Leia a matéria original por Laura Oliver em inglês no The Guardian aqui. O RioOnWatch traduz matérias do inglês para que brasileiros possam ter acesso e acompanhar temas ou análises cobertos fora do país que nem sempre são cobertos no Brasil.
Um número crescente de agências de notícias estão percebendo que, nesse mundo difícil, os leitores querem ter um pouco de esperança.
Tumulto político, crimes, ataques terroristas, miséria, tragédia: notícias sempre tendem a apelar pelo lado negativo.
Mas gradativamente um crescente número de agências–incluindo o the Guardian—está investindo em uma gestão mais positiva e construtiva de notícias, um jornalismo que foca em resolver problemas e encorajar o público a tomar atitudes.
Por quê? De onde vem essa tendência? E, mais importante, existe diferença de impacto em leitores e jornalistas esgotados por todos os fatos alarmantes que acontecem no mundo?
As notícias se concentram em acontecimentos negativos há muito tempo porque isso aciona o nosso reflexo de medo e, consequentemente, é um atrativo mais fácil para a nossa atenção, de acordo com Tom Stafford, professor de psicologia e ciência cognitiva na Universidade de Sheffield.
“Indica que existe algo pelo qual vale a pena se preocupar–talvez algo que signifique que devemos mudar nossos platnos ou reagir de alguma maneira”, ele diz. “É por isso que ficamos mais atentos a notícias ruins, pois significam que algo não está indo bem e que talvez tenhamos que agir”.
Mas uma grande quantidade de notícias ruins deixa o leitor com “a escolha entre a eterna vigilância (e ansiedade), ou a desconexão”, completa Tom.
Seán Dagan Wood, editor da revista Positive News, acredita que a balança pesou demais para o lado das notícias ruins, visto que a imprensa já presume que as ruins gerarão audiência automaticamente.
“A indústria geralmente é bem intencionada ao focar em notícias ruins, uma vez que este é o resultado do compromisso [do jornalismo] com o monitoramento da sociedade”, diz ele. “Mas, para a imprensa como um todo, essa mentalidade foi longe demais”.
“Um fator importante sobre nossa tendência por notícias ruins é que, por natureza, somos atraídos a prestar atenção a ameaças e informações alarmantes, e a imprensa capitaliza sobre isso.”
Mas ele acrescenta: “É o grande elefante na sala de redação: as pessoas são alimentadas pela negatividade da imprensa”.
Pessoas continuam lendo notícias ruins, como mostram os dados para sites de notícias internacionais, mas existem sinais promissores do interesse em um jornalismo construtivo e focado em encontrar soluções.
Arianna Huffington disse que os conteúdos sobre boas notícias no seu site, The Huffington Post, têm mais chances de serem compartilhados do que outras histórias. Para ilustrar, Jessica Prois, editora executiva dos editorias Good News e Impact, disse: “Um leitor de uma matéria em Good News é duas vezes mais propenso a compartilhar e comentar, do que em um artigo comum do Huffington Post… Compartilhar histórias que têm como base propor soluções cria um movimento de que ‘estamos todos juntos’, especialmente em um momento onde incontáveis estudos dizem que a tecnologia e o Facebook nos fazem sentir mais isolados e solitários”.
Depois de mencionar vários exemplos onde o público reagiu com doações a uma causa ou ao lançamento de campanhas de problemas levantados em uma matéria, Jessica acrescenta: “Minhas matérias favoritas são sobre quaisquer histórias onde a gente consiga levar nossos leitores a agir de forma concreta”.
A pesquisa da Dra. Denise Baden, professora adjunta na Southampton Business School, da Universidade de Southampton, descobriu que quanto mais negatividade as pessoas sentem depois de consumir notícias ruins, menor é a tendência em dar opinião ou agir para melhorar o mundo a sua volta.
Um estudo feito pelo Solutions Journalism Network (Rede de Jornalismo de Soluções) e pelo Engaging News Project (Projeto de Notícias Engajantes) na Universidade do Texas sobre a reação do público ao jornalismo de soluções sugere que, ao fim de uma matéria, leitores estavam mais inclinados a procurar matérias de agências de notícias que produzem esse tipo de reportagem (positiva).
Essa demanda, de associação de positividade à marca e o hábito de compartilhar e agir inspirado pelo consumo de um jornalismo construtivo, apresenta uma oportunidade de construir relações mais profundas com o público, diz Wood, e o potencial de beneficiar financeiramente estes produtores de notícias. Uma campanha de financiamento collaborativo pela Positive News em 2015 arrecadou 263.000,00 libras (R$1.308.457,00) em 30 dias, de 1.500 pessoas em 33 países.
Tentativas anteriores de oferecer uma cobertura mais positiva pelas agências de notícias falharam pela tendência em tratar essas histórias como puramente reconfortantes ou como contos de heróis, diz Séan, que acredita que um maior rigor jornalístico esteja sendo aplicado a essa área.
Jessica concorda. Ela diz: “Dentro da esfera de imprensa tradicional, escrever sobre soluções e boas notícias na realidade requer, excepcionalmente, altos padrões. É necessário ter reportagem, pesquisa e escrita extremamente apuradas em razão da desconfiança dos leitores, e estamos trabalhando contra uma narrativa estabelecida de que o mundo pode ser um lugar terrível e que a imprensa o deve noticiar dessa forma”.
“É claro que temos a responsabilidade de noticiar a verdade e não podemos ignorar a realidade, mas acho que também podemos ajudar a normalizar a ideia de que as pessoas no mundo geralmente são boas. Porque elas são.”