No mês de dezembro, líderes LGBT de diversas favelas no Rio de Janeiro se reuniram para discutir o presente estado dos direitos LGBT em comunidades do Rio.
O encontro LGBT das Comunidades do Rio aconteceu no dia 10 de dezembro no Auditório Adauto Belarmino na Central do Brasil e contou com a participação de cerca de 60 pessoas de todas as idades.
Fernando Veloso, chefe da Polícia Civil do Rio compareceu brevemente e foi o primeiro a falar. Ele assegurou aos presentes que problemas relacionados as pessoas LGBT são preocupações de seu departamento. Além disso, treinamentos para policiais de como abordar respeitosamente moradores LGBT estão a caminho.
“A missão não é prender”, declarou Veloso. “A missão é assegurar os direitos”.
Claudio Nascimento, coordenador da campanha Rio Sem Homofobia, deu início oficialmente ao evento com uma breve apresentação do significado de sexualidade, homofobia e cidadania. A proposta do evento, disse ele, era identificar os problemas mais comuns enfrentados pela comunidade LGBT em favelas e debater soluções.
Ele disse ainda que Rio Sem Homofobia vem procurando desenvolver projetos em favelas e vai começar a fundar centros LGBT em diferentes comunidades. O objetivo, disse ele, é combater a homofobia, a transfobia e assegurar que a comunidade LGBT não continue a ser negligenciada por programas públicos como, por exemplo, o Bolsa Família.
Após a apresentação de Nascimento, ocorreu uma mesa redonda entre líderes do Complexo da Maré, Complexo do Borel, Mato Alto, Complexo do Alemão, Complexo da Penha, Cidade de Deus, Cidade Alta e Cinco Bocas. Cada líder procurou ilustrar o que é a vida para eles em suas comunidades e descreveram projetos de direitos humanos que eles começaram com o intuito de melhorar a qualidade de vida para membros da comunidade LGBT.
Laura Mendes, por exemplo, trabalha para um grupo chamado Além do Arco-Íris, um projeto patrocinado pelo AfroReggae, que oferece um ponto de encontro para transexuais no Rio para discutir psicologia, advocacia, medicina e relações internacionais. Além disso, o projeto também oferece ajuda para encontrar empregos e para o processo de adquirir um nome social de acordo com a lei.
Mendes contou a história de sua luta ao crescer como uma pessoa transexual, sem a compreensão dos pais e em uma sociedade intolerante. Ela disse que viveu “nas sombras” por um longo tempo, e passou um período de sua vida atrás das grades, onde a discriminação era dolorosa. No entanto, sua vida mudou quando ela finalmente recebeu uma chance e conseguiu um emprego.
“Todo mundo tem direito a vida”, ela disse. “Principalmente nós travestis e transexuais, se dão só uma oportunidade ou uma chance”.
Vários líderes concordaram que as questões mais urgentes para a comunidade LGBT e as mais comuns incluíam a falta de tratamento médico de qualidade e indiscriminado, de oportunidades de emprego, de participação do governo e o combate a intolerância pública principalmente em favelas.
Carla Silva, do Complexo do Borel, disse que ela teve experiências desconfortáveis com médicos que não são devidamente treinados para servir a comunidade LGBT. Ela disse ainda, que talvez o governo deva conduzir seminários com eles e criar diálogos sobre como abordar respeitosamente um paciente LGBT.
“Devem capacitar mais esses profissionais da area da saúde”, ela disse. “Muitas das vezes a população LGBT tem até vergonha de entrar numa sala com o médico”.
Mauro Lima dos Santos do Complexo da Maré disse que comunidades LGBT em favelas têm problemas em serem reconhecidas. Muitas vezes, ele disse, eles constroem “suas próprias favelas dentro das favelas” por conta do medo de discriminação e violência.
Após a mesa redonda, o público foi convidado a participar de grupos de discussão menores para debater problemas e soluções para a comunidade LGBT. Depois, cada grupo apresentou uma lista de questões e propostas para outra mesa de 12 líderes do governo, incluindo João Mariano, Secretário Estadual de Direitos Humanos e Assistência Social; Denise Pires, da Secretaria Estadual de Saúde; e Julio Moreira, presidente do Conselho LGBT do Rio de Janeiro.
Nascimento concluiu o seminário agradecendo todos os convidados e os presentes por comparecerem. Ele também frisou que esperava que outro seminário ocorresse no futuro, para registrar o progresso em cada comunidade.
“Há saidas, há respostas, e juntos podemos construir essas respostas”, ele disse.
No dia 21 de dezembro, Luiz Antônio de Moura, 41 anos, líder da comunidade LGBT no Complexo do Alemão foi assassinado. Os motivos por trás do assassinato não foram confirmados pela polícia, mas Nascimento disse que ele foi informado de que a morte de Moura pode ter sido fruto de seu apoio a UPP na favela.