Quinta-feira dia 20 de junho, um protesto histórico juntou 300 mil cariocas na Avenida Presidente Vargas, caminhando da Candelária até a Prefeitura. Ao mesmo tempo, pelo menos 700 mil outros brasileiros espalhados pelo país protestavam nas ruas de 75 diferentes cidades. Ou seja, um em cada 200 brasileiros foi para as ruas expressar sua indignação.
As manifestações, que continuam crescendo e se espalhando pelo Brasil, já não são mais somente pelo aumento de 20 centavos nas passagens dos ônibus, como o estudante Rodnei Pascoal, de 23 anos e morador da Taquara, disse: “Eu acho que já era a hora do povo se manifestar contra as injustiças que nós sofremos…não é só pelos 20 centavos. Os vinte centavos foi a gota d’ água”.
Embora a presença deles tenha sido pouco relatada, moradores de favelas do Rio de Janeiro têm participado ativamente nas manifestações.
Wirson, um morador do Cantagalo de 61 anos, disse, “a manifestação é importante, é a oportunidade que nós temos de mostrar e anunciar. Quem está satisfeito fica em casa e quem não está vem para rua. Vamos lutar por nós. Pelo que nós queremos. A cidade que nós queremos, o país que nós queremos. Não é o que os outros querem, mas o que nós queremos: trabalho, nosso direito, direito de cidadania de verdade”. As palavras de Wirson demonstram o sentimento geral sobre as manifestações de quinta-feira. Os manifestantes erguiam placas que mostravam vários problemas sociais: saúde, educação, PEC 37, remoções forçadas, despesas exorbitantes com a Copa do Mundo, salários baixos e o aumento do custo de vida. Caminhando com os 300 mil no Rio, sentia-se a forte indignação, o sentimento que o povo sofre pelo fracasso do governo de fornecer as necessidades básicas, apesar do recente sucesso econômico da nação.
Quinta-feira à noite, antes da principal manifestação às 17h, milhares se juntaram no Largo São Francisco, no Centro do Rio. A atmosfera era de festa–música ao vivo, pessoas cantando e fazendo cartazes–criando um clima de esperança. Um grupo grande de líderes comunitários se encontrou para se preparar para o protesto. Todos com quem falei naquela noite tinham um pedido consistente: um governo que trabalhe para seu povo.
Maurício Braga, de 60 anos, membro do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, disse: “Com certeza se tivessem ouvido as vozes da população, com certeza não teríamos a Copa do Mundo no Brasil, porque está claro hoje que a realização dessas obras está saindo e vai sair muito caro para a sociedade Brasileira”. Projetos como as linhas de BRT, o Porto Maravilha e o Parque Olímpico custam mais do que só dinheiro à sociedade brasileira, deslocando milhares de famílias das comunidades do Rio de Janeiro.
Ao ser interrogado sobre as favelas e os protestos, Maurício disse: “Esse movimento, que na verdade teve início com a juventude, na luta do passe livre, despertou e acabou articulando todos os segmentos e organizações sociais que lutam também”. Enquanto muitos descrevem os protestos como um movimento de estudantes e da classe média, muitas outras organizações e camadas da sociedade brasileira, incluindo moradores de favelas cariocas, vêm participando da luta contra injustiça há muito tempo. Eles abraçaram os protestos atuais como seus.
Além disso, a indignação manifestada nas ruas do Rio expressa a desconfiança geral no governo brasileiro para resolver os problemas mais urgentes dos cariocas, assim como uma sensação de estar juntos. Como Lenilda Rodrigues, moradora da Indiana, falou :“Todos nós estamos na mesma luta, todos aqui são de diversas comunidades, diversas cidades, diversos estados; aqui tem gente de tudo que é lugar atrás dos seus direitos. Nós temos o direito de morar bem, viver bem, e para isso nós trabalhamos, todos nós aqui estamos na mesma luta e estamos juntos. Um ajuda ao outro, um abraça a causa do outro, aqui tem igualdade. A gente está vendo desigualdade onde a gente deveria ter o apoio. Que é dos governantes, nós elegemos eles para estarem lá em cima e eles não estão nem aí para a gente”. Lenilda não tem confiança no governo ao ponto de afirmar nunca mais querer votar, passando esse sentimento para sua filha de 18 anos, junto com sua paixão por engajamento cívico direto.
Maria do Socorro, da Associação de Moradores de Indiana que está lutando contra as remoções, disse, “Acho muito importante as comunidades estarem aqui, como eu. Outras comunidades também estão aqui–Morro da Providência, Santa Marta–porque a nossa luta não é ficar somente dentro da comunidade”. Ela continuou, “a minha luta também não é só pela comunidade: é também pelo ônibus, a saúde, a educação, o racismo, tudo”.
Os protestos expressam a indignação geral dos brasileiros–de todas as classes sociais–com a atual situação do país. E a mensagem avassaladora das demostrações da noite de quinta-feira foi que vários movimentos sociais cariocas, incluindo o movimento contra as remoções, agora trabalham juntos na luta por um Brasil melhor.