No dia 8 de maio, foi realizada a estreia do filme Mormaço no Espaço Net Rio Botafogo. O longa-metragem, dirigido por Marina Meliande com atuações de Marina Provenzzano, Sandra Maria Teixeira, Pedro Gracindo e roteiro de Felipe Bragança e Marina Meliande, mostra o processo de remoções na Vila Autódromo no contexto do período pré-Olímpico no Rio. Misturando ficção e realidade, Marina transporta o espectador a um momento complexo na cidade.
O título da obra “Mormaço” traz a ideia de um tempo quente, extremamente abafado que sufoca as pessoas. A palavra “mormaço” é utilizada popularmente para descrever um clima que incomoda. Nesse sentido, o título é uma metáfora das mudanças e reformas urbanísticas ocasionadas pelas Olimpíadas, que foram realizadas de forma violenta física e simbolicamente, e que sufocaram muitos cidadãos do Rio. O filme é contado sob essa lógica e através da visão da personagem Ana. Ela é uma defensora pública carioca que além de experienciar a perda do seu apartamento em virtude da construção de um hotel de luxo na Zona Sul, trabalha ao lado de moradores da Vila Autódromo para evitar as remoções e em defesa do direito, destes moradores, de ficarem nas suas casas.
A Vila Autódromo nasceu na década dos 1960 na Zona Oeste, como lar de uma comunidade de pescadores. Ela seguiu crescendo até se transformar em uma comunidade que acolhia aproximadamente 583 famílias e lhes proporcionava um ambiente de tranquilidade e sossego, apesar das dificuldades. A Vila foi uma das vítimas mais emblemáticas do projeto de urbanismo que a Prefeitura de Rio levou a cabo enquanto construía instalações esportivas como o Parque Olímpico no terreno do antigo autódromo. As famílias removidas foram vítimas de fortes pressões por funcionários da prefeitura que ofereciam reassentamentos e indenizações aos moradores. As pressões aumentaram cada vez mais com a proximidade das Olimpíadas, assim como a resistência de famílias que queriam ficar na comunidade. A resposta do Estado frente à vontade dos moradores de permanecer se intensificou, o que provocou vários protestos ao redor da cidade, enfrentamentos entre manifestantes com o poder público e atos de brutalidade por parte da polícia.
Cenas reais desses momentos aparecem no filme Mormaço. As imagens dão a impressão de um contexto arquetípico de guerra, com momentos de prolongada desolação, ilustrando o drama que passavam as famílias restantes da comunidade, e como resultado final as casas pareciam bombardeadas. Nesse contexto, Ana começa a sofrer de uma doença misteriosa na pele que começa com pequenas manchas. À medida que o tempo vai passando, a situação vai ficando pior para a protagonista da história, para os moradores da Vila e em geral para a cidade inteira. Nesse sentido o corpo de Ana é o catalisador do fluxo de energias e conflitos que aparecem na trama.
Outra personagem principal do filme é Domingas, interpretada por Sandra Maria de Souza, uma das moradoras da Vila que, através da resistência, conseguiu permanecer entre as vinte famílias que conquistaram a permanência no território da comunidade. Além de moradora e ativista da Vila Autódromo, Sandra também tem uma formação básica de atriz. Ela já se tornou um símbolo de resistência e um exemplo para as lutas contra as remoções no Rio de Janeiro. Com isso, seu papel em Mormaço está marcado por um enfrentamento direto aos que impõem seu poderio injustamente sobre ela e seus companheiros na luta contra a remoção.
Mormaço abre as portas de maneira inovadora a uma reflexão sobre as políticas sociais exercidas pelo governo e como é que elas afetam as pessoas misturando denuncia com ficção. Além disso, traz ao debate o corpo da mulher e da terra como espaços de constante exploração indiscriminada e inconsciente para suprir as vontades de outros. Deste modo, mulher e território são frequentemente ressignificados e transformados para responder à busca frenética do lucro, o que é próprio das sociedades financeirizadas. Aliás, Marina consegue transmitir essas mensagens de maneira poética e fantástica.
O filme dá a visibilidade necessária a essa questão e revive as discussões sobre os legados Olímpicos através da história do desmonte forçado da Vila Autódromo. O filme celebra o lema do Museu das Remoções—criado pelo movimento de resistência e situado na Vila como espaço de resgate histórico do que aconteceu—“Memória Não Se Remove”.
Veja abaixo onde você pode assistir o filme Mormaço em vários estados:
Brasília – DF
Cine Brasília – 16:00 (exceto 4a) | 4a 16:00, 18:00
Cine Cultura Liberty Mall – 16:30, 18:30
João Pessoa – PB
Cine Banguê – Dom 16:00 | 4a 19:00
Palmas – TO
Cine Cultura Palmas – Sab 20:00
São Luís – MA
Cine Lume – 20:00 | Sab, Dom 15:20 e 20:00
Fortaleza – CE
Cinema Do Dragão (Fundação) – 14:00 (exceto 5a, 2a) | 5a 16:00
Niterói – RJ
Reserva Cultural RJ – 14:00
Porto Alegre – RS
Cine Bancários – 17:00
Recife – PE
Derby – Cinema Da Fundação – Dom 15:55 | 3a 18:05
São Luiz – 5a 15:50 | 6a e 4a 17:40
Rio de Janeiro – RJ
Cine Star Laura Alvim – 20:15
Estação Net Botafogo – 17:20
São Paulo – SP
Espaço Itaú Cinema (Frei Caneca) – 22:00
Reserva Cultural SP – 13:00 (exceto 2a)