Mais de 200 pessoas que ocupavam um prédio abandonado no Flamengo foram brutalmente removidos pela Polícia Militar na terça-feira, dia 14 de abril. Pelo menos 11 pessoas foram agredidas pela polícia e 3 presas, e há relatos de policiais usando spray de pimenta em um idoso que carregava uma criança.
Homens, mulheres e crianças ocupavam um prédio que pertencia ao ex-magnata Eike Batista em busca de moradia depois de terem sido obrigados a deixarem suas casas, devido ao aumento extremo nos preços de aluguel em favelas como Bairro 13, Providência, Mandela e Manguinhos.
O mesmo grupo de pessoas ocupava anteriormente o prédio da CEDAE. Eles estavam tentando chegar a um acordo com a Prefeitura quando a PM expulsou todos do local de forma agressiva. Em seguida, o grupo realocou-se no prédio abandonado no Flamengo. Moradores da área receberam os ocupantes com frieza, gritando ameaças do outro lado do portão.
Uma ocupante chamada Andrea disse: “Um homem se aproximou de uma das meninas e começou a gritar coisas do tipo ‘você merece’ e ‘vocês todos merecem ser violados!’ A menina começou a chorar imediatamente. Ninguém merece uma coisa dessas”.
Isabel, uma outra ocupante, explicou o que ela acredita ser a razão para terem sido recebidos com tanto ódio e resistência. Ela disse: “Os moradores do Flamengo nos odeiam porque somos pobre. Os ricos odeiam os pobres. Só os pobres protegem os pobres”.
O prédio, famoso por ter pertencido ao Clube de Regatas do Flamengo e arrendado a Eike Batista, não tem luz elétrica ou água encanada. Apesar dos planos grandiosos para o local, agora o prédio está cheio de lixo e habitado por ratos, depois de ter sido abandonado em 2012.
Antes desta último remoção, os ocupantes estavam pedindo doações de comida, água e leite, especialmente para as crianças mais novas e recém-nascidos. Fernanda Aldeir, 35, deu à luz seu sétimo filho em um dos banheiros do prédio e precisava de cuidados médicos enquanto mais de 100 policiais cercavam a propriedade.
Os ocupantes removidos estão lutando para que a Prefeitura forneça uma solução para o déficit de moradias. Muitos deles já tinham sido removidos de outras ocupações e já haviam recebido promessas de habitação pública através do programa Minha Casa Minha Vida. Eduardo, um ocupante, disse que estava na ocupação porque lhe foi prometido um apartamento do Minha Casa Minha Vida, mas ele apenas recebeu três meses de aluguel social, e ele não tem renda suficiente para alugar uma casa para sua família.
“Estamos sabendo que está rolando na mídia que nós fomos indenizados quando na verdade não recebemos indenização nenhuma, senão nós não estaríamos aqui sentados com mulheres e crianças”, ele conta, do lado de fora do prédio, momentos depois de ser removido. “Nós somos eleitores, nós votamos também. Somos cidadãos, a gente trabalha, vendemos nossa mercadoria, a gente não rouba ninguém, não somos criminosos. Então o que acontece? Somos discriminados por não ter aonde morar, entendeu? O Prefeito Eduardo Paes me prometeu um apartamento, me deu um dossier na minha mão dizendo que eu ia ter um apartamento, e me deu aluguel social por 3 meses e depois disso não me deu mais nenhum aluguel. Eu não consegui ficar no lugar que eu estava e tive que voltar para a rua. E é por isso que eu estou aqui”.
Depois dos ocupantes terem sido removidos à força, a Prefeitura ofereceu abrigo a 130 pessoas, apesar dos líderes da ocupação dizerem que havia um total de 260 pessoas no prédio.