Matéria da série #OQueDizemAsRedes que traz pontos de vista publicados nas redes sociais, de moradores e ativistas de favela, sobre eventos e temas que surgem na sociedade.
Chuvas torrenciais e enchentes repentinas abalaram o Rio de Janeiro, cobrando um alto preço à cidade em geral, incluindo suas favelas. O aguaceiro que começou no início da noite de segunda-feira, 8 de abril, adentrou a madrugada e se prolongou até a noite de terça-feira, matou pelo menos dez pessoas e deixou várias outras desaparecidas.
Em meio a deslizamentos de terra, árvores caídas e estradas em ruínas, o Prefeito Marcelo Crivella declarou estado de emergência na noite de segunda-feira, fechando escolas e aconselhando os moradores a não deixarem suas casas. Com as sirenes de alerta de chuva soando por toda a cidade, muitos moradores da favela se viam em perigo. A precipitação catastrófica desta semana, a mais forte registrada no Rio em 22 anos, marca a segunda chuva extrema em pouco mais de dois meses, sendo que os deslizamentos de terra no início de fevereiro deixou sete mortos. Crivella, que disse a jornalistas na manhã de terça-feira que “essa era uma chuva completamente atípica“, culpou a falta de preparação da prefeitura em administrações anteriores.
Os meios de comunicação locais e internacionais foram rápidos em apontar, no entanto, que o Rio tem visto um declínio acentuado nos gastos públicos para sistemas de controle de enchentes desde que Crivella assumiu o cargo. De fato, a Secretaria Municipal de Conservação (SECONSERVA) não autorizou novos gastos entre janeiro e abril deste ano.
Globo breaks down spending by Rio city hall on urban drainage (by year in which works were carried out).
2016 – Paes – R$55.3mn
2017 – Crivella – R$33.5mn
2018 – Crivella – R$24.4mn
2019 – Crivella – R$0https://t.co/NBisBtRXh9 https://t.co/qX0qiQkYLD— David Biller (@DLBiller) April 9, 2019
Muitas favelas tiveram vidas, casas e propriedades destruídas. O RioOnWatch pesquisou relatos nas mídias sociais de ativistas de favela e moradores por toda a cidade. O que se segue não deve ser considerado uma lista que dê conta da dimensão dos estragos, já que as favelas da cidade viram danos e perdas extremas. Na parte inferior da página, você encontra meios para doar às comunidades afetadas.
Zona Sul
Babilônia
Um deslizamento de terra na Babilônia, na Zona Sul, com vista para a praia do Leme, matou as irmãs Doralice e Gerlaine Nascimento, o deslizamento de terra as soterrou dentro da própria casa. Após um esforço de busca e resgate, Gilson Cezar Cerqueira dos Santos—que parece ter tentado ajudar as irmãs Nascimento—também foi encontrado morto.
A sirene de alerta de chuva da Babilônia não foi ativada porque os níveis de chuva não atingiram o mínimo exigido de 45mm/hora. Crivella depois anunciou que a prefeitura revisaria seus protocolos de sirene.
Vidigal
De acordo com moradores do Vidigal, que tem vista para o Sheraton Hotel e é vizinha da praia do Leblon, a sirene local de alerta de chuva tocou durante todo o dia. A favela também viu sua via principal de acesso, a Avenida Niemeyer, ficar completamente intransitável.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1752097658224221&set=a.408091415958192&type=3
Cantagalo
A encosta entre a favela do Cantagalo e o bairro à beira-mar, Ipanema, viu os deslizamentos de terra impactarem edifícios residenciais de Ipanema.
https://www.instagram.com/p/BwCxgLpBeRm/?utm_source=ig_share_sheet&igshid=m7x7vh0ssmsa
Rocinha e Região ao Redor
Na tarde de terça-feira, a mídia local confirmou várias outras mortes, incluindo a de Guilherme Nascimento, morador do Parque da Cidade—uma pequena favela localizada ao lado da Rocinha, na Zona Sul do Rio. Os bombeiros encontraram o corpo de Guilherme preso debaixo de um carro no bairro vizinho da Gávea.
No Twitter, moradores da Rocinha postaram vídeos e fotos de enchentes ladeira abaixo.
A Rocinha sempre é castigada pela chuva devido a localização geográfica e… a falta de obras de saneamento básico. No vídeo, uma mulher está ilhada e correndo risco de ser levada pela água. pic.twitter.com/pwVCAlk4yh
— FAVELAS NA #COP26 (@eumichelsilva) April 8, 2019
“A Rocinha sempre é castigada pela chuva devido a localização geográfica e… a falta de obras de saneamento básico. No vídeo, uma mulher está ilhada e correndo risco de ser levada pela água”, escreveu o jornalista comunitário da Rocinha, Michel Silva.
De acordo com a prefeitura, várias favelas nas Zonas Sul e Oeste da cidade viram níveis de precipitação de quatro horas superarem as médias mensais. No entanto, as fortes chuvas não afetaram apenas as favelas, a cidade inteira foi duramente atingida. O bairro Jardim Botânico, que abriga o Jardim Botânico da cidade, bem como a sede da Globo, viu cerca de 150mm de chuva em menos de quatro horas, mais do que o previsto para todo o mês de abril. E uma avó e um neto, junto com o motorista de táxi que as conduzia, foram encontrados soterrados após a tempestade, em Botafogo, no coração da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Zona Oeste
Dado que de hora em hora os noticiários repetiam as cenas de carros submersos e ônibus encalhados no Jardim Botânico, os moradores de favelas, particularmente em outras regiões da cidade, lamentaram a cobertura desproporcional. “A cobertura que o jornalismo Globo está fazendo é só pra gente da Zona Sul. Guaratiba, Rio das Pedras, Campo Grande [na Zona Oeste] ainda sendo castigada pela chuva e não passa nada nessa tal “cobertura”. O abandono é em todos os sentidos”, escreveu um morador.
A cobertura que o jornalismo Globo está fazendo é só pra parte da Zona Sul. Guaratiba, Rio das Pedras, Campo Grande ainda sendo castigada pela chuva e não passa nada nessa tal "cobertura". O abandono é em todos os sentidos. #ChuvaRj
— João Felix (@joaofelixmi) April 9, 2019
Outros da Zona Oeste compartilhavam imagens de um hortifruti inundado na favela de Rio das Pedras, com a água da chuva na altura da cintura e prateleiras e bancadas inteiras arruinadas.
Situação triste e caótica em Rio das Pedras.#ChuvaRJ pic.twitter.com/IJ7hAOfKEw
— Gleriston Barbosa (@rodrigues_gb) April 9, 2019
Cidade de Deus
O coletivo de mídia Cdd Acontece, da Cidade de Deus, alertou sobre a continuidade das chuvas na tarde de terça-feira, já que “diversas partes [do bairro] estão alagadas”.
Antares
O ativista de Antares, Jessé Andarilho, postou um vídeo da casa de sua mãe, chamando moradores de toda a cidade para ajudar com doações.
https://www.instagram.com/p/BwCewpNHr2l/?utm_source=ig_web_copy_link
Muzema
A favela de Muzema viu rios se formarem nas ruas, derrubando carros e destruindo ruas de paralelepípedos.
#balancogeralrj comunidade da muzema Itanhangá pic.twitter.com/LCSLbohxmf
— Romario Ramos (@Gordin_90) April 9, 2019
Zona Norte
Indiana/Borel
Moradores de Indiana e Borel relataram que um projeto de construção inadequado por uma escola próxima havia interrompido o fluxo regular de água que saía do Parque Nacional da Tijuca. Deste modo, correntes irregulares, inundaram a comunidade, em vez de fluir para o vizinho Rio Maracanã.
https://twitter.com/peralttinhaofc/status/1115437762763685888
Manguinhos
O coletivo de mídia local Fala Manguinhos relatou enchentes generalizadas por toda a favela, escrevendo: “ATENÇÃO. Muitas casa já entraram água em Manguinhos, o Rio a muito tempo já transbordou. Moradores estão ilhados em suas casas. O medo é constante. Quem tiver mais informações mande nos comentários”.
https://www.facebook.com/falamanguinhos/photos/a.680745625295043/2117058188330439/?type=3&__xts__%5B0%5D=68.ARAtFg_kHxvS9DERN51UAczrfETVyE-BpzgpFv7mIVBiGpEZfWzZJTIwvnUelq6JiqPJJMKEi8hZaotCSV7aascW4gQStDFoFR2EHbNyEyP2pjfeLrhcjyqtOiLS8SgTBfWAF0mHZ1AOwol39Vse7XJgO7r3sXOlLRwXvEI1Ti3RT6zrJvzz106771EvwGmX4D2w7Gxm58Ezr65deIemmjdxwO3wo6oh_0TKyKVtawrzv2JaAHHK9YkNvbY1coZbMM8HAmXU35dSzLPpXT_q-v6QnPZKkGfF04NyTvOnnw–pTXK3ZzM1CkpC6F8C399kQzEkOQpoLvh39h7CfU80slm7w&__tn__=-R
Acari
Os membros do coletivo de mídia de Acari, Fala Akari, capturaram imagens de um caveirão da Polícia Militar encalhado entre prédios, escrevendo: “Ao invés da chegada Defesa Civil, o estado enviou o caveirão do 41º BMP”.
https://www.instagram.com/p/BwCkDAnAJPy/?utm_source=ig_share_sheet&igshid=kvl1qucm6uon
Grande Rio de Janeiro—Niterói
Morro do Cavalão
Em Niterói, a deputada federal Talíria Petrone (Partido Socialismo e Liberdade–PSOL) compartilhou imagens de um deslizamento de terra e desmoronamento de casas na favela Cavalão. Ela escreveu “vídeo que recebemos do Morro do Cavalão em Niterói. Temos informações de que uma pessoa foi soterrada, mas socorrida e agora está no Hospital Azevedo Lima. Pedimos para quem mora em área de risco procure um abrigo seguro. Exigimos que a prefeitura garanta a segurança das pessoas”.
Terça à noite, foi relatado um segundo deslizamento de terra no Cavalão. Ninguém ficou ferido.
Vídeo que recebemos do Morro do Cavalão, em Niterói. Temos informação de que uma pessoa foi soterrada, mas socorrida e agora está no Hospital Azevedo Lima. Pedimos para quem mora em área de risco procure um abrigo seguro. Exigimos que a Prefeitura garanta a segurança das pessoas. pic.twitter.com/SL6xoUhijK
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) April 9, 2019
Se você mora fora do Rio de Janeiro e quer apoiar as vítimas, você pode doar para a ONG Comunidades Catalisadoras, a ONG brasileira e estadunidense USA 501 [c] [3] que publica o RioOnWatch, aqui, e 100% da sua contribuição será repassada para grupos comunitários, listados abaixo, que estão organizando doações. Por favor, escreva “2019 Rains” na categoria “earmark”. Ou simplesmente envie uma mensagem para donate@catcomm.org informando que sua contribuição está destinada a “chuvas de 2019”.
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES NA BABILÔNIA
📍 Ponto do mototáxi – Ladeira Ari Barroso, 66
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES NA ROCINHA
📍Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem – Estrada da Gávea, 445
📍Primeira Igreja Batista da Rocinha – Estrada da Gávea, 436
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES NO HORTO
📍Igreja Batista do Horto – Rua Pacheco Leão, 1306
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES NA CIDADE DE DEUS
📍Igreja Metodista Wesleyana (em frente da Escola Municipal Alphonsus de Guimarães) – Rua Carmelo, 19
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES EM SANTA CRUZ
📍Porão da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição – Praça Dom Romualdo, 11
📍Centro Espírita Lar de Francisca (perto do McDonald’s) – Rua General Olímpio, 52B
📍Paróquia Jesus Salvador do Mundo – Rua Pitombeiras, 554
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES EM MANGUINHOS
📍Fiocruz (Centro de Saúde Escola CSE Germano Sinval Farias, Instituto Nacional de Infectologia, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz) – Avenida Brasil, 4365
📍Associação de Moradores de Varginha
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES NA MARE
📍Pavilhão Expansão da Fiocruz – Avenida Brasil, 4036
PONTO DE COLETA DE DOAÇÕES FORA DE FAVELAS
📍Ordem dos Advogados do Brasil (OAB–RJ) – Avenida Marechal Câmara, 150 (Centro)
📍CAARJ – Avenida Marechal Câmara, 210 (Centro)
📍Centro Cultural da Ação da Cidadania – Avenida Barão de Tefé, 75 (Saúde)
📍Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) – Avenida Rui Barbosa, 716 (Flamengo)
📍Fundação para a Infância e Adolescência – Rua Voluntários da Pátria, 120 (Botafogo)
📍Complexo Tecnológico de Medicamentos (CTM/Fiocruz) – Avenida Comandante Guaranys, 447 (Jacarepaguá)
📍Centro de Referência Professor Hélio Fraga (Fiocruz) – Estrada de Curicica, 2000 (Jacarepaguá)
📍Universidade Federal Fluminense (UFF) – Rua Miguel de Frias, 9 (Icaraí, Niterói)
📍Shopping centers: Nova América, Madureira, Rio Design Barra, Rio Design Leblon, Botafogo Praia, Boulevard e Nova Iguaçu