Centenas de moradores do Rio se reuniram na Cidade de Deus na manhã de segunda-feira, 13 de novembro, e marcharam até a residência do Prefeito Marcelo Crivella na Barra da Tijuca, na Zona Oeste, em protesto contra inúmeras ameaças recentes de remoção por toda a cidade. Mais de 77 mil moradores de favelas foram removidos pelo último prefeito, Eduardo Paes, e no primeiro ano do governo de Crivella, uma combinação de ameaças de remoções antigas e novas, deixam milhares de moradores preocupados com suas casas e comunidades. Tendo prometido em época de campanha que iria cuidar dos cidadãos do Rio, muitos sentem que Crivella fez uma volta de 180 graus.
A maioria dos casos está em áreas que estão na mira da especulação imobiliária, levantando a questão de quem é que o prefeito está realmente cuidando. Além disso, duas das comunidades ameaçadas estão situadas na Barra, no quintal de Crivella, onde não é incomum as remoções serem referidas como uma “limpeza social“. Crivella chegou a chamar uma dessas comunidades, a potência econômica regional Rio das Pedras, de “latrina da Barra“, uma visão que os moradores têm trabalhado incansavelmente para combater através de atividades de limpeza em mutirão (apesar da coleta de lixo ser uma responsabilidade da prefeitura). Apesar de uma autoridade da prefeitura anunciar recentemente, em Rio das Pedras, que “não haverá nenhuma remoção” sob esta administração, os novos planos da prefeitura para a favela permanecem opacos e os moradores acreditam que a prefeitura ainda pretende remover muitos da comunidade. Atualmente, as comunidades que enfrentam ameaças de remoções incluem: Horto, Rio das Pedras, Barrinha, Araçatiba, Maracajás e Rádio Sonda.
A Marcha Começa
Os moradores marcharam por vários quilômetros, desde a Cidade de Deus até a residência do prefeito, que está localizada em um grande condomínio na Barra da Tijuca. Uma postagem no Facebook que anunciou o protesto explicou: “O prefeito Crivella prioriza os empresários do mercado imobiliário, em detrimento da população… A democracia no Brasil vem sendo ameaçada, vamos nos unir!”
Estrada dos Maracajás, Presente!
Embora a comunidade da Estrada de Maracajás exista há cerca de 100 anos perto do aeroporto internacional do Rio na Ilha da Governador, a Aeronáutica exigiu que os moradores destruam suas próprias casas e saiam da área. As famílias de Maracajás se juntaram na segunda-feira com o movimento da Rádio Sonda, uma comunidade vizinha que também enfrenta ameaças de remoção pela Aeronáutica.
Araçatiba, Presente!
Moradores de Araçatiba, uma comunidade da Zona Oeste, em Guaratiba, também estão sendo ameaçados de remoção. Acusado pelo governo de pôr em perigo a reserva local de mangue, os moradores de Araçatiba enfatizam suas décadas de convivência e cuidado com o meio ambiente ao redor. As casas de algumas famílias já foram demolidas este ano; uma casa foi erroneamente destruída. Alguns membros da comunidade também relataram ameaças às suas casas e famílias.
Rio das Pedras, Presente!
Rio das Pedras, a maior das comunidades ameaçadas, têm sido muito ativa em resistir aos planos de remoção de Crivella. Com mais de 140 mil habitantes, têm sido uma luta organizar e manter os moradores informados, especialmente porque muitos afirmam que as autoridades do governo estão propositalmente espalhando informações falsas para manter membros da comunidade confusos.
Rio das Pedras é uma das poucas favelas especificamente mencionadas no Plano Estratégico de Crivella. No protesto de segunda-feira, os moradores vestiram roupas de palhaço e maquiagem para protestar, pois sentem que o prefeito está “fazendo o povo de palhaço”, usando táticas para perturbar seus esforços de organização.
Barrinha, Presente!
Barrinha é uma das comunidades que se juntou à luta contra a remoção mais recentemente. Ao viver na terra que seus familiares foram convidados a morar há décadas, os moradores foram informados há apenas algumas semanas de que poderiam ser removidos iminentemente. Eles suspeitam que uma empresa privada tenha interesse em construir no local.
Horto, Presente!
O Horto, uma comunidade centenária à beira do Jardim Botânico, na Zona Sul, enfrenta ameaças de remoção por décadas, mas o processo se intensificou devido às novas notificações de despejo do Governo Federal nos últimos dois anos. Embora o Jardim Botânico afirme que a presença da comunidade é uma ameaça para o meio ambiente, as famílias do Horto cuidaram da terra por gerações, e as mesmas preocupações ambientais não estão sendo aplicadas às ricas mansões na área.
Um Movimento Crescente
Também presentes no protesto de segunda-feira estiveram moradores da Vila Autódromo e da Vila União de Curicica, duas comunidades que realizaram campanhas de resistência contra às remoções no período pré-Olímpico. Representantes de ONGs e da sociedade civil, políticos e outros apoiadores também marcharam, contribuindo para a mensagem forte e unida de que esse movimento está crescendo e não vai parar de resistir aos esforços de remoções.
Os manifestantes foram recebidos pela Guarda Municipal fortemente armada no portão da residência de Crivella. Embora o prefeito não estivesse lá, os líderes se encontraram com um representante do governo para estabelecer uma reunião com Crivella, a fim de resolver suas preocupações.