Vozes do Seminário Nacional do TTC: Ashley Allen, Diretora Executiva do TTC de Houston, Diz que ‘Deveria Haver uma Cúpula Global sobre Habitação’ [ENTREVISTA]

Ashley Allen, diretora executiva do TTC de Houston. Foto: Bárbara Dias
Ashley Allen fala no 5º aniversário e 3º Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo, em 2023. Foto: Bárbara Dias

Click Here for English

A quarta edição do Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo está chegando (nos dias 18-20 de junho)! Ouça as vozes das palestrantes da última edição do evento em outubro de 2023, quando Ashley Allen, diretora executiva do Termo Territorial Coletivo de Houston, e Razia Khanom, vice-presidenta do Termo Territorial Coletivo de Londres visitaram o Rio de Janeiro para o 5º Aniversário e 3º Seminário Nacional do Projeto Termo Territorial Coletivo (TTC)*. O evento centrou-se na propriedade coletiva de terras e espaços comunitários como resistência à especulação imobiliária e à gentrificação, enquanto os moradores mantêm a propriedade de suas casas, o que garante a permanência deles. Em comemoração ao Dia Mundial dos TTCs 2024, temos o prazer de compartilhar esta entrevista perspicaz e aprofundada com Ashley abaixo, e de Razia em matéria a seguir. Não deixe de participar da quarta edição do Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo na próxima semana (18-20 de junho): se inscreva aqui.

Ashley Allen, diretora executiva do TTC de Houston, visitou o Rio de Janeiro em outubro passado para o 5º aniversário do Projeto Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias
Ashley Allen, diretora executiva do TTC de Houston, visitou o Rio de Janeiro em outubro passado para o 5º aniversário do Projeto Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias

No evento, Ashley falou sobre suas experiências em defesa de moradias populares como liderança negra de um Termo Territorial Coletivo nos Estados Unidos. Embora o seminário tenha durado apenas um dia, os laços que Ashley construiu com os organizadores do Brasil e participantes de outros lugares foram muito além. Estas relações exemplificam como comunidades habitáveis e sustentáveis em todo o mundo estão enraizadas em laços pessoais.

Sentamos para conversar ao final do evento, após o público e os integrantes do Projeto TTC cantarem os parabéns e cortarem um bolo de aniversário azul e branco. Apesar do dia agitado, Ashley conversou longamente com o RioOnWatch. Ela falou sobre as origens dos TTCs nos movimentos dos Direitos Civis e Black Power da década de 1960 e como os EUA e o Brasil enfrentam desafios conectados decorrentes de suas histórias entrelaçadas de escravidão e opressão.

Ashley Allen caminha pela primeira favela do Brasil, hoje conhecida como Morro da Providência. Foto: Rebeca Landeiro
Ashley Allen caminha pela primeira comunidade conhecida como favela, hoje conhecida como Morro da Providência. Foto: Rebeca Landeiro

RioOnWatch: Como você explicaria um Termo Territorial Coletivo (TTC) para alguém que não está familiarizado com o conceito?

Ashley Allen: Eu diria que um TTC é uma organização onde a comunidade tem controle sobre a terra para criar acessibilidade a longo prazo, para garantir que quem está dentro de um espaço possa permanecer lá até quando o mercado mude.

RioOnWatch: O que significa ser uma boa cuidadora da terra e da moradia na sua comunidade?

Ashley Allen: Ouça a comunidade, isso é o número um. Se a comunidade disser: “Não podemos pagar [os custos da moradia]”, então precisamos fazer com que funcione. Se eles estão dizendo: “Estamos sendo deslocados”, precisamos olhar para lá. Se eles estão dizendo: “Está vazio e não é atraente para a comunidade”, então, você coloca algo lá. É isso: fazer o que a comunidade lhe pediu para fazer. E fazer o que você prometeu à comunidade.

Temos pessoas que dizem: “Vamos construir moradias acessíveis”. E nós dizemos: “Acessível para quem? Você está usando esse termo, mas não está realmente construindo moradias com preços acessíveis”. E, então, é novamente ir lá e fazer o que você disse que faria, realmente ir lá e fazer. Não dizer que vai seguir uma premissa e depois desenvolver outra coisa ou fazer outra coisa. É simplesmente isso. Se as comunidades querem algo, você vai lá e faz.

Ashley Allen (canto superior esquerdo) e organizadores TTC de outros países visitam a escadaria mais famosa da Providência. Foto: RioOnWatch
Ashley Allen (canto superior esquerdo) e organizadores de TTCs de outros países visitam a escadaria mais famosa da Providência. Foto: RioOnWatch

RioOnWatch: Como você se tornou uma organizadora comunitária?

Ashley Allen: Eu me tornei uma organizadora comunitária inesperadamente. Eu era uma jovem sem-teto [na Carolina do Norte] e minha família ficou sem-teto intermitentemente por cerca de dez anos. Quando me mudei para Chicago, senti como se eu não houvesse verdadeiramente me expressado sobre o que eu tinha sentido naquele longo período de instabilidade habitacional. O que isso causa numa criança e no seu desenvolvimento? Eu escondi isso por tanto tempo, de tantas pessoas, de amigos e de familiares, então, eu só queria uma maneira de colocar para fora e conseguir uma fonte de cura.

Então, pensei em fazer isso como voluntária. Fui a alguns eventos e ouvi outras pessoas contarem suas histórias sobre suas experiências como pessoas em condição de rua e, então, resolvi entrar para o Speakers’ Bureau [da Coalizão para os Sem-teto de Chicago]. Andei pela cidade de Chicago, por diversas organizações e escolas, para falar sobre minha experiência.

Depois disso, eles me convidaram para participar de uma campanha. Eles me treinaram como organizadora comunitária em Chicago, que é o berço da organização comunitária nos EUA. Foi assim que tudo começou. Eu fiquei viciada depois disso. Adorei encontrar soluções, não apenas falar sobre o que está errado, mas pensar em maneiras de incentivar a mudança. Eles me transformaram na organizadora comunitária que sou hoje.

RioOnWatch: Como foi aprender a ser organizadora numa cidade com um legado de ativismo tão forte?

Ashley Allen: Parece que você está apoiada nos ombros de algo tão grande. É um trabalho pesado. Mas acho que por ter uma história de organização tão boa, eles fazem um ótimo trabalho ensinando a história, ensinando as estratégias, indo lá, vendo a realidade e fazendo o trabalho logo depois. É ensinar fazendo.

Na verdade, acabei por fazer mais no lado da educação, mudando os debates educativos e de políticas públicas para que não existissem barreiras educativas. Não se tratava apenas de organização. Aprendi sobre políticas e muitas outras questões.

RioOnWatch: Seu trabalho na educação ajudou a prepará-la para falar com diferentes grupos de pessoas?

Ashley Allen: Ah, com certeza. A educação é outra questão que afeta a todos. E poder pensar: “Como isso afeta você individualmente? Como isso afeta este negócio? Ser capaz de identificar essas coisas funciona em todas as questões: habitação, educação, saúde. Poder encontrar as pessoas onde elas estão. Como é que a melhoria individual da minha situação habitacional, da minha situação educacional, dos cuidados de saúde realmente ajudam o bem maior? Grupos empresariais e grandes corporações também têm interesses nisso.

Ashley Allen e outros assistem à apresentação ao vivo do guia Cosme Felippsen,, nascido e criado na Providência, durante seu passeio pela primeira comunidade a ser chamada de favela no Brasil. Foto: Rebeca Landeiro
Ashley Allen e outros assistem à apresentação ao vivo do guia Cosme Felippsen,, nascido e criado na Providência, durante seu passeio pela primeira comunidade a ser chamada de favela no Brasil. Foto: Rebeca Landeiro

RioOnWatch: Quais são algumas relações inesperadas que você construiu? Como você constrói confiança entre comunidades diversas?

Ashley Allen: Eu fui para Houston não sendo originalmente de lá, então, as pessoas já estavam um pouco desconfiadas de mim. Mas fui contratada porque era uma estranha, não alguém que já estivesse conectada ou envolvida com os problemas que aconteciam e as expectativas.

Eu estava chegando, sem conhecer ninguém e fui capaz de construir relacionamentos a partir de uma base muito sólida desde o início. Então, primeiro foi fazer a comunidade entender que o Termo Territorial Coletivo era uma opção, era uma ferramenta.

Não se tratava apenas de entrar, tipo, “Você compra uma casa em um Termo Territorial Coletivo”. Na verdade, tratava-se de informar as pessoas sobre o que está acontecendo em suas comunidades. Tudo começou com o relacionamento sendo: “Ok, o que está acontecendo na sua comunidade?” “Sim, nós vemos, isso é verdade. Sim, muitas destas casas não são acessíveis”, mas aqui está uma forma de tentarmos resolver isso. Sim, você está sendo deslocado. Eles provavelmente virão atrás de suas casas e de suas terras e você provavelmente será gentrificado”.

Eu me mudei no meio da pandemia. Construir relacionamentos foi difícil, porque fiquei isolada por um tempo. Mas as relações que construímos entre os setores foram muito importantes para o que estávamos tentando fazer. Não foram apenas os proprietários da comunidade ou as pessoas que tentaram permanecer em suas casas, mas todos os envolvidos na tomada de terras e que estavam nos ajudando a preservá-las.

RioOnWatch: Quais são alguns grupos sociais que são importantes para você?

Ashley Allen: Mães solteiras, porque fui criada por uma mãe solteira. Essa responsabilidade de oferecer um lar para seus filhos é muito importante. Isso foi algo pelo qual minha mãe lutou. Neste momento, em Houston, os 3º e 5º distritos são importantes para mim, porque são comunidades com as quais me identifico. São comunidades historicamente negras, com populações unidas e vibrantes, que são muito importantes para o tecido social de Houston.

Eles estão sendo eliminados muito rapidamente. Não fomos capazes de entrar lá rápido o suficiente para realmente causar algum impacto significativo. Neste momento, com o dinheiro que temos, estamos fazendo bastante esforço por essas comunidades, antes que elas fiquem irreconhecíveis.

Ashley Allen, diretora executiva do TTC de Houston, mostra um mapa de Houston durante o evento de 5º aniversário do Projeto TTC. Foto: Bárbara Dias
Ashley Allen, diretora executiva do TTC de Houston, mostra um mapa de Houston durante o 5º aniversário do Projeto TTC. Foto: Bárbara Dias

RioOnWatch: Como os TTCs se baseiam na história, nos bairros e nas comunidades negras?

Ashley Allen: 79% dos nossos proprietários são negros. Você tem pessoas que não são negras ou hispânicas como proprietárias de casas. Mas temos como alvo aqueles que têm mais dificuldade em obter aprovação para hipotecas, comunidades que estão, em sua maioria, programadas para gentrificação e remoção. Infelizmente, estas são principalmente comunidades negras.

Fazemos questão de fazer a nossa divulgação nesses locais, fazendo-os compreender porque é que isto é tão benéfico para eles. Não se trata apenas de conseguirem uma casa, mas de se sentirem apoiados nas suas comunidades como um todo.

Ir às igrejas é uma das maneiras pelas quais as pessoas negras obtêm muitas informações. E eles confiam nas igrejas. Fizemos parceria com muitos pastores para fazê-los entender por que os Termos Territoriais Coletivos seriam benéficos para a construção de suas congregações. O que eles [pastores] me disseram é que isso é do interesse deles, porque se a congregação deles se mudar dali, quem irá apoiar a igreja?

RioOnWatch: O sistema ético dos TTCs pode estar alinhado com os ensinamentos religiosos?

Ashley Allen: Com certeza. Estamos falando sobre cuidar de seu próximo, certificando-se não apenas de que você está bem, mas que sua família, seus vizinhos [estão]. Pensar em seus vizinhos e não pensar apenas no “eu”, como ser humano,  pensar em “nós”.

Isso é algo cultural, que acho que a maioria de nós foi educada para acreditar. Religião é retribuir e garantir que todos estejam bem. Não importa qual seja seu alinhamento, religião ou fé, tudo se resume a ser uma boa pessoa. Como você pode ser uma boa pessoa quando não pensa em todos da comunidade, mas só em você mesmo? É claro que acredito que você deve estar bem como indivíduo e que sua família deve estar bem, mas também há um bem maior.

RioOnWatch: Você vê seu trabalho como fruto do Movimento dos Direitos Civis?

Ashley Allen: Sim, é isso mesmo. Este trabalho é baseado no Movimento dos Direitos Civis. Baseia-se na organização coletiva, no trabalho coletivo através da luta coletiva, para guardar e manter a cultura e o legado.

É lamentável que, ainda hoje, precisemos de ações em prol dos direitos civis, mas a realidade é que o país em que vivo, os Estados Unidos, e aqui no Brasil estão enraizados na opressão das pessoas. As políticas e os sistemas baseiam-se na melhor forma de fazer isso [manter a opressão].

Vejo o TTC como uma forma contínua de ser um transformador do sistema. Não é apenas um programa, não é apenas um problema de duas pessoas. Estamos mudando a forma como a terra e a moradia são acessadas e distribuídas. Porque, em última análise, se olharmos para trás, tratava-se do indivíduo homem branco. Você tinha que ser proprietário de escravos para possuir terras. Estas são as pessoas que detinham propriedades nos Estados Unidos e em outros países.

É preciso mudar o sistema para que a propriedade não fique concentrada só nas mãos de homens brancos, mas de um grupo de pessoas que realmente se preocupa com as gerações futuras.

Ashley Allen fala ao público sobre TTC de Houston no evento de 5º aniversário da Projeto TTC. Foto: Bárbara Dias
Ashley Allen fala ao público sobre o TTC de Houston no 5º aniversário do Projeto TTC. Foto: Bárbara Dias

RioOnWatch: Quais são algumas semelhanças que você encontra entre Houston e o Rio, ou entre os EUA e o Brasil de forma mais ampla?

Ashley Allen: Fiquei muito chocada com algumas das coisas que descobri sobre o Rio. Infelizmente, tudo está ligado ao fato de os Estados Unidos e o Brasil serem países que tiveram suas raízes no comércio de pessoas escravizadas. Nossos sistemas são muito semelhantes. Algumas das barreiras são muito semelhantes quando se trata de ser mais difícil para os negros ascenderem socialmente. Não é que seja impossível, mas não é fácil. A forma como os negros são tratados pela polícia aqui é muito semelhante ao que está acontecendo nos Estados Unidos. É semelhante no sentido de que há pouco respeito dos agentes da lei com relação às comunidades negras.

É um pouco decepcionante, mas também ajuda, porque, então, você constrói essa conexão e diz: “Tudo bem, como podemos resolver isso?” Você está recebendo ideias de outros lugares ao redor do mundo que entendem esses desafios e trazendo novas ideias, que você talvez nem conheça.

Ashley Allen fotografa skatistas no Morro da Providência. Foto: Rebeca Landeiro
Ashley Allen fotografa skatistas no Morro da Providência. Foto: Rebeca Landeiro

Eu amo o senso de comunidade. Vejo como as comunidades se unem, como há amor em torno da comida e em torno da música. Há amor em torno de todas essas coisas culturais que fazem você se sentir bem e lhe dão aquele senso de comunidade. Eu vejo isso. Em particular, eu vindo de cidades pequenas, onde todo mundo conhece todo mundo, ou se você é de uma cidade grande, de um determinado bairro, e todo mundo conhece todo mundo, vendo essas semelhanças e algumas dessas comunidades bastante unidas, entendo que as comunidades se centram exatamente no entorno destas semelhanças.

RioOnWatch: No seu dia a dia de trabalho, como você lida com a burocracia e outros desafios?

Ashley Allen: No caso da habitação, uma das nossas maiores barreiras é que as construtoras irão sempre conquistar as pessoas que estão realmente tentando resolver a questão da habitação. Mesmo com licença, quem pode pagar para que isso seja agilizado? Quem pode pagar? Construtoras com muito dinheiro podem. Os promotores de habitação social a preços acessíveis não podem.

É frustrante e é difícil. O que você tem que fazer é mostrar resultados. Esse é o número um. O que tem sido fácil para nós é que o nosso departamento de habitação na cidade não tem sido nada produtivo. Para nós, superá-los não foi tão difícil porque o padrão está muito, muito baixo.

Como somos financiados pela cidade, as pessoas são um pouco mais céticas e, por isso, temos sempre que nos certificar de que estamos a par de tudo o que é feito. É mais trabalhoso, mas acho que quando você é financiado por um sistema altamente escrutinado como o da prefeitura, temos que ser um pouco mais diligentes na forma como operamos. É assim que fazemos, apenas nos certificando de que estamos realmente fazendo as coisas de maneira honesta e com alto nível de excelência. Infelizmente, os municípios não são conhecidos por serem os mais eficientes. Então, é só esperar que eles se exponham.

Eu estava perdendo o sono, estava com muita raiva. Fiquei tão frustrada com o comportamento deles. Eles pegaram nosso dinheiro e deram às construtoras e disseram que as construtoras iriam baixar os preços das casas e torná-las acessíveis. Eu disse: “Não, não são, porque as construtoras nunca vão reduzir seus lucros. Elas apenas terão mais lucro. Você deu a elas mais dinheiro, elas simplesmente terão mais lucro.”

E foi exatamente isso que aconteceu. Nós dissemos isso a eles. Eles não queriam ouvir isso. Aqui estamos, alguns meses depois, na primeira página do Houston Chronicle. Perderam US$60 milhões. É como se tivéssemos lutado tanto, tudo o que precisávamos fazer era esperar.

Uma pessoa que faz parte do nosso conselho disse isso. Ela disse: “Ashley, por que você está chateada com algo que você já sabe ser verdade? Por que você está chateada com a forma que eles funcionam? Eles não estão fazendo nada que te surpreenda. Você contorna isso. Porque você sabe o que eles estão fazendo. Porque eles não mudam seus hábitos. Você contorna isso”. Infelizmente, é isso.

RioOnWatch: Que tipo de potencial existe para a solidariedade e colaboração internacionais?

Ashley Allen: Quando eu voltar e falar com a Câmara dos Vereadores de Houston, vou mencionar esta viagem. Tipo, “Ei, as pessoas sabem o que estamos fazendo em Houston, isso é mundial. E também não estamos fazendo o que eles estão fazendo no Rio”.

Se estamos sendo reconhecidos internacionalmente e trazendo ideias internacionais, isso é bom para a imagem da cidade. Então, acho que todos podemos nos beneficiar com a troca de ideias, participando da conversa e dizendo: “Ei, nossa cidade está sendo representada globalmente”.

Ashley Allen e Razia Khanom, duas líderes mundiais TTC, reúnem-se com líderes comunitários do Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio. Foto: Bárbara Dias
Ashley Allen e Razia Khanom, duas líderes mundiais de TTCs, reúnem-se com líderes comunitários do Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio. Foto: Bárbara Dias

RioOnWatch: O que a escala global das coisas diz sobre o futuro da habitação e do planejamento urbano?

Ashley Allen: Espero que comecemos a procurar soluções a longo prazo a nível global. O que realmente me frustra numa cidade como Houston–que é propensa a desastres naturais e uma cidade grande, a quarta maior dos Estados Unidos–é que temos as ferramentas, temos o dinheiro, temos a terra. Não há razão para não resolvermos esse problema.

Minha esperança é que as mentalidades mudem e as pessoas abram suas mentes. Para que as pessoas realmente resolvam o problema e todos os demais sigam a mesma toada. Que em todos os níveis, em todo o mundo, as pessoas comecem a abrir as suas mentes e a dizer: o que temos feito não está funcionando. Há muitas pessoas sem segurança habitacional, há muitas pessoas sem teto. Por que não insistimos na questão da habitação? É um direito humano básico. Deveria haver uma conferência global para a habitação. Por que não estamos fazendo isso?

Podemos fazer uma conferência global para o novo iPhone. Eles reúnem todo mundo, falam das novidades que nem são tão novas assim, mas não conseguimos reunir as pessoas para falar de habitação, que é um assunto mundial. Não faz sentido. Precisamos começar a mudar a forma como fazemos habitação e não apenas localmente. Vamos ter essa conversa em todo o mundo.

Ashley Allen deixa sua mensagem para a comunidade do Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio, um dos projetos piloto do Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias
Ashley Allen deixa sua mensagem para a comunidade do Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio, um dos projetos parceiros do Projeto Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias

Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

*Tanto o RioOnWatch quanto o Projeto Termo Territorial Coletivo (TTC) são iniciativas realizadas pela organização sem fins lucrativos Comunidades Catalisadoras (ComCat).


Apoie nossos esforços para fornecer apoio estratégico às favelas do Rio, incluindo o jornalismo hiperlocal, crítico, inovador e incansável do RioOnWatchdoe aqui.