Vozes do Seminário Nacional do TTC: Razia Khanom, Vice-Presidenta do TTC de Londres Diz que ‘O Espírito Comunitário das Favelas Deveria Ser Implementado no Reino Unido’ [ENTREVISTA]

Razia Khanom fala no 5° Aniversário e 3° Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo. Foto: Barbara Dias
Razia Khanom fala no 5° aniversário e 3° Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo, em 2023. Foto: Barbara Dias

Click Here for English

quarta edição do Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo está chegando (nos dias 18-20 de junho)! Ouça as vozes das palestrantes da última edição do evento em outubro de 2023, quando Ashley Allen, diretora executiva do Termo Territorial Coletivo de Houston, e Razia Khanom, vice-presidenta do Termo Territorial Coletivo de Londres visitaram o Rio de Janeiro para o 5º Aniversário e 3º Seminário Nacional do Projeto Termo Territorial Coletivo (TTC)*. O evento centrou-se na propriedade coletiva de terras e espaços comunitários como resistência à especulação imobiliária e à gentrificação, enquanto os moradores mantêm a propriedade de suas casas, o que garante a permanência deles. Em comemoração ao Dia Mundial dos TTCs 2024, temos o prazer de compartilhar esta entrevista perspicaz e aprofundada com Razia abaixo, e de Ashley aqui. Não deixe de participar da quarta edição do Seminário Nacional do Termo Territorial Coletivo na próxima semana (18-20 de junho): se inscreva aqui.

Razia Khanom, Vice-Presidenta do Termo Territorial Coletivo de Londres, visitou o Rio de Janeiro para o evento do 5º Aniversário do Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias
Razia Khanom, vice-presidenta do TTC de Londres, visitou o Rio de Janeiro em outubro passado para o 5º aniversário do Projeto Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias

Razia é uma contadora de histórias animada. Ela trouxe essa habilidade para sua participação no evento, unindo seu conhecimento como líder de um Termo Territorial Coletivo no Reino Unido, sua herança ancestral de Bangladesh e seu apoio à justiça habitacional no Rio. No dia seguinte, o RioOnWatch teve a oportunidade de entrevistar Razia, em torno de uma mesa cheia de frutas e doces brasileiros. Ela falou de como suas experiências pessoais de precariedade habitacional moldaram seu compromisso com a mobilização no TTC. Ela também expressou solidariedade com as favelas do Rio e compartilhou ideias sobre como o tratamento que elas recebem está ligado ao mundo de maneira mais ampla e que o Brasil perde por não abraça-las e reconhecê-las.

Razia Khanom, com outras lideranças internacionais do TTC, faz um tour pela primeira favela do Brasil, o Morro da Providência, com 127 anos de idade, acompanhada pelo guia comunitário Cosme Felippsen. Foto: Rebeca Landeiro
Razia Khanom, com outras lideranças internacionais de TTCs, faz um tour pela primeira favela do Brasil, o Morro da Providência, com 127 anos de idade, acompanhada pelo guia comunitário Cosme Felippsen. Foto: Rebeca Landeiro

RioOnWatch: Como começou a sua luta para encontrar moradias a preços acessíveis em Londres, e como você vê a importância de permanecer na sua comunidade?

Razia Khanom: Vivíamos em condições de superlotação e, durante o último ano, passamos a considerar o que fazer para sair [desta situação]… Passamos de uma família com duas rendas para apenas uma. Os salários não estavam aumentando. Pensamos em simplesmente sair de Londres. Moramos em Brixton, no sudoeste de Londres.

Temos uma rede de amigos muito forte. É uma comunidade muito diversa. A escola que minha filha frequenta é uma escola primária financiada pelo Estado com um ethos islâmico. Isso permite com que ela tenha continuidade no que aprende em casa, ao invés de ter a crise de identidade que eu tive quando criança. Queria garantir que os meus filhos estivessem firmes nas suas identidades antes que o mundo começasse a atacá-los por isso.

Teríamos perdido esse elemento também. Muitas das famílias que frequentavam a escola também eram imigrantes de primeira geração. Muitos não tinham família extensa. Embora eu tenha família no Reino Unido, eles [os amigos] se tornaram uma família secundária. Deixar isso para trás seria muito difícil. Então, essa foi a solução para mim.

Eu costumava trabalhar com moradia. Pouco antes de ter meu filho mais velho, eu trabalhava em uma associação habitacional e fizemos algumas pesquisas sobre quem provavelmente acabaria morando em habitações inseguras. Descobrimos em nossa área que eram as mães solo negras com idades entre 25 e 36 anos as mais vulneráveis. Esta é uma grande parte de nossa comunidade. Algo precisava ser feito para apoiá-las.

Razia Khanom dando uma entrevista no evento do 5º Aniversário do Termo Territorial Coletivo. Foto: Barbara Dias
Razia Khanom dando uma entrevista no evento do 5º Aniversário do Termo Territorial Coletivo. Foto: Barbara Dias

RioOnWatch: Você poderia falar sobre como você entrou na mobilização pelo TTC? 

Razia Khanom: Em 2018, vi um pequeno folheto no nosso quadro de avisos convidando os moradores para uma reunião para discutir casas a preços acessíveis.

Naquela época, eu não estava trabalhando. O meu mais novo tinha uns quatro anos… Antes disso, a mais velha apresentava alguns problemas de saúde. Ela estava tendo o que agora sabemos serem convulsões, múltiplas convulsões por dia. Chegou um momento em definitivo quando o bebê estava em minhas mãos e eu pude ver [minha filha mais velha] no topo da escada e ela estava balançando. E se eu não a tivesse alcançado a tempo, ela teria caído da escada. Eu disse ao médico: “Não consigo mais fazer isso, estou com muita dificuldade, não consigo mantê-la segura”.

Então, nos mudamos de volta para o apartamento em que morávamos antes. Foi bastante útil, no sentido de que era apenas de um andar, não haviam degraus e não precisávamos nos preocupar com ter espaço suficiente. Depois, com o passar do tempo, percebemos que estávamos presos… porque os aluguéis tinham aumentado exponencialmente. Isso aconteceu depois de cerca de cinco anos pagando aluguel. Todos os anos, tínhamos de nos mudar porque os proprietários aumentavam nosso aluguel de forma tão exponencial que não conseguíamos pagar. Estávamos tendo que nos afastar cada vez mais. As condições nas propriedades eram muito ruins e não podíamos fazer nada sobre isso.

Nesse momento, vi este aviso para casas a preços acessíveis: “Você sabe como são as casas a preços acessíveis?” Em Brixton, todos estes edifícios luxuosos estão aparecendo. Toda a área está se gentrificando. É acessível apenas para pessoas que já estão financeiramente muito confortáveis.

Quando os organizadores do TTC apareceram e eu pude entender como esse é um grande elemento da solução para a habitação social, tornou-se quase uma obrigação moral para mim estar envolvida, compartilhar minha história para que outras pessoas que possam estar se sentindo isoladas, como eu estava, tenham algum tipo de conforto em saber que não estão sozinhas. De alguma forma, talvez, se nos unirmos e entregarmos essas casas, poderíamos evitar que [o deslocamento] acontecesse. Na primeira reunião, conheci dois homens jovens que… trabalham em estreita colaboração como o nosso grupo nacional, o Citizens UK, [que] nos colocou em contato com o TTC do Leste de Londres. Naquela época, o TTC do Leste de Londres estava para entregar sua primeira casa.

[Enquanto isso,] o TTC de Londres fez uma oferta, mas a autoridade local, a Autoridade da Grande Londres (GLA), não se sentiu confortável em ceder um local tão grande para um TTC novato. No entanto, ficaram tão impressionados com o lance, que disseram que a nossa proposta era a melhor. Parte seria para aluguéis acessíveis, parte seria vendida a proprietários particulares e parte seria para aluguel social, mas eles queriam designar 23 unidades a nós, para que entregássemos como parte do TTC.

[Foi quando] o Citizens UK, através de seu comitê de incidência política, entrou em contato com o TTC do Leste de Londres porque, ao invés de criar um novo Termo Territorial Coletivo, a questão seria investir nas instituições que já temos. O TTC do Leste de Londres tornou-se, então, TTC de Londres.

A Moradia Citizens no TTC de Londres provê 11 casas permanentemente acessíveis para a população local. Foto: site do TTC de Londres
A ‘Citizens House’ [prédio denominado ‘Casa dos Cidadães’] no TTC de Londres provê 11 casas permanentemente acessíveis para a população local. Foto: Site do TTC de Londres

RioOnWatch: Como foi sua experiência ao tentar criar moradias populares por meio do TTC de Londres?

Razia Khanom: Em 2019, ingressei no conselho do TTC de Londres. O projeto começou em 2018, mas demorou muito. Era de baixa prioridade para a Autoridade da Grande Londres em termos de pedidos de financiamento. Perdemos alguns membros importantes porque eles não tinham como continuar pagando seus aluguéis. Eles tiveram que se mudar. Tornou-se ainda mais importante para nós que isso fosse levado adiante. Tivemos uma série de encontros muito difíceis. Por sermos um TTC pequeno, descobrimos que havia expectativas sobre nós que não existiam sobre outros desenvolvedores. O modelo ainda não havia sido amplamente utilizado, então, havia muita incerteza sobre ele.

Houve o que eu consideraria uma falta de respeito pelo que estávamos tentando fazer… O nosso projeto estava quase em risco quando a Inglaterra decidiu pelo Brexit. Antes disso, a Europa financiou alguns dos nossos projectos habitacionais… Apresentamos um pedido de financiamento antes da data oficial de saída. Como a GLA demorou muito, eles nem sequer compareceram a uma das reuniões do painel que eles próprios organizaram. O prazo passou e, por fim, eles voltaram e disseram: “Não temos mais esse seguro. Nós lhe daremos esse financiamento, mas se vocês não forem para além do processo de planejamento, terá que reembolsar esse dinheiro”. Eram £530.000 (R$3,6 milhões)! De onde iríamos conseguir esse dinheiro? [Se isso acontecesse,] nos levaria à falência.

Os diretores de vários grupos de todos os projetos do TTC de Londres foram chamados para uma reunião com nossos parceiros-chave para que eles pudessem falar pessoalmente com esses comitês e dizer porque ele não seria capaz de levar seus projetos adiante… Então, para nossa alegria, cerca de uma hora antes de comparecermos à reunião, recebemos uma carta dizendo: “Faremos uma concessão para você. Você não precisa devolver o dinheiro se não saírem da fase de planejamento”.

Aquilo realmente destacou o poder que tínhamos, a partir dos diferentes testemunhos.

No final de tudo, não quiseram comparecer à reunião, pois acharam que seria contraproducente. Eles pensaram que estávamos presentes apenas para lhes dizer que haviam nos decepcionado. Quando, na verdade, o que procurávamos era saber quais eram os principais assuntos dentro da GLA. Havia algo que pudéssemos fazer para ajudar? E como você toma decisões para que possamos contornar isso também? Vamos trabalhar juntos! Porque não podemos fazer [o TTC] funcionar sem o seu financiamento e você não consegue entregar habitação sozinhos. O GLA tem muito dinheiro para gastar, não tem pessoal para distribuir os fundos, mas estamos aqui para ajudá-los a fazer isso.

Razia Khanom e outras lideranças do TTC em um tour no Grupo Esperança, um dos parceiros do projeto Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias
Razia Khanom e outras lideranças de TTCs em uma visita no Grupo Esperança, um dos parceiros do Projeto Termo Territorial Coletivo. Foto: Bárbara Dias

RioOnWatch: Como é a sua mobilização no dia a dia? 

Razia Khanom: Eu me encontro com pessoas da minha comunidade que estão lutando por moradia, com pessoas que estão envolvidas noutros grupos de direção e em outras unidades da nossa organização. Isso me faz perceber que a habitação é uma questão muito urgente neste momento. Há décadas vivemos uma crise imobiliária, mas mudanças recentes—recessão econômica, austeridade, mudança de governo, quase tivemos uma recessão dupla e inflação—tudo tem impacto sobre ela. Tudo se resume, no final das contas, à renda que as pessoas têm e às oportunidades de emprego. Tudo está interligado.

Eu trabalho na escola da minha filha. O modelo de TTC não é para todos lá, porque alguns têm renda tão baixa que, na verdade, precisam de moradia social, não de moradia a preço acessível. Eles não teriam recursos para viver em casas, nem que sejam para serem economicamente acessíveis.

A autoridade local não tem ideia de que precisa desta ajuda… A razão pela qual estou contando tudo isso é porque, quase semanalmente, encontro-me com pessoas, vejo pessoas que estão em dificuldades, tanto no setor privado como na lista de espera para habitação pública. Cada vez que penso que estou ficando muito cansada e sinto que não estou chegando a lugar nenhum, e acho que vou fazer as malas, encontro pessoas assim… e suas histórias me fazem continuar. Mobilização no dia a dia sempre começa com conexões um a um com todos aqueles que têm interesse em suas comunidades.

Razia Khanom participa em uma troca entre lideranças internacionais do TTC e o Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio. Foto: Bárbara Dias
Razia Khanom participa em uma troca entre lideranças internacionais de TTCs e o Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio. Foto: Bárbara Dias

RioOnWatch: Você pode me contar sobre o projeto de TTC no qual você está trabalhando agora em seu bairro?

Razia Khanom: Para a Christchurch Road, em Lambeth, o cronograma original era que as pessoas começariam a se mudar em 2021. Agora, estamos em 2024. O projeto foi adiado sem culpa nossa, então solicitamos mais £120.000. Eles nos pediram que demonstrássemos que existe apoio local para isso, embora já o tenhamos feito muitas e muitas vezes antes. Queriam saber se havia algum apoio político. Agora, se as comunidades locais estão pedindo isso e se há escassez de habitação, não tenho a certeza do que significaria mais apoio político.

O líder local disse, de fato, que o Departamento de Planejamento não daria permissão de planejamento para o local, porque ele tem ordens de proteção de árvores. É um espaço verde e não podemos construir em espaço verde, embora a última vez que esse terreno tenha sido utilizado tenha sido para habitação. Por causa disso, nossa verba foi recusada.

Estou procurando outras maneiras de solicitar financiamento, para que possamos levar esse projeto adiante e nossa população local possa permanecer lá. Isso estabelecerá um precedente de que não seremos intimidados ou deixados de lado.

A nossa proposta inicial era uma habitação de uso misto, por isso, queríamos garantir que o piso térreo fosse acessível para pessoas com deficiência e para os idosos que quisessem ficar na comunidade. O prédio onde moro tem uma grande população idosa. Queríamos ter certeza de que eles poderiam ficar. Depois, começamos a construir apartamentos de dois e três quartos para famílias.

Uma das primeiras objeções que surgiram dizia que não precisamos de unidades familiares em Lambeth. Eles estão baseando isso na queda do número de matrículas nas escolas. Mas é aqui que entra a tolice. Como as famílias não têm habitação adequada, não têm habitação acessível, estão se mudando. Não é que não precisemos de habitações familiares, precisamos delas: pois os moradores [com crianças] estão sendo forçados a se mudar.

É muito difícil conversar com as autoridades locais porque elas são muito fechadas. Elas fazem todas essas promessas quando querem ser votadas, mas quando se trata de cumpri-las, por qualquer motivo, não querem ou não podem. A razão pela qual continuo é porque acho que a habitação é um direito básico para todos. Penso que é uma grande injustiça que na Grã-Bretanha não tenhamos tido habitação adequada desde a década de 1980.

Razia Khanom. Arte: Katie Pope
Razia Khanom. Arte: Katie Pope

RioOnWatch: Você mencionou ter aprendido sobre paralelos entre a vida nas favelas do Rio e a Palestina ocupada quando visitou o Morro da Providência. Você pode falar mais sobre isso?

Razia Khanom: A polícia brasileira usa—nosso guia turístico da favela da Providência nos alertou sobre isso—armas israelenses, quando atingem, digamos, seu ‘fim útil’ [tornando-se desatualizadas para uso em Israel]… Isso é algo que aprendi quando fui à Providência.

As pessoas que vivem em favelas também têm estado sujeitas a políticas injustas e desonestas. Elas têm necessidades que não estão sendo atendidas… [mas] ainda estão tirando o melhor de uma situação muito ruim. Tenho visto muita engenhosidade nas favelas. Para onde quer que eu olhasse, via uma casa. Olhei para o beco, outra casa. Olhei para aquele lado, outra casa. Eles responderam a uma necessidade de maneira muito criativa.

Razia Khanom [à esquerda] aplaudindo ao final de apresentação dramática de Cosme Felippsen no Morro da Providência durante passeio pela primeira favela. Foto: Rebeca Landeiro
Razia Khanom [à esquerda] aplaudindo ao final de apresentação dramática de Cosme Felippsen no Morro da Providência durante passeio pela primeira favela. Foto: Rebeca Landeiro
Perder seus irmãos, perder seus familiares para a brutalidade e ainda ter esperança de melhorar e servir sua comunidade é muito admirável. Parte de mim pensa que talvez aqueles que estão no poder tenham medo disso. Essas pessoas [nas favelas do Brasil] têm um espírito incrível. Eles têm uma vontade muito forte. Fornecer espaço para ver o que podem realmente alcançar só trará benefícios para o país.

“Essas pessoas [nas favelas do Brasil] têm um espírito incrível. Eles têm uma vontade muito forte. Fornecer espaço para ver o que podem realmente alcançar só trará benefícios para o país.”

Há coisas que os moradores das favelas estão fazendo e que perdemos em Londres. Por exemplo, esse senso de comunidade… Minha aspiração agora é replicar, tanto quanto possível, a nossa maneira, esse espírito comunitário que tenho visto nas favelas—essa paixão resiliente, seguir em frente.

Razia Khanom chega ao topo da primeira favela do Brasil, o Morro da Providência. A Baía de Guanabara e a Ponte Rio-Niterói são vistas ao fundo. Foto: Rebeca Landeiro
Razia Khanom chega ao topo da primeira favela do Brasil, o Morro da Providência. A Baía de Guanabara e a ponte Rio-Niterói são vistas ao fundo. Foto: Rebeca Landeiro

RioOnWatch: Para encerrarmos, você pode me contar um pouco sobre como foi sua viagem ao Rio e o potencial para forjar solidariedade internacional entre os TTCs? 

Razia Khanom: Fiquei muito animada para sair e conhecer as equipes. Eu não tinha ideia de como seria. Achei que poderia haver alguns passeios aqui e ali, mas foi muito mais do que eu imaginava.

Quando Cosme estava compartilhando, aquilo trouxe minha mente de volta para o front. Temos uma dificuldade coletiva. Temos uma dor coletiva, uma dor compartilhada, e grande parte da cultura nas favelas lembra bastante a de Bangladesh e o que as nossas comunidades tiveram de fazer quando vieram para o Reino Unido para se manterem seguras. A comunidade de Bangladesh estava sendo morta no Leste de Londres apenas por ser “parda”, querendo moradia, emprego e salários.

Muitas vezes, existe a ideia de que as casas baratas serão de má qualidade e, se forem de má qualidade, serão mal conservadas, porque as pessoas com baixos rendimentos não sabem como, o quê, ser civilizadas? Quando eu vi aquelas casas [nas favelas], eram lindas, tão bem conservadas. As pessoas estavam tão orgulhosas. Quando você dá às pessoas esse sentimento de propriedade, esse sentimento de pertencimento, esse controle, você as vê florescer. Sinto-me muito privilegiada por ter sido convidada não apenas para ver a Providência, mas também para ver como são suas casas. Tenho fotos e já as compartilhei com pessoas do nosso grupo de direção da comunidade para mostrar o que £7.200 (R$49.000) podem alcançar.

Razia Khanom em frente à escadaria histórica da Providência. Foto: Rebeca Landeiro
Razia Khanom em frente à escadaria histórica da Providência. Foto: Rebeca Landeiro

Hoje, vimos aquelas ameixazinhas, que eu amei, nas árvores. Os moradores são tão generosos e a sustentabilidade, meu Deus! Eles pensaram em todas as coisas que a comunidade poderia precisar. Todo mundo se conhece. Há um vínculo. Também há segurança em cuidarmos uns dos outros. Há um elemento que, se alguém não está bem, se está envelhecendo, se alguém está grávida, há um sentimento de responsabilidade ou de dever mútuo. Estou pensando em várias maneiras pelas quais o espírito comunitário das favelas e a forma como os moradores se organizam podem ser implementados no Reino Unido.

O que eu gostaria de ver é mais colaboração global. Muito pode ser alcançado quando as pessoas se reúnem e têm espaço para fazer o que desejam. Foi isso que [esta visita ao] Rio me fez pensar. Há força em números. 

Razia Khanom deixa sua mensagem à comunidade do Grupo Esperança community, na Zona Oeste do Rio. Foto: Bárbara Dias
Razia Khanom deixa sua mensagem à comunidade do Grupo Esperança, na Zona Oeste do Rio. Foto: Bárbara Dias

*Tanto o RioOnWatch quanto o Projeto Termo Territorial Coletivo (TTC) são iniciativas da organização sem fins lucrativos Comunidades Catalisadoras (ComCat).


Apoie nossos esforços para fornecer apoio estratégico às favelas do Rio, incluindo o jornalismo hiperlocal, crítico, inovador e incansável do RioOnWatchdoe aqui.