Na sequência do debate realizado na Maré no dia 15 de setembro, os candidatos a prefeito do Rio participaram, no dia 18, de um encontro com moradores de favelas de toda a cidade no histórico Museu do Samba, na Mangueira. Mais de 400 pessoas compareceram para escutar os candidatos responderem às questões dos moradores. Todos os 11 candidatos foram convidados para o evento, dos quais oito confirmaram presença e apenas seis realmente compareceram ao encontro. Os seis candidatos que participaram foram Alessandro Molon (REDE), Jandira Feghali (PCdoB), Marcelo Crivella (PRB), Marcelo Freixo (PSOL), Carmen Migueles (NOVO) e Cyro Garcia (PSTU).
O bispo evangélico Marcelo Crivella foi o primeiro a chegar, e foi recebido com aplausos entusiásticos e vibração do público. Ao longo do encontro, recebeu a maior quantidade de aplausos, antes mesmo de ter iniciado a falar. Ele está à frente nas pesquisas de opinião, com 27% das intenções de voto. A multidão também foi particularmente receptiva a Jandira Feghali e a Marcelo Freixo, e aplaudiram cada vez mais suas respostas conforme a conversa prosseguia.
O encontro foi organizado pela Agência de Notícias das Favelas (ANF), que foi fundada em 2001 para estimular a integração e a troca de informações entre as comunidades. A ANF selecionou cinco tópicos para a conversa–cultura, esporte e lazer, educação, infraestrutura e saúde–e cada candidato respondeu a uma questão de cada tópico. Moradores de favelas de todo o Rio enviaram antecipadamente à ANF perguntas sobre cada um dos assuntos.
As questões a respeito da cultura enfocaram o funk, investimentos governamentais na preservação e promoção da cultura e a ocupação do Ministério da Cultura, conhecida como OcupaMinC. Alessandro Molon e Marcelo Freixo, que receberam questões sobre o funk, enfatizaram sua importância e posição na cultura do Rio. Jandira mencionou a Pequena África e a Zona Portuária do Rio como exemplos de áreas onde a cultura deve ser preservada. Marcelo Crivella, ao ser indagado sobre o OcupaMinC, movimento de protesto contra o corte do Ministério da Cultura anunciado pelo presidente Michel Temer, a princípio não reconheceu do que se tratava a questão.
Em relação à educação, a importância das creches aflorou frequentemente. As perguntas demonstraram que os moradores estão preocupados com as oportunidades para as crianças e, a nível prático, necessitam de um lugar onde deixarem seus filhos enquanto trabalham. A relevância das creches e da educação, em geral, também surgiu inúmeras vezes quando os candidatos foram indagados sobre a segurança pública. Para Carmen Migueles, a maior falha em relação à segurança é não proteger as crianças. Jandira Feghali afirmou que mantê-las na escola durante o dia seria uma das propostas mais convenientes em relação à segurança.
Questionamentos sobre a saúde demonstraram que os moradores das favelas estão preocupados com a falta de recursos e o acesso desigual aos serviços do setor. Marcelo Freixo e Cyro Garcia declararam que quando o governo federal fracassa em administrar seus estabelecimentos de saúde, o município deveria assumir o controle sobre eles. Para a médica Jandira Feghali, a desigualdade observada no acesso aos serviços de saúde reflete as condições de vida desiguais por toda a cidade. A mortalidade infantil, por exemplo, é maior nas favelas.
Finalmente, no que concerne à infraestrutura, os candidatos enfatizaram a importância de incluir os moradores das favelas na tomada de decisões. Como exemplo, Alessandro Molon apoiou os moradores da Rocinha pela rejeição, bem-sucedida, à proposta da construção um teleférico na comunidade.
Conforme o dia das eleições se aproxima, o modo como os candidatos interagem com os moradores das favelas, tradicionalmente negligenciados pelo governo, e reagem aos seus interesses, é crucial.