Na noite do dia 12 de julho, manifestantes lotaram o Centro do Rio, marchando em memória a vereadora Marielle Franco e das vítimas da violência policial no Rio de Janeiro.
No sábado, dia 14 de julho, completaram-se 120 dias desde o assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes. Até então, a pergunta #QuemMatouMarielle? continua sem resposta. “Me parece que está chegando em um ponto de impunidade, de uma estatística, que a gente não vai deixar”, disse ao G1, Marinete da Silva, mãe de Marielle.
Mônica Cunha da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência se dirigiu a multidão reunida do lado de fora da histórica Igreja da Candelária. Mônica–cujo filho, Rafael da Silva, foi morto pela polícia em 2006 no bairro Riachuelo–disse aos manifestantes: “Vamos dizer não, vamos dizer basta ao genocídio, vamos dizer basta ao racismo. Nós não queremos isso para nossas vidas. Não foi para isso que nós nascemos. Não foi para isso que nós estamos aqui. Não devemos aceitar isso. Não devemos ficar calados”.
Devido ao fato de que a investigação sobre o assassinato de Marielle e Anderson se arrasta, a pressão internacional aumentou. Em 12 de junho, a Anistia Internacional criticou a falta de progresso na investigação, lançando um vídeo da família de Marielle pedindo por justiça, e demandando a criação de um mecanismo externo e independente para monitorar a investigação. Dias antes, a ativista de direitos humanos paquistanesa Malala Yousafzai visitou o Rio, no dia do seu aniversário, e prestou homenagem à Marielle, pintando a imagem de Marielle em uma parede na favela Tavares Bastos.
Enquanto vereadora, Marielle–mulher negra, bissexual nascida e criada nas favelas da Maré–defendeu os direitos humanos das populações marginalizadas do Rio, protestando contra o abuso policial e a violência patrocinada pelo Estado nas favelas. Na noite de quinta, os manifestantes deram continuidade ao legado de Marielle. Para a ativista Maria Dalva Correa da Silva, cujo filho Thiago foi morto pela polícia em 2003 na Chacina do Borel, o protesto foi questão de vida ou morte. “A gente tem que estar na resistência. A gente não quer helicóptero, a gente não quer caveirão na favela, a gente não quer fuzil apontado para a gente… O Estado está presente constantemente, mas é com a ponta do fuzil, e a bala pode roubar os nossos corpos.”
O Rio teve um aumento da presença de Estado desde que as Forças Armadas assumiram o controle da segurança como parte da intervenção militar. A intervenção, que está em vigor há cinco meses–completos em 16 de julho–pouco contribuiu para melhorar a segurança. De acordo com o Observatório da Intervenção, um centro de monitoramento organizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) na Universidade Cândido Mendes (UCAM), a violência de estado cresceu desde fevereiro. Entre fevereiro e maio de 2018, o Rio teve 444 pessoas mortas pela polícia, um aumento de 34% em comparação com os três meses anteriores à intervenção. O número de tiroteios entre fevereiro e maio aumentou 36% em relação aos quatro meses anteriores.
Bruna Silva, cujo filho Marcos Vinícius foi morto em uma operação conjunta das Forças Armadas e da Polícia Civil em 20 de junho, estava na linha de frente no protesto de quinta. Enquanto ela falava do lado de fora da prefeitura, sua filha esteve ao seu lado, segurando um cartaz onde podia-se ler: “A polícia não viu que meu irmão estava usando o uniforme da escola”.
Bruna, que falou com a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados em Brasília dias antes, lembrou que a polícia civil classificou a operação que matou seu filho como sendo de “grande êxito“. Ela agarrou a blusa de uniforme ensanguentada que seu filho estava usando naquele dia, perguntando: “Isso aqui é um sucesso?”