Membros da tradicional comunidade de pescadores de Zacarias localizada no município de Maricá no estado do Rio de Janeiro e membros da ALERJ se reuniram na comunidade no dia 18 de junho em um Arraial de Resistência. A tradicional festa junina com a temática da resistência foi realizada em resposta às violações de direitos humanos relacionadas à construção de um resort de luxo na área da comunidade. No evento, representantes do governo apresentaram oficialmente um novo relatório sobre as violações na comunidade de Zacarias.
O Arraial celebrou a resistência da comunidade de Zacarias contra os empresários do setor imobiliário que desejam remover os moradores de lá para construir um resort. O evento foi constituído de diversas atividades durante as quais os moradores da comunidade e simpatizantes se uniram para jogar futebol no campo, participarem de oficinas de confecção de mandalas, corrida de canoa e assistirem a um documentário sobre a resistência da comunidade. O dia terminou com uma noite de forró tradicional e quadrilha em comemoração à longa história da comunidade e sua cultura vibrante.
Zacarias é uma comunidade de pescadores tradicional de aproximadamente 150 famílias que prosperou na costa da Reserva da Restinga, localizada a 60km a leste do Centro do Rio de Janeiro, pelos últimos 200 anos, com as primeiras aparições em mapas em 1790. A população de Zacarias tem lutado contra a ameaça de remoção ao longo dos últimos 73 anos. As mais recentes violações na área têm sido por parte da companhia imobiliária privada IDB Brasil, um grupo que pertence à firma espanhola Cetya.
No encontro de resistência, o líder da Associação de Moradores Vilson Correa afirmou: “Nós somos fortes. Nós estamos resistindo”.
O evento também foi uma oportunidade para representantes do governo apresentarem oficialmente o relatório de violações de direitos humanos na comunidade tradicional de Zacarias, violações estas cometidas pelos empresários do setor imobiliário que receberam licenças ambientais especiais. O relatório foi compilado por Cecilia Vieira de Melo e pelo Deputado Estadual Flávio Serafini, de Niterói, da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania do Estado. O relatório foi apresentado no dia 30 de abril na ALERJ. Flávio Serafini falou no evento de 18 de junho, afirmando: “Nosso mandato não pensa que as pessoas que viveram por centenas de anos no mesmo local devem ser removidas assim que alguém com dinheiro deseja expropriar suas terras”.
O relatório alega que a licença ambiental para construir na área “coloca a comunidade tradicional pesqueira em situação de vulnerabilidade, pressão e potencial violência”. A intimidação e a presença de representantes da IDB Brasil em Zacarias antes que qualquer licença ambiental fosse emitida fragmentou a comunidade e bloqueou rotas de acesso dos barcos dos pescadores ao oceano.
Flávio Serafini também afirmou que Zacarias não é a única comunidade tradicional de pescadores com risco de ser removida por conta da especulação imobiliária. No início deste mês, um homem de 23 anos foi morto em sua casa em Trindade, Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, por uma disputa de terras entre os empresários imobiliários e moradores tradicionais que lutam para permanecer. Além disso, exceções e violações de leis ambientais são altamente negligenciadas na região da Costa Verde no Estado do Rio, com proprietários ricos comumente construindo casas em áreas de proteção.