Óbitos Desaparecem do Painel Rio Covid da Prefeitura, Enquanto Estado Tem Recorde de Mortes

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Esta é a nossa mais recente matéria sobre o novo coronavírus e seus impactos sobre as favelas.

O Painel Rio Covid-19 não tem mais os registros de mortes pela Covid-19 na capital carioca, desde 21 de maio. Segundo o Prefeito Marcelo Crivella, o apagão de dados é decorrente da busca de uma nova metodologia de classificação de mortes por Covid-19, que vem sendo elaborada pelo Comitê Científico da Prefeitura. “Estamos estabelecendo critérios para verificar a causa dos óbitos, para que seja criteriosa”, anunciou o prefeito, em uma coletiva para a imprensa no dia 22 de maio. 

Em Consonância com o Discurso do Presidente

O apagão de dados dos óbitos pela Covid-19 na cidade do Rio aconteceu um dia após Crivella se encontrar com o presidente da República Jair Bolsonaro, em Brasília. No começo da pandemia, o Prefeito do Rio se mostrou alinhado ao governador Wilson Witzel, na decisão de impor medidas restritivas para combater a pandemia da Covid-19 no Rio de Janeiro.

Porém, após um almoço com Bolsonaro no dia 21, Crivella, em coletiva de imprensa no Planalto, disse que estuda a reabertura do comércio e serviços na cidade. “Amanhã eu estou submetendo ao meu conselho científico todo o plano que elaborei com os empresários de todos os setores que tiveram paralisação”. No mesmo dia, o Painel Rio Covid-19 parou de registrar o número de óbitos da pandemia no Rio de Janeiro. 

Em reunião ministerial de 22 de abril, divulgada em vídeo à imprensa na íntegra com aprovação do Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro pede abertamente aos ministros e a outros integrantes de governo que destacasse as comorbidades de pessoas mortas por Covid-19 ao invés de contabilizar apenas como óbito por coronavírus. 

Para o presidente, esse “detalhe” na divulgação da informação fará diferença na sensação de segurança e medo da população relacionado a pandemia de coronavírus, que já matou mais de 23.000 pessoas no país. Com a redução do medo, o governo passaria uma imagem de controle da crise sanitária global no Brasil, pressionando o fim de medidas de quarentena decretadas por estados e prefeituras no país que vem afetando a economia. 

Durante a reunião, logo após uma breve fala do então ministro da Saúde, Nelson Teich, Bolsonaro contou ter ligado para o então diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Adriano Marcos Furtado, conforme mostra o laudo nº 1242/2020 do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal. Na página 33, temos o seguinte diálogo:

Bolsonaro: “Chegou ao meu conhecimento, uma nota, que era dele [Diretor-Geral da Polícia Rodoviária Federal], sobre o passamento de um patrulheiro. E ele enfatizou que era Covid-19. Eu liguei pra ele. ‘Por favor, o que mais? Ele era obeso, era isso, era’ … Bem, tinha como é que é?”.

O Ministro-chefe da Casa Civil, Braga Netto, responde: “Como… comorbidades”.

Bolsonaro, então, conclui: “Comorbidades. Mas ali na nota dele só saiu Covid-19. Então vamos alertar a quem de direito, ao respectivo ministério, pode botar Covid-19, mas bota também tinha fibrose … montão de coisa, eu não entendo desse negócio não. Tinha um montão de coisa lá, pra exatamente não levar o medo à população. Porque a gente olha, morreu um sargento do exército, por exemplo. A princípio é um cara que tá bem de saúde, né? Um policial federal, ? Seja lá o que for, e isso daí não pode acontecer. Então a gente pede esse cuidado com o colegas, ? A quem de direito, ao respectivo ministério, que tem alguém encarregado disso, né? Pra tomar esse devido cuidado pra não levar mais medo ainda pra população”.

Segundo O Globo, no anúncio do Prefeito Marcello Crivella à impressa, no dia 22 de maio, o prefeito justificou a retirada dos óbitos do Painel Rio Covid-19 usando o exemplo de um paciente idoso, em tratamento contra o câncer, que contraiu o novo coronavírus no hospital e morreu. “Os médicos divergem se ele morreu com ou de Covid-19”, disse o prefeito.

O Painel Rio Covid-19 passou a mostrar apenas informações sobre casos confirmados de infecções pelo novo coronavírus na capital. Desta forma, a população passa a não ter acesso a dados sobre o avanço do vírus, no caso os óbitos, em cada bairro e o dia em que eles foram registrados.

Conforme noticiado pelo jornal O Globo, não é nenhuma novidade que a plataforma de dados da prefeitura sofra modificações. Porém, nas outras ocasiões, as alterações foram notificadas em uma seção no próprio portal, constando “registros de adaptações feitas em 30 e 31 de março e depois em 15 de abril e 15 de maio”, informando o embasamento para cada modificação feita. A exclusão de dados sobre óbitos, agora, não é mencionada nem justificada.

Crivella apenas informou em coletiva, reportada pelo G1 que: “busca informações com outras prefeituras e Ministério da Saúde para fazer atualização” do painel.

Outras Fontes de Dados

Em contrapartida, no dia 22 de maio, a Secretaria de Estado de Saúde divulgou um novo balanço dos casos e mortes do novo coronavírus no Rio de Janeiro, revelando que o estado teve um recorde de mortes em 24 horas e que o a Cidade do Rio já contabilizava 2.520, em 19 de maio.

Já o jornal Voz das Comunidades, que produz o Painel Covid-19 Nas Favelas, a partir do dia 10 de abril, devido a instabilidade de dados disponibilizados pela prefeitura, passou a realizar um cruzamento dos registros de óbitos e casos confirmados do Painel Rio Covid-19, com dados do Governo do Estado do Rio de Janeiro e das Clínicas da Família das favelas que o jornal tem acesso.

De acordo com o Painel Covid-19 Nas Favelas, foram registrados, em 25 de maio, 842 moradores infectados e 202 óbitos nas favelas do Rio. De acordo com o levantamento do Voz das Comunidades, 15 novos casos foram confirmados nas favelas do Rio e houve um óbito nas últimas 24h. O único óbito registrado hoje pelo painel vem da Clínica da Família da Rocinha.

Em levantamento feito pelo RioOnWatch, no dia 13 de maio, a partir dos painéis disponibilizados pelas Clínicas da Família da Maré, Complexo do Alemão e Rocinha, ao menos 31 favelas registravam casos de Covid-19 subnotificados pelo Painel Rio Covid-19. De la para cá ja confirmamos mais três comunidades em Jacarepaguá (Monte Castelo, Francisco de Assis, e a comunidade Antiga Creche na Colônia Juliano Moreira), para um total de 34.

Afrouxamento de Medidas Preventivas no Rio

Já nesta segunda-feira, 25 de maio, o prefeito anunciou que publicará um decreto estabelecendo medidas para reabertura e funcionamento para templos e igrejas. Enquanto o Painel Rio oculta o número de mortes por Covid-19 com o pretexto de revisão de metodologia, medidas preventivas como o distanciamento físico são afrouxadas por Crivella.

Segundo O Globo o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), Sylvio Provenzano, e o professor da UFRJ Celso Ramos explicaram que o Comitê Científico, convocado pela própria prefeitura, recomendou a continuidade das proibições de eventos que causam aglomerações e que o decreto contradiz o comitê, deixando os próprios integrantes do comitê surpresos.


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