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Esta matéria faz parte da série #OQueDizemAsRedes que traz pontos de vista publicados nas redes sociais, de moradores e ativistas de favela sobre eventos e temas que surgem na sociedade.
Na segunda semana de janeiro, entre sábado, 13, e domingo, 14, a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, sobretudo a Zona Norte da capital e a Baixada Fluminense, sofreu mais uma vez com os extremos climáticos, como, infelizmente, se repete cada vez mais ano após ano. Até agora, já foram registradas 12 mortes. Dentre elas, três por afogamento em Nova Iguaçu, uma por descarga elétrica em Duque de Caxias e uma vítima de soterramento no Morro da Pedreira, em Costa Barros, Zona Norte. Duas pessoas continuam desaparecidas, entre elas, a cabeleireira de 46 anos Elaine Cristina Souza Gomes, que caiu de carro no Rio Botas, na altura da cidade de Belford Roxo. A situação é um exemplo dos impactos das mudanças climáticas, que estão tornando os eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos.
Chuva Atípica e Lixo São Desculpas dos Governantes, Enquanto População Perde Tudo
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), chuvas acima de 50mm por hora são consideradas muito fortes e merecem atenção especial. No sábado, 13, choveu mais de 200mm em seis horas e quase 240mm em 24 horas na cidade do Rio de Janeiro. Isso equivale a um mês inteiro de janeiro em um único dia, afirmou Philipe Campeão Costa Brondi Silva do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).
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Dados do Alerta Rio, órgão da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, apontam que choveu 40% a mais em Anchieta do que o esperado para o dia. O bairro da Zona Norte teve a maior chuva registrada na localidade desde 1997, com uma precipitação de quase 260mm em 24 horas. Os danos causados pelas chuvas ainda estão sendo avaliados, mas já é possível estimar que sejam significativos.
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Em Niterói, as fortes chuvas que atingiram a cidade no fim de semana causaram estragos no barracão improvisado das escolas de samba, no Barreto. O local foi um antigo depósito de carros da NitTrans e está cedido às agremiações pela prefeitura. A água subiu a vários metros, inundando alegorias, fantasias e outros materiais que estavam sendo preparados para o carnaval.
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Na cidade vizinha, em São Gonçalo, na noite de sexta, 12, a chuva deslocou tubos de drenagem pelas ruas. Muitos bairros ficaram sem luz e moradores protestaram contra a concessionária de energia elétrica Enel.
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Os Rios Fluminenses Pedem Socorro É #OQueDizemAsRedes
No domingo, 14, os rios Botas, Iguaçu, dos Macacos, Capivari, Acari, Engenhoca e Alcântara transbordaram depois das fortes chuvas e deixaram moradores nas cidades de Belford Roxo, Nova Iguaçu, Paracambi, Nilópolis, Mesquita, Duque de Caxias, Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo embaixo d’água.
A estimativa é que mais de 9.000 pessoas estejam desalojadas, mais de 300 pessoas desabrigadas e, no total, mais de 15.000 pessoas afetadas pelas chuvas na Baixada Fluminense. Tendo dimensão do desastre, o Prefeito de Nova Iguaçu Rogério Lisboa logo decretou Situação de Emergência e Estágio de Crise na cidade.
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Viralizou nas redes sociais o vídeo da moradora Viviane Lopes, do Jardim Canaã, bairro de Comendador Soares, em Nova Iguaçu, com a água perto do pescoço. Mãe de quatro filhos, um deles autista, a moradora diz que está cansada de tanta luta. Segundo ela, sempre que chove é a mesma coisa. No vídeo, a moradora reclama da obra feita no Rio Botas, que passa por Nova Iguaçu e Belford Roxo.
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As fortes chuvas que atingiram Duque de Caxias no sábado, 13, provocaram alagamentos em vários bairros da cidade. Nos bairros Pilar e Amapá, várias ruas ficaram completamente alagadas, dificultando a passagem de veículos e pedestres, por causa do transbordamento do Rio Iguaçu. No Jardim Primavera, a água subiu tanto que chegou a cobrir carros que estavam estacionados na rua.
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Diversos bairros continuam alagados mesmo com o sol forte, que castiga a cidade nos dias que se seguiram às chuvas. Duque de Caxias tem cerca de 130 pessoas desabrigadas e mais de 2.000 cadastradas pela prefeitura esperando auxílio.
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Em Acari, na Zona Norte, moradores relataram que faltou um palmo para que a água chegasse até o teto das casas. Perderam absolutamente tudo: móveis, roupas, eletrodomésticos, alimentos, conquistados com muito trabalho. Idosos e crianças sem água potável e, em muitos pontos, sem energia elétrica.
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A Secretária de Meio Ambiente e Clima Tainá de Paula visitou Acari na segunda-feira, 15, e concedeu entrevista ao Voz das Comunidades. Ela se solidarizou com as vítimas e explicou que o primeiro passo era retirar o entulho para desobstruir vias e rios. Ela pediu que moradores de áreas com risco de alagamento ficassem atentos aos alertas das autoridades e às sirenes, que avisam aos moradores quando devem sair de suas casas para pontos seguros.
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Enquanto milhares de pessoas estão desabrigadas e desalojadas no Rio de Janeiro por conta das chuvas, a prefeitura da cidade publicou em suas redes sociais dicas de prevenção e cuidados sobre o impacto do calor, inclusive com os pets. Enquanto pessoas morreram, milhares perderam suas casas ou pertences e estão impedidas de voltar em segurança, a prefeitura prioriza dicas padronizadas e para os pets, ao invés de políticas públicas e ações emergenciais de alívio dos impactos da crise.
Dias de muito calor exigem cuidados especiais. Por isso, mantenha-se hidratado, passe protetor solar, use roupas leves e evite atividades físicas ao ar livre no período da tarde. Além disso, se for passear com o pet, prefira as horas mais frescas do dia.
— Prefeitura do Rio (@Prefeitura_Rio) January 16, 2024
Mobilizadores de favelas, ativistas da causa climática, jornalistas e parlamentares denunciaram que esse padrão de atuação das autoridades frente aos desastres socioambientais é um reflexo do racismo ambiental, que é um fenômeno estrutural. Eles argumentam que pessoas negras e vulnerabilizadas são empurradas para áreas de risco ambiental, como encostas íngremes ou áreas próximas a rios.
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Em meio a estes acontecimentos, a Vereadora Mônica Cunha puxou uma discussão em suas redes sociais. Segundo a presidenta da Comissão Especial de Combate ao Racismo da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, é importante chamar a atenção para o problema do racismo ambiental e exigir que as autoridades públicas tomem medidas específicas e efetivas para combatê-lo.
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A culpa não é da chuva, mas da falta de políticas habitacionais, rios assoreados, desmatamento, falta de coleta adequada de resíduos sólidos e de saneamento básico, de educação ambiental, entre outros muitos. O Rio Botas, por exemplo, onde, conforme mencionado no início da matéria, uma mulher continua desaparecida, sofre alerta de inundações há dez anos. Esses não são problemas novos, nem de solução desconhecida pelo poder público.
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Desigualdade Social, Racismo Ambiental e Ebulição Global
Raull Santiago, integrante do Coletivo Papo Reto, postou que o planeta está em estado de ebulição global. Para ele, não haverá justiça climática sem garantir direitos e dignidade para as favelas.
Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgado em 2022 mostrou que a Baixada Fluminense é uma das regiões mais pobres do Brasil. O Mapa da Nova Pobreza dividiu o país em 146 estratos espaciais. Os municípios que compõem o arco de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, estão entre os 100 estratos mais pobres. De acordo com o estudo, 33% dos moradores dessa região tinham renda domiciliar per capita de até R$497 mensais em 2021. Isso significa que mais de um terço da população da Baixada Fluminense está abaixo da linha da pobreza. Outra região da Baixada Fluminense que também está entre as 100 mais pobres do país é o conjunto de municípios de Duque de Caxias, Magé e Guapimirim. Segundo o estudo da FGV, 30,48% dos moradores dessas cidades estão abaixo da linha da pobreza.
É importante notar que essas áreas estão também entre as mais negras do país. Na Baixada Fluminense, 69% das pessoas se declararam como negras para o Censo de 2022. Portanto, não é coincidência que essa seja uma das regiões mais afetadas por eventos climáticos extremos no Rio.
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O Coletivo Odarah Cultura e Missão reforçou a importância de não acreditarmos nessa narrativa do desastre ou dos danos por causas naturais. Para o coletivo, o que aconteceu é muito evidente: racismo ambiental, consequência de uma gestão pública violenta, elitista e racista. O alerta é para evitar a falácia imposta pela narrativa da tragédia natural.
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Frente a toda essa crise, o governo federal anunciou a antecipação do pagamento do Bolsa Família às pessoas atingidas pelas enchentes do último fim de semana. Na segunda-feira (16), ministros se reuniram com 12 prefeitos dos municípios afetados e criaram um escritório de emergência na capital e outro na Baixada Fluminense.
O Governador Cláudio Castro e o Ministro Waldez Goés, da Integração e Desenvolvimento Regional, responsável pela Defesa Civil, disseram que o principal objetivo da reunião foi ouvir os prefeitos e articular recursos com o governo federal. A reunião, no entanto, aconteceu sem a participação das comunidades afetadas e permitiu perguntas somente do O Globo, G1, Valor Econômico e UOL, de cunho político e teatral e, infelizmente, sem nenhum representante de favelas.
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As ações do governo se limitarão a remediar os problemas atuais e aparentemente não incidirão rumo à prevenção. O governador anunciou que “há muitos planos de contingência e emergência para enchentes e inundações, mas é muito difícil de implantá-los, por conta da falta de recursos e expertise técnica. A reunião de hoje foi para quebrar esses ruídos, esses degraus. Como resultado prático, o Ministro Waldez especialmente, junto aos outros ministérios envolvidos, vão deixar uma equipe técnica, que sobrevoou hoje à tarde a Baixada e ajudará no que for possível, especialmente com técnicos especialistas na construção de planos”.
O foco das ações anunciadas é combater enchentes, não impedir deslizamentos de encostas. No entanto, se a mesma chuva caísse sobre morros povoados, provavelmente haveria dezenas de vítimas por soterramento. Os governos não pensam de maneira holística, integral e a longo prazo. Mal respondem o sintoma da vez, muito menos tratar a fonte do problema. Além disso, é frequente observar que as soluções propostas são de engenharia e demandam muito investimento e tempo para saírem do papel, como mais piscinões. Não há menções a soluções baseadas na natureza e na infraestrutura verde, muitas vezes mais acessíveis, e potentes para aumentar a permeabilidade urbana e evitar inundações.
Redes de Solidariedade se Espalham para Amenizar o Sofrimento
Na Baixada Fluminense, coletivos organizaram o Baixada Unificada, unindo forças para ajudar aqueles que foram afetados pelas enchentes. Compõem a iniciativa o Movimenta Caxias, de Duque de Caxias, o Movimenta SJM, de São João de Meriti, o projeto Sim, Eu Sou do Meio, de Belford Roxo, o Baixada Lab, de Nilópolis, e o Instituto Casa de Vida, de Mesquita.
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O Coletivo Fala Akari está contando com o apoio e a generosidade para aliviar o sofrimento dos moradores depois das chuvas de janeiro de 2024. Mais de 30.000 pessoas foram impactadas e necessitam de ajuda.
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A Associação Centro Social Fusão, em Mesquita, também começou uma campanha de doações para as vítimas, arrecadando alimentos, água, roupas, itens de higiene pessoal e outros. As doações podem ser feitas na sede da associação, na Rua Tamaru, 40, em Jacutinga.
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A Cozinha Solidária da Lapa também é ponto de arrecadação de roupas, itens de higiene, de limpeza, alimentos, água e móveis. O endereço fica na Avenida Mem de Sá, 25, na Lapa. Horários: 11h às 18h.
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