Estamos sofrendo com invasões da polícia há três dias seguidos em algumas favelas da Maré, localizada na Zona Norte do Rio. Moradores o dia todo, desde a manhã desta sexta, dia 29 de julho, ouvem tiros, não conseguem sair ou entrar em casa.
Eu, por exemplo, não consegui sair de casa até agora. Durante o dia, tive que me jogar no chão algumas vezes dentro de casa para não ser atingida por balas. São balas que matam, que nos matam, que nos impedem de viver e circular a cidade.
Por mais um dia não teve aula em algumas escolas do conjunto de favelas da Maré. Inúmeras crianças sem aula, inúmeras pessoas sem poder ir ao trabalho, são vários os comércios fechados durante toda esta sexta-feira. Ironicamente, o jornal Extra publicou hoje na capa uma matéria intitulada de: “Presença de militares nas ruas derruba a violência”. Daí a gente se pergunta, derrubou a violência de onde? Essa paz que eles afirmam ter na cidade é para quem e em nome de quem? Por que as favelas são sempre as massacradas em nome de um magaevento? Por que nós temos que pagar com a vida para que aconteça na cidade um jogo feito para uma minoria rica da população? Por que, qual o motivo de ouvirmos tiros desde madrugada desta sexta?
Para terminar, é importante dizer que esta é uma guerra inventada, a guerra às drogas é uma guerra inventada, porque não existe fábrica de armas nas favelas e muito menos plantação de drogas. Mas, somos nós o público que toda a sociedade aceita matar, aceita exterminar, uma maioria finge não ver, não querem saber, apenas aplaudem esse terror que nós mareenses estamos sofrendo hoje.
Gizele Martins é jornalista e comunicadora comunitária do conjunto de favelas da Maré.