu um show de rock independente organizado pelo Festival Rock Em Movimento Ações Locais. O evento gratuito na Maré fecha a rua com um palco improvisado em frente à Tabacaria Dreadlocks e disponibiliza todo equipamento musical para as três bandas independentes que agitam a noite tocando músicas autorais.
A fim de democratizar ainda mais o cenário underground, o microfone é liberado para manifestos, produtores e artistas locais fazerem sua divulgação e entre um show e outro, o DJ toca os clássicos. O último show da 6ª edição do Festival será dia 5 de maio às 20h, com a apresentação das bandas Banda Verbara, Valette Vulgar e Allira.
O coletivo Rock Em Movimento é formado por músicos das bandas ALGOZ e LEVANTE, que também coordenam o trabalho: Klaus Grunwald, Elza La Sombra, Diogo Nascimento e Reginaldo Costa; e também pelos colaboradores Rodrigo Cerqueira (Mariola); Flavio Nogueira (Dj Capacete) e AF Rodrigues.
O movimento surgiu em 2009, a partir do sucesso do evento “Maré de Rock” e da necessidade de expandir o movimento, mobilizando músicos para ocupar espaços públicos com shows, política e outras formas de cultura. Do seu início até hoje, o coletivo impressiona também pelos números: mais de 200 bandas autorais já se apresentaram dentro e fora da Maré. Na edição Ações Locais, o Festival reuniu 15 bandas de diferentes cantos do Rio de Janeiro.
Estudante de design Marcos Vinicius, 23, é frequentador da Tabacaria há mais de um ano e acredita na música como parte mobilizadora: “O Rock Em Movimento dá espaço pra bandas locais serem vistas. Eu também trabalho com arte e, deve ser muito gratificante, não só para o público mas também para quem organiza. Os artistas brasileiros deveriam ser mais reconhecidos e o reconhecimento que falo é aquele que vem das pessoas”.
Pelo menos uma vez no mês ele marca presença com seu grupo de amigos, mas não ignora como a diversidade musical está presente por toda a Maré. “Outros gêneros estão espalhados por aqui, como o rap no Pontilhão, forró no Parque União e o funk na Quadra da Paty. Acho que todo evento é importante porque ajuda na formação de culturas”, afirma Marcos.
Quem frequenta a mais tempo, vai perceber como a estrutura está mais organizada. E tem um motivo: a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro reconheceu o Rock Em Movimento como cultura local, através do Prêmio Ações Locais, em 2015. A premiação foi a oportunidade do coletivo para ampliar o Festival com várias edições,
garantindo estrutura e qualidade técnica, registro de áudio e vídeo e ajuda de custo, uma forma de valorizar quem sempre foi voluntário.
Músico e um dos coordenadores do Rock em Movimento, Reginaldo Costa de 35 anos, percebe como o projeto cresceu com o prêmio: “A gente conseguiu ter uma estabilidade e qualidade técnica maior, coisa que no geral no cenário underground é difícil ter. E por entender a dificuldade do cenário de rock no Brasil, a gente se preocupou principalmente em garantir a qualidade do evento. E esse retorno tem como base os nossos amigos militantes que nos ajudam, sendo parte essencial para o funcionamento do Festival, assim como o comércio local, além da parceria que fizemos com a ONG Redes e a Lona da Maré”. Antes do prêmio, o grupo usava seu próprio equipamento.
Com a perspectiva de ampliar ainda mais o movimento, o Festival já marcou presença na Universidade Federal Fluminense (UFF) e na Biblioteca de Caxias. “Essas parcerias locais são fundamentais, é isso que cria uma rede com as pessoas e o comércio. Os shows sempre ficam muito cheios por dois motivos: ter um público muito forte de rock e uma carência de espaço. A galera fortalece o Festival, todo mundo mobiliza de alguma forma pro evento encher, chamando os vizinhos, amigos e conhecidos. O evento tem legitimidade porque é feito, em sua maioria, por moradores. A gente não recebe visibilidade de fora, mas a atenção do território faz bastante diferença no cenário cultural”, conta Reginaldo.
Além da produção de shows, o objetivo é fazer um estudo do cenário atual: quais as dificuldades, incentivos e demandas, usando a experiência vivida com as bandas participantes. Estão produzindo também um mini-documentário contando a trajetória do coletivo e a experiência com a premiação. E para facilitar o acesso aos equipamentos de som de alto custo, realizaram seis oficinas de sonorização que formaram 10 moradores.
Independente de patrocínio, pretendem continuar com shows e parcerias locais, como Tabacaria Dreadlocks, que oferece a cobertura do espaço, ponto de luz e bar, restaurante Combo Louco e Laricas Bar. E sempre ocupar outros espaços com apresentações pelas ruas da cidade e em universidades públicas.
SERVIÇO
Festival Rock Em Movimento — Sexta edição
Evento Gratuito
Data: 05 de maio de 2017 às 20h
Local: Tabacaria Dreadlocks. Endereço: Via B9, Bloco I — Vila do Pinheiro, Maré — RJ