No Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, o dia 14 de março começou com flores, bandeiras e faixas lembrando Marielle Franco em diversos pontos da cidade. Foi o Amanhecer por Marielle e Anderson. Nos arcos da Lapa, um dos principais pontos turísticos da cidade, o rosto de Marielle amanheceu emoldurado por um arco-íris. E, diante da prisão dos executores do crime nessa mesma semana, a pergunta que permeou todo o dia foi: “Quem mandou matar Marielle?”
No bairro do Estácio, no cruzamento onde os tiros que tiraram a sua vida foram disparados, mães cujos filhos foram vítimas da violência de Estado liam poemas em memória de seus filhos e de Marielle. “Marielle era também um pouco nossa mãe”, disse uma delas.
O dia inteiro foi marcado por atividades. O vereador do PSOL, Tarcísio Motta, e os deputados Renata Souza, Mônica Francisco, Flávio Serafini e Glauber Braga, prestaram sua homenagem ocupando a frente da Alerj com 365 girassóis, um símbolo da campanha de Marielle, e uma faixa que reforçava a pergunta “Quem mandou matar Marielle?”
Em outra faixa no mesmo local, sustentada por mulheres em pernas-de-pau, lia-se “Marielle Gigante”.
De lá, os parlamentares caminharam até a Candelária, uma das igrejas mais importantes da cidade, palco do Comício da Candelária durante o movimento das Diretas Já mas também cenário da Chacina da Candelária, na qual a polícia matou oito moradores de rua, a maioria jovens, em 1993.
Ao final da celebração católica, praticantes de religiões afro-brasileiras tocaram tambores e fizeram sua própria homenagem na porta da igreja.
Paralelamente, em Santa Cruz, o ato Zona Oeste por Marielle, organizado pelo Coletivo Piracema, homenageou a vereadora em um local onde afirmam que “moram tantas mulheres pretas, periféricas e que viam em Marielle uma esperança por políticas públicas voltadas para as mais pobres”.
Durante o expediente da Alerj do dia, ocorreu ainda a primeira reunião do ano da Comissão de Direitos Humanos, presidida pela nova Deputada Estadual Renata Souza. Os encaminhamentos da reunião incluíram duas audiências públicas, uma para discutir as operações policiais em favelas e outra para debater chacinas na Baixada Fluminense.
Também foi aprovada na Alerj no dia a concessão do prêmio Dandara à Marielle Franco.
Na parte da tarde, houve na Cinelândia uma aula pública entitulada “Eu Sou Porque Nós Somos”, ministrada por Thula Pires, mulher preta de Asé, professora de Direito Constitucional e coordenadora do Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente da PUC-Rio. A importância da aula no dia 14 era ainda maior diante da defesa, empreendida por Marielle, da educação pública e da importância que ela conferia ao envolvimento de saberes, referenciais e indivíduos negros no processo de construção do conhecimento.
Ao mesmo tempo, acontecia no Centro de Artes da Maré o evento “Carolina, Abdias e Marielle: Vidas, Ancestralidade e Continuação“, celebrando o aniversário de nascimento de Carolina Maria de Jesus e Abdias do Nascimento e de morte de Marielle, três grandes referências intelectuais e negras.
A noite no Rio de Janeiro foi encerrada por um Ato Político e Cultural na Cinelândia, que contou com uma série de manifestações culturais em homenagem à Marielle, que iam desde rodas de jongo a perfomances de dança urbana e batalhas de poesias.
Em Outras Cidades do Brasil
Também aconteceram atos em outras cidades do Brasil. Em São Paulo, o ato começou na Avenida Paulista com uma aula pública sobre o legado de Marielle, ministrada por Jupiara Castro, do Núcleo Consciência Negra da USP, e pela Deputada Estadual Érica Malunguinho (PSOL), sobre raça e gênero, ao som de gritos de “vidas negras importam”. Também houve um ato inter-religioso em homenagem a Marielle e Anderson. A manifestação seguiu pela avenida debaixo de chuva.
Em Brasília, o ato capitaneado por parlamentares na Câmara dos Deputados, que cobrava respostas acerca dos mandantes do crime, foi surpreendido com um ato protagonizado por parlamentares do PSL contra os maus tratos a animais, que incluiu áudios com latidos de cachorros, interpretado por muitos como uma tentativa de desviar a atenção ou mesmo ofender a memória de Marielle.
Também houve ato nas ruas de Brasília, com distribuição de placas.
Em Porto Alegre, o ato reuniu milhares na chamada Esquina Democrática, um dos principais pontos de encontros e manifestações políticas na cidade.
Em Fortaleza, o ato ocorreu na Praça da Gentilândia.
Em Belém, a manifestação reunião milhares de pessoas em frente ao Mercado São Brás.
Em Belo Horizonte, ocorreu um ato no Viaduto de Santa Tereza.
Em Aracaju, o ato foi na frente da Câmara dos Vereadores.
Em Pelotas, o ato foi no Chafariz do Calçadão.
Ao Redor do Mundo
Diversas cidades ao redor do mundo também realizaram mobilizações em honra à Marielle e cobrando a resolução do crime. Em Melbourne, Austrália, cerca de 100 pessoas se reuniram em frente à Victorian State Library, incluindo brasileiros e ativistas locais, alguns dos quais haviam trabalhado com a Marielle no Rio. Dentre vídeos celebrando a vida de Marielle e cantos da música tema da Mangueira, os presentes declararam que sua morte não foi em vão e que ela é semente.
Em Berlim, os presentes demandavam, além de justiça para Marielle, a garantia do direito à terra dos pequenos produtores e indígenas, em face das ameaças que esses grupos vêm sofrendo no contexto político atual.
Em Lisboa, Portugal, cerca de 300 pessoas se reuniram na praça Luís de Camões, para homenagear Marielle.
No Porto, também em Portugal, a manifestação foi puxada pela associação Fibra, Frente de Imigrantes Brasileiros Antifascistas do Porto.
Em Coimbra, por sua vez, o ato ocorreu na Praça 8 de Maio e foi convocado pela associação Vozes no Mundo – Frente pela Democracia no Brasil.
Em Bruxelas, a fachada da Missão do Brasil Junto à União Europeia amanheceu com pichações que demandavam esclarecimento do envolvimento do Estado brasileiro com a morte de Marielle.
Em Buenos Aires, houve um ato em homenagem à Marielle no obelisco, ponto turístico mais famoso da cidade, e o Coletivo Passarinho e brasileiros que moram na cidade espalharam placas de Marielle pela cidade, além de mudarem o nome da estação de metrô “Rio de Janeiro” para “Rio de Janeiro-Marielle Franco”.
Em Montevidéu, Uruguai, houve ato em frente à Faculdade de Humanidades.
Em Londres, Inglaterra, o ato foi em frente à embaixada brasileira.
Houve também ato em Madri, Espanha.
E em Amsterdã, Holanda, com o apoio da Anistia Internacional.
Na Suíça, houve ato na capital Berna.
Uma faixa foi erguida por turistas brasileiros em Pisa, Itália.
Ainda na Itália, também houve ato em Bologna.
Nos Estados Unidos, houve um debate e homenagem à Marielle na Universidade de Nova York, um debate sobre feminismos negros em honra a Marielle na Universidade de Princeton, um debate sobre racismo estrutural e o legado de Marielle na universidade da California em Los Angeles (UCLA, onde no domingo aconteceu um ato em frente à prefeitura), além de uma vigília na Brown University.
Também houve ato na frente à Casa Branca em Washington D.C., capital americana.
Em Boston, aconteceram em Harvard na terça-feira, dia 12, uma aula entitulada “O Outro Lado da Violência: Marielle Franco e a Luta pela Democracia Brasileira” e, no dia 14, a aula “Racismo, Feminicídio, Homofobia: Uma Visão Histórica da Tragédia Brasileira”, na qual Marielle também foi lembrada.
Em Ottawa, aconteceu uma vigília também com o apoio da Anistia Internacional.
Em Paris, França, ocorreu uma vigília debaixo de chuva no monumento dos combatentes, que contou com a presença da escritora e intelectual negra Conceição Evaristo.