Por Trás dos Números do Coronavírus nas Favelas: Painel Unificador Realizará 2a Coletiva

Por Trás dos Números do Coronavírus nas Favelas: O Tamanho da Tragédia

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Painel Unificador Covid-19 nas Favelas, iniciativa que reúne coletivos periféricos e sociedade civil, realiza segunda coletiva de imprensa nesta quinta-feira, 13 de agosto, às 14h.

11 de agosto de 2020—Nos mais de 150 dias corridos desde a chegada da Covid-19 no Brasil, a doença matou mais de 101.000 pessoas até segunda-feira (10/8), segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias de saúde dos Estados. Com isso, a pandemia da Covid-19 já se trata da maior tragédia sanitária na história do país. Porém, estima-se que o número seja muito mais alto já que o Brasil só conta casos confirmados por teste e o número de testes é drasticamente insuficiente sendo mais frequente em casos graves.

No estado do Rio de Janeiro, segundo o mesmo levantamento, 14.080 mortes foram registradas, sendo 8.612 delas dentro da capital. Porém, novamente, como só casos confirmados na certidão de óbito estão sendo contados e comorbidades estão sendo notificadas como caso de morte em um número desconhecido de casos—ambos procedimentos que vão contra a recomendação da Organização Mundial da Saúde—o número real deverá ser muito mais alto. Além destes fatos somam-se os excessos de óbitos no município do Rio de Janeiro com outras classificações diferentes da Covid-19 descritos na nota técnica da Fiocruz do Monitora Covid.

De forma geral, é difícil saber a magnitude que a pandemia já chegou no Brasil. E nos espaços mais vulnerabilizados e negligenciados da nossa sociedade, que contam com testagem ainda mais baixa, serviços e oportunidade de isolamento precários: nossas favelas? É ainda mais difícil de saber.

O último levantamento realizado pelo Painel Unificador Covid-19 nas Favelas (11/8), que acompanha até agora 41 favelas e complexos da Região Metropolitana do Rio (154 favelas individuais), informa que dentre estas mortes, no mínimo 1.402* são de moradores de favelas. De acordo com um dos parceiros do painel, o Voz das Comunidades, “O número ultrapassa estados como Mato Grosso do Sul com 509 óbitos, Amapá com 602, Tocantins com 547, Roraima com 547 e Acre com 561 mortos por Covid-19”. Estes dados podem ser acompanhados pela plataforma Monitora Covid, da Fiocruz.

No entanto, este número corresponde somente às favelas para as quais o coletivo que gera o Painel Unificador captou dados até hoje (observação: no Rio há mais de 1000 favelas). E os dados para cada favela representada no Painel Unificador são alimentados da melhor fonte identificada até o momento para tal comunidade, que muitas vezes são fontes limitadas em si (ou por dependerem de dados públicos ou de levantamentos por voluntários). Até hoje, as favelas com contagem mais precisa são as que fazem parte das 16 favelas do Conjunto de Favelas da Maré e cinco comunidades de Itaguaí. É por isso que os dados destas comunidades são os mais altos no Painel Unificador, mas podem haver favelas com um número mais elevado, para os quais ainda não possuímos fontes.

A Redes da Maré, organização premiada com alcance significativo nas 16 favelas do Conjunto de Favelas da Maré, tem monitorado casos de forma bastante robusta. Com isso, é interessante realizar comparações com base nestes dados. Se utilizássemos os dados coletados na Maré como base estimada para favelas de modo geral, por exemplo, chegaríamos a uma estimativa de 15.000 moradores infectados por coronavírus em favelas da capital do estado, o que pode ser um número mais próximo à realidade. Este número corresponderia à 20% dos casos de Covid-19 na capital.

Enquanto isso, o A.M.I.G.A.S. (Associação de Mulheres de Itaguaí – Guerreiras e Articuladoras Sociais) vem realizando um levantamento intenso e detalhado em cinco comunidades do município de Itaguaí desde março, com isso alcançando uma visão mais precisa do impacto real da doença nestes territórios (Engenho, Sem Terra, Morro do Carvão, Chaperó, e Brisamar). Combinadas, estas cinco favelas contém 2.671 casos e 560 mortes.

Este tipo de contagem e estimativa se tornou essencial para começarmos a ter uma dimensão da situação, pois desde o dia 14 de maio, a Prefeitura do Rio de Janeiro deixou de informar as mortes por coronavírus em favelas no boletim oficial e na plataforma da Prefeitura. O número de mortes oficiais pela Covid-19 nas favelas do Rio de Janeiro de fato é uma incógnita. Mas, uma certeza existe: as favelas do Rio de Janeiro vivem uma pandemia dentro da pandemia. A pandemia é mundial mas a capacidade de enfrentamento é desigual entre os países, estados, municípios e dentro dos municípios como é possível observar no Rio de Janeiro.

Por Trás dos Números do Coronavírus nas Favelas

Se os dados e todas as tentativas de monitoramento não conseguem mensurar a realidade da Covid-19 nas favelas, os relatos de lideranças, comunicadores comunitários e moradores se tornam essenciais para se ter uma noção do tamanho desta tragédia.

É por isso que na sua segunda coletiva de imprensa, os parceiros por trás do Painel Unificador Covid-19 nas Favelas irão focar para além dos dados coletados neste primeiro mês de monitoramento.

O foco agora será em ouvir dos parceiros envolvidos no projeto, como está a pandemia nas suas comunidades neste momento atual, um momento em que se fala que o Rio está com tendência de queda nas mortes por Covid-19, enquanto o negacionismo da doença talvez esteja no seu ápice.

Importante ressaltar que o negacionismo não ocorre de forma espontânea, tampouco se trata de uma estratégia política, conforme observado na postura do governo federal e de alguns prefeitos no país. Mas sim, devido ao medo do desemprego. Além do preconceito devido ao CEP de moradia (ou de sua ausência), no contexto da pandemia, trabalhadores e trabalhadoras moradores de favelas também têm sido estigmatizados devido a Covid-19, sobretudo os que residem em favelas com alta concentração de mortes e/ou casos confirmados. Conforme ocorreu com trabalhadores da favela de Rio das Pedras, após reportagem que apontou, erroneamente, a Rua Amparo como o epicentro de contaminação naquela favela.

Qual é a dor, a cor, a classe social desta pandemia? Com a retomada das atividades econômicas, quem se coloca em risco no transporte público? Quais iniciativas estão sendo realizadas para combater a pandemia neste momento de negacionismo? Quais novos obstáculos têm surgido na prevenção e mitigação da Covid-19 no último mês? Entre os temas a serem abordados nesta coletiva de imprensa, será o crescente estigma associado a pessoa que já teve ou tem sintomas da doença, além da diminuição de doações para o enfrentamento da crise apontados por coletivos na linha de frente e o negacionismo crescente entre moradores e sociedade.

Atualmente, crescem os relatos dos que escondem a doença temendo perder não só renda, emprego e teto, mas também laços sociais, com o crescimento da estigmatização de quem tem Covid-19 nas favelas.

Para esta coletiva, estão confirmados depoimentos dos seguintes integrantes do Painel:

  1. Anna Paula Sales – Associação de Mulheres de Itaguaí A.M.I.G.A.S. (Itaguaí)
  2. Rafael Oliveira – Coletivo Favela Vertical (Gardênia Azul)
  3. Melissa Cannabrava – Voz das Comunidades (Complexo do Alemão)
  4. Douglas Heliodoro – Coletivo Conexões Periféricas (Rio das Pedras)
  5. Maria Cristina – moradora que sobreviveu Covid-19 (Acari)
  6. Dani Moura – Redes da Maré (Maré)
  7. Nill Santos – AMAC (Duque de Caxias)
  8. Renata Gracie – ICICT/Fiocruz
  9. Seimour Souza – LabJaca (Jacarezinho)
  10. Tatiana Lima – RioOnWatch
  11. Theresa Williamson – Comunidades Catalisadoras (ComCat)

*Dado corrigido em 12 de agosto de 2020 (havia um atraso na atualização do painel que levou ao dado anterior de 1.276 equivocado).

SERVIÇO: Segunda Coletiva de Imprensa

QUANDO: Quinta-feira, 13 de agosto de 2020, das 14 às 15 horas
ONDE: No Zoom. Inscrições aqui.

CRÉDITOS

Realização: Comunidades Catalisadoras (ComCat)

Parceiros: A.M.I.G.A.S. | Centro Social Fusão | Coletivo Conexões Periféricas-RP | Covid por CEP | Data_Labe | Fala Roça | Favela Vertical | Fiocruz | Fórum Grita Baixada | Frente de Mobilização da Maré | LabJaca | Mulheres de Frente | Observatório de Favelas | PerifaConnection | Redes da Maré | SOS Providência | TETO | Voz das Comunidades

Desenvolvimento e atualizações: Esri – Environmental Systems Research Institute
Dados Demográficos: Prefeitura Rio e IBGE 2010
Tecnologia de integração: Integromat

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CONTATOS

Painel Unificador/ComCat: covid19nasfavelas@comcat.org +55-21-991976444
Redes da Maré: +55-21-98886-0892 Daniele Moura
Internacional/inglês: press@catcomm.org +55-21-991976444

Comunidades Catalisadoras é a associação sem fins lucrativos que publica o RioOnWatch.


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