Moradores de Favelas Declaram Apoio na Manifestação do Dia dos Professores

Essa matéria é uma contribuição ao Blog Action Day 2013, uma reflexão de blogueiros de todo o mundo sobre o tema desse ano, Direitos Humanos.

Nesta terça-feira 15 de outubro, cerca de 20 mil pessoas tomaram as ruas em solidariedade aos professores em greve e também reivindicando a melhoria da educação no Brasil. Ocorrido no dia dos professores, o protesto foi o último de uma série de protestos recentes relativos  à educação, salário dos professores e plano de carreira. Os manifestantes caminharam pela Avenida Rio Branco, antes, como em outros recentes protestos, da violência eclodir entre manifestantes e policiais.

Estiveram presentes no protesto de ontem representantes de favelas e organizações comunitárias de todo Rio, mobilizados em união com os professores e chamando a atenção para suas próprias lutas no contexto mais amplo da cidade. Nós conversamos com os moradores das favelas, ativistas e professores presentes, perguntando-lhes porque eles participaram do protesto. Isto é o que ouvimos:

Nós reivindicamos porque existe um grande esforço do governo para remover as famílias e não tem investimento na educação, então o que a gente propõe e que parem as remoções e invistam na educação”. — Rachel Gepp, ativista do Favela Não se Cala

Somos da comunidade do Horto, situado no Jardim Botânico, uma comunidade bicentenária, ameaçada de remoção porque hoje o Jardim Botânico criou um novo mapa de delimitação, colocando dentro dessa área, 520 casas de ex-funcionários e atuais funcionários do Jardim Botânico para serem removidos… No Horto estamos passando por um momento em que uma de nossas escolas deve ser fechada, a escola Manuel Bandeira. Educação é a coisa mais importante de um pais, é a base de tudo. Estamos aqui, para além de apoiar o movimento dos professores, estamos aqui tentando unificar todas as reivindicações, todos que não estão satisfeitas com esse governo, nos unimos numa luta única para que isso tem uma visão mais abrangente”. — Regina Célia da Costa Coelho, moradora da Comunidade do Horto

A greve da educação, tanto quanto o processo das remoções e a precarização da vida nas favelas está relacionada a esse modelo da cidade voltado para o mercado e não para as pessoas que vivem na cidade. Na greve tem pessoas sendo reprimidas de formas extremamente violentas pela polícia, houve a criminalização dos movimentos sociais, professores sendo presos, militantes sendo preso, tudo isso está envolvida nisso, que é a compromisso do estado com as empresas privadas e o total desrespeito do estado com a população e com serviços básicos para a população”. — Vinícius Neves, professor de uma escola municipal na Maré

Nós estamos aqui porque nós queremos somar a essa luta do professor, mas também temos a oportunidade de falar que a gente não aguenta mais as remoções que esse prefeito, o Eduardo Paes, junto com o Sérgio Cabral estão fazendo no Rio de Janeiro. A gente está aqui unido com várias favelas, nós fazemos o ato unificado, nós estamos começando aqui nesse lugar aqui junto aos professores… O que está acontecendo no nosso pais é a fragilização da educação, hoje você vê que o sistema que o Eduardo Paes está querendo impor é o sistema meritocrático, e isso está querendo fazer com que a educação seja privatizada, desqualificando a educação. Os professores estão lutando por isso, não é só pelo plano de carreira, é muito mais do que isso, é pela qualidade da educação.” — Noemia Magalhães, membro Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), Residente de Duque de Caxias

Aqui tem professores do estado do Rio, do município do Rio e de escolas federais. a gente vê que os alunos das comunidades recebem uma educação com pouca infraestrutura. Por exemplo, nos colégios em que eu dou aula, dou aula em dois colégios, a internet não funciona. Eu trabalho com uma segunda língua e eu não tenho um aparelho para botar um CD para eles escutarem. Os professores de língua estrangeira, de espanhol, eles estão tendo que trabalhar em mais de uma escola e isso faz com que o rendimento caia e com que o professor não tenha uma boa relação com os alunos e com a escola. Tenho 40 alunos na minha sala de aula. é uma estrutura muito precária.” — Rubi Merino, professora de uma escola municipal na Rocinha e outra no Jardim Botânico

Nós consideramos que a educação é fundamental, é o fundamento para a sociedade, então todos nós estamos lutando por este fundamento, por que se você tem uma educação de qualidade você vai ter um povo culto, um povo que vai poder questionar, então essa é nossa objetivo aqui, não é o salário, é educação de qualidade.” — Regina Celia Rodrigues da Silva, professora do sistema público de ensino