14 Anos da Chacina da Baixada: Organizações Preparam Semana em Memória do Ocorrido

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O menino Kauan Noslinde Pimenta Peixoto, de 12 anos, morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar (PM) na comunidade da Chatuba, em Mesquita, Baixada Fluminense, na noite do dia 16 de março desse ano. De acordo com familiares, os policiais do 20º BPM (Mesquita) entraram atirando no local. Os PMs alegaram, no entanto, que já encontraram o jovem baleado. O que foi pouco divulgado na mídia é que mesmo alvejado com três tiros de fuzil, os policiais algemaram o cadáver do menino. Segundo a mãe, Kauan queria ser policial militar.

Durante o enterro, a mãe, que estava sob o efeito de calmantes, passou mal e foi levada à UPA de Nilópolis. Após o enterro, moradores realizaram um protesto, fechando a Rua Almirante Batista, local do assassinato.

Juan Henrique Amorim dos Santos, por sua vez, foi assassinado em 18 de maio de 2018, alvejado por um PM à paisana, também em Mesquita, que levantou do bar em que estava e disparou 11 vezes, confundindo uma brincadeira com um assalto. Menos de dois meses antes, Juan havia sido confundido com um assaltante ao correr de uma troca de tiros e passado quase um mês no Degase antes de ser absolvido. Os amigos e membros da congregação evangélica que frequentava protestaram nas redes sociais, alegando a inocência do adolescente.

No dia de sua morte, seu amigo Carlos André Santos de Jesus, de 13 anos, com quem estava, também foi atingido pelo policial e morreu uma semana depois. Durante a semana em que Carlos ficou no hospital, sua família chegou a ser impedida de vê-lo, pois o adolescente foi posto sob custódia, devido a um suposto reconhecimento que não foi oficializado da viúva de um policial assassinado e sem que o Ministério Público houvesse emitido ofício. Na hora que o crime ocorreu, o pai estava com o filho em uma aula de futebol a quilômetros de distância. Carlos morreu sozinho no quarto de hospital, pois estava fora dos horários de visita, muito restrito para casos de custódia—limitam-se a meia hora, três vezes por semana.

Em 13 de fevereiro desse ano, quatro corpos foram encontrados em Adrianópolis, região rural de Nova Iguaçu e outros quatro, no mesmo dia, em Austin, Nova Iguaçu, dois abandonados embaixo de um viaduto e dois dentro de uma lixeira. Em 23 de março, em Engenheiro Pedreira, distrito de Japeri, foi assassinado mais um político, dessa vez o vereador Wendel Coelho—entre 2015 e 2016, foram 14 candidatos e políticos assassinados.

A imagem da Baixada Fluminense no imaginário nacional é de uma região marcada por crimes violentos e pela articulação dos criminosos com a política institucional e com o comércio local. Inserido nesse cotidiano que contribui para a construção de um estereótipo da Baixada Fluminense enquanto conjunto de territórios hostis, nada se compara, em termos de repercussão midiática e de número de vidas devastadas, com o episódio conhecido como a Chacina da Baixada, que em 2019 completa 14 anos.

No dia 31 março de 2005, policiais militares assassinaram 29 pessoas e feriram outras duas em diferentes lugares de Nova Iguaçu e Queimados, configurando a maior chacina da história do estado. A motivação envolvia a insatisfação dos policiais com o endurecimento da sua supervisão a partir da troca de comando de vários batalhões da região. Quatro de cinco PMs reunidos em um bar em Nova Iguaçu então deixaram o bar em um veículo e passaram atirando pelas ruas de Nova Iguaçu, executando 17 pessoas. Depois, pelas ruas de Queimados fizeram mais 12 vítimas.

Desde 2006, um ano após o acontecimento da tragédia, a ativista Luciene Silva, hoje representante da Rede de Mães e Familiares Vítimas da Violência de Estado da Baixada Fluminense, organiza uma caminhada pela Rodovia Presidente Dutra, percorrendo os locais onde os corpos foram encontrados. A cada parada, uma série de homenagens são realizadas. De uns anos para cá, mais instituições e movimentos têm se somado para prestar solidariedade nesse momento difícil. E não apenas manifestar lamento em relação às perdas, mas para se fazer um trabalho de incidência política junto ao poder público para que episódios dessa natureza não se repitam.

Em 2019, o Fórum Grita Baixada, em parceria com diversas organizações e coletivos, preparou um calendário de atividades, intitulado “Semana em Memória dos 14 anos da Chacina da Baixada: Nossa Juventude Negra Tem Voz“, para além da tradicional caminhada.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO (de 25 a 31 de março):

TENDA NOSSA JUVENTUDE NEGRA TEM VOZ

Representantes de várias instituições ficarão à disposição para se apresentarem e acolher qualquer manifestação popular contra a violência e a favor dos direitos humanos. Além de distribuição de materiais informativos, intervenções culturais e muito afeto.
Quando: 25 à 29 de março
Local: Praça Rui Barbosa, Centro de Nova Iguaçu
Horário: 16:00h às 20:00h

EXIBIÇÃO E DEBATE SOBRE O DOCUMENTÁRIO “NOSSOS MORTOS TÊM VOZ”

Filme produzido pela Quiprocó Filmes e apresentado por Fórum Grita Baixada e Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu. Relata a luta por justiça de mães e familiares de vítimas assassinadas pelas forças de segurança do Estado.
Quando: 26 março
Local: Auditório da Defensoria Pública Estadual. Av. Marechal Câmara, 314, Centro/RJ
Horário: 15:00h.

ATO INTERRELIGIOSO EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DO ESTADO NA BAIXADA FLUMINENSE

Quando: 29 de março
Local: Praça Rui Barbosa, Centro de Nova Iguaçu
Horário: 18:00h

AMANHECER: 14 ANOS DA CHACINA DA BAIXADA- NOSSA JUVENTUDE NEGRA TÊM VOZ
Quando: 30 de março
Locais:
• Nilópolis – Calçadão de Nilópolis (Av Mirandela, Centro), em frente ao MacDonald’s
• São João de Meriti (Praça da Matriz)
• Duque de Caxias (à confirmar)
Horário: 9:00h

ATO/CAMINHADA 14 ANOS DA CHACINA DA BAIXADA

Quando: 31 de março
Local: Concentração na Besouro Veículos (Rod. Pres. Dutra, 15380, próximo ao viaduto na Rua Dr. Barros Júnior, RJ).
Horário: 9:00h

Participam da construção coletiva dessa agenda: Rede de Mães e Familiares da Baixada Fluminense – RJRede de Comunidades e Movimento contra à Violência, Fórum Grita Baixada, Pré Vestibular + Nós, Casa Fluminense, Amanhecer Contra redução, Visão Mundial, Quiprocó Filmes, Levante da Juventude, FASE, Observatório de Favelas, Cheifa Jardim Gramacho – Central Humana de Educação, Ideias e Formação Alternativa, Comitê da Ação da Cidadania – Nova Iguaçu, Cevenb – Comissão Estadual da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil/OABRJ, Fórum de Juventudes RJ, Movimenta Caxias, Monitoramento Jovem de Políticas Públicas, Comunidade Batista em São Gonçalo, terreiro de candomblé Kwe Cejá Gbé de Nação Djeje Mahin, Golfinhos da Baixada, Centro de Direitos Humanos da Diocese de Nova Iguaçu, Comissão Pastoral da Terra, Youca Brasil e Redenção Baixada.

Matéria escrita por Fabio Leon e produzida por parceria entre RioOnWatch e o Fórum Grita Baixada. Fabio é jornalista e ativista dos direitos humanos e assessor de comunicação no Fórum Grita Baixada. O Fórum Grita Baixada é um fórum de pessoas e instituições articuladas em torno da Baixada Fluminense, tendo como foco o desenvolvimento de estratégias, o fomento de articulações e a incidência política no campo da segurança pública, entendida como elemento para a cidadania e efetivação do direito à cidade. Siga o Fórum Grita Baixada pelo Facebook aqui.