No dia 6 de fevereiro às 17h, manifestantes da Rocinha se reuniram na frente do Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare, na Rocinha, Zona Sul. Na mesma hora, moradores do Vidigal e da Chácara do Céu se reuniam na Praça do Vidigal. Os dois grupos se juntaram, formando a Manifestação Pacífica – Favela da Rocinha e Vidigal, um cortejo que seguiu a Avenida Niemayer até a casa do Governador Pezão na Rua Rainha Guilhermina no Leblon.
Chegando no local da concentração, uma observação não pôde passar despercebida: o número de policiais militares parecia igual ou até superior ao número de pessoas reunidas para a manifestação pacífica. Um policial nos informou que estava para chegar mais policiais especialmente para a manifestação, e que seriam mais de quarenta ao total. Para Denis Neves, um dos moradores que teve a iniciativa da manifestação, o clima de tensão e de violência que o Rio vive, explica porque vieram menos pessoas do que o esperado para a manifestação. Nessa mesma tarde, a Linha Vermelha e a Linha Amarela estavam fechadas e a Maré vivia mais um dia de violência.
Mas os participantes não perderam a determinação de sair pelas ruas e de fazer ouvir o que eles tinham para dizer. Para Denis, “a ideia é servir de alavanca–neste momento que a Rocinha e o Rio de Janeiro passam, e que as favelas e as pessoas pobres vivem–para uma mensagem de paz”. Vários cartazes expressavam a mensagem principal de que os moradores da Rocinha e do Vidigal não podem mais ficar calados:
Os moradores vieram denunciar a grave situação que vivem, com a UPA e a Clínica da Família em greve, a Biblioteca Parque e a ciclovia fechadas, a violência contínua, a falta de luz, água e saneamento.
“A gente quer a paz, a gente quer poder ir e vir, ter o direito de ficar nas nossas casas, viver tranquilos, sair para trabalhar e voltar em paz”, explica Francisca Oliveira, moradora da Rocinha há 50 anos e conhecida como Chica da Rocinha. Desde 17 de setembro de 2017, os 200.000 moradores da Rocinha vivem com medo e insegurança sofrendo tiroteios diários. Uma outra moradora se expressou no microfone, acompanhando a passeata pela Avenida Niemayer: “Há meses estamos sofrendo e dizem que é guerra mas não estamos em guerra: nós estamos sofrendo um processo de criminalização do Estado encima da favela, essa é a realidade. O Estado quer acabar com a favela, com nosso espaço, nosso movimento de pessoas, de identidade. Nós queremos paz. Chega, chega de fazer violência, chega de invadir nossas casas e quebrar e levar o que é nosso”. Também podia se escutar: “Nós não temos facção, nossa facção são os moradores”; “só a gente na favela sabe que tiros foram esses”; “isso aqui é favela, não é bagunça não”.
A passeata chegou por volta das 20:30h na Praça do Vidigal incentivando os seus moradores a se juntarem: “Vem pra rua Vidigal!” Na Praça do Vidigal, os manifestantes marcaram um minuto de silêncio em memória as duas vítimas do acidente de caminhão que ocorreu no dia anterior. O mal estado das vias e a precariedade dos meios de locomoção na favela são mais uma preocupação que os moradores têm que enfrentar diariamente. Para a Chica da Rocinha, “a violência é um resultado da falta de competência e de responsabilidade dos governantes. Se todos os governantes cumprissem com seus deveres, eu acredito que a violência não chegaria a esse ponto. A gente quer respeito, exige respeito, principalmente daqueles que são eleitos por nós”.
Com essas mensagens a manifestação chegou na rua do Governador Pezão no Leblon: “Pezão, vem nos atender, vem falar conosco, você teve no Vidigal buscando os votos, foi muito bem recebido na Rocinha, no Vidigal e na Chácara do Céu. Estamos pedindo é respeito pela nossa população”. A manifestação termina com o ato teatral do Bando Cultural Favelados na frente do prédio do Governador Pezão na Rua Rainha Guilhermina. Os jovens atuantes mostraram cenas de violência e preconceito que compõem as suas vidas diárias, contra negros, meninas e mulheres moradores de favela. A manifestação pacífica se concluiu na frente do prédio do governador com a esperança que nesse ano de eleições os moradores da Rocinha, do Vidigal, da Chácara do Céu e todas as favelas do Rio escolham candidatos que realmente os representem e não se deixem enganar novamente por promessas eleitorais.