Vila Autódromo, Marcas da Vida

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O ensaio fotográfico “Vila Autódromo, Marcas da Vida”, idealizado pelo fotógrafo JV Santos em parceria com o coletivo Entre Sem Bater, é fruto de um trabalho de conclusão de curso da Escola de Fotógrafos Populares, criada pelo fotógrafo documentarista João Roberto Ripper com o apoio do Observatório de Favelas. Este é um recorte da memória de uma família que mora na Vila Autódromo. A comunidade está sofrendo com a ameaça da remoção, com a data anunciada para o primeiro semestre de 2014. Essa é a história da “Flamília” Santos Rocha, do Seu Carlos e da Dona Evanilde.

Memórias

Eles se conhecem ha 20 anos. Na época Carlos da Silva Rocha era pescador. “Já nem lembro o dia, a hora e o momento certo. Eu sei que disse para uma amiga nossa: gostei daquela loira lá, quero conhecer ela, pronto e acabou (risos)”, lembra-se como pode Seu Carlos. Maria Evanilde Lopes dos Santos veio para o Rio quando tinha 10 anos. “Minha mãe foi a primeira a vir do Ceará para o Rio de Janeiro, aos poucos ela foi mandando buscar os filhos”, nos conta a “Xuxa”, como é conhecida pelos vizinhos.

Os Filhos

Dona Evanilde se recorda a dificuldade que foi ao conhecer Seu Carlos: “Quando conheci o Carlos, ele me engravidou, mas não tinha para onde me levar. Então fomos morar na antiga Área dos Pescadores, aqui próximo. Foi quando fomos removidos pela primeira vez. Eu, grávida da Fabricia com 7 para 8 meses, e o Eduardo Paes queria derrubar o nosso barraco comigo dentro?! Aí eu disse que não saia de dentro da minha casa!” relata com revolta Evanilde. Seu Carlos lembra com tristeza, “Ela estava grávida da nossa primeira filha e ele mandou o cara lá jogar a máquina em cima dela”.

A Flamília

Mesmo assim continuaram construindo sua família e lutando para exercer o direito à moradia, “Uma vizinha me disse que esse terreno aqui na Vila Autódromo estava abandonado fazia tempo, então eu resolvi ocupar. Isso faz quase 20 anos já”, resgata da memória a guerreira Evanilde. A família foi crescendo. “Ela já tinha uma filha de outro relacionamento, a Fabiana. Como somos apaixonados pelo Flamengo conversamos e decidimos manter o F. Depois veio Fabrícia, Fabiano, Fábio, Fabíola, Franciele, Fágner e Franciele”, conta orgulhoso Seu Carlos. O nascimento de Franciele é mais uma memória de luta na vida dessa família. “A Franciele nasceu na minha mão, em frente ao Hospital da Curicica. Evanilde dizia que a criança estava nascendo, os enfermeiros não tinham vaga. Ela não aguentava mais e eu disse: tira a calcinha e deixar nascer. Foi só tirar e a menina nasceu. Ainda desenrolei três voltas do cordão umbilical que estava no pescoço”, é como descreve Seu Carlos, que não gosta de lembrar o falecimento de seu filho Fagner, vítima de uma infecção urinária, decorrente de um erro em um atendimento médico na mesma unidade hospitalar.

Material Reciclável

Diante tantas lutas, Dona Evanilde, que assim como seu marido, trabalha coletando material reciclável para manter sua família, sente-se vitoriosa por ter um lugar para morar: “Aqui, por mais que a obra da minha casa não esteja acabada, é meu. Em outro lugar não teria como fazer minha obra, catar meu ferro velho, viver minha vida normal”.

A Segunda Geração

Hoje a neta é a alegria da casa “Aline é uma vitória, após tantos trancos e barrancos. O amor de nossas vidas”, conta a vitoriosa Evanilde.

Mães e Filhos

Essa é a história da Família Santos Rocha, mas poderia ser de tantas outras, entre as aproximadamente 8 mil famílias que irão perder suas moradias, memórias e laços afetivos com seus próximos e com o lugar onde vivem em nome das obras de preparação do Rio de Janeiro para a Copa do Mundo de 2014 e Olímpiadas de 2016.

Seu Carlos

Seu Carlos corta o cabelo em frente de sua casa.

Veja Slideshow completo no Flickr aqui.

Veja a Vídeo-montagem por JV Santos aqui:

Vila Autódromo, Marcas da Vida – Família Santos Rocha from JV Santos on Vimeo.