No dia 17 de setembro, a campanha Vereadores Que Queremos organizou uma noite de entrevistas, debates e mesas redondas com 18 candidatos a vereador nas eleições municipais do Rio de Janeiro que ocorrerão este domingo dia 2 de outubro. O encontro aconteceu na Casa Coletiva, um centro de encontro de movimentos sociais, produções de mídia alternativa e ativismo social no bairro de Santa Teresa, no Centro do Rio.
Com a rápida aproximação das eleições, a organização sem fins lucrativos Rede Livre recentemente lançou a campanha #VereadoresQueQueremos para oferecer visibilidade e recursos midiáticos para alguns candidatos selecionados concorrendo ao cargo de vereador em diversos municípios por todo o Brasil. A plataforma colabora com candidatos de vários partidos políticos que se comprometeram com processos coletivos, democráticos e de base. A esperança é encorajar a cidadania ativa e chegar a uma câmara de vereadores honesta e comprometida, social e etnicamente, que reflita a diversidade cultural e a pluralidade da sociedade brasileira. A principal questão durante o debate no evento do dia 17 foi: “como podemos tornar a nossa cidade mais democrática?”.
Os 18 candidatos que participaram do evento são de diferentes área de atuação e discutiram assuntos urgentes como direitos trabalhistas, violência contra mulheres, homofobia e transfobia, bolsas para educação e ação afirmativa, liberdade religiosa, violência policial, liberdade de imprensa e a falta de diversidade racial nos órgãos públicos, entre outras coisas.
Várias outras organizações estão envolvidas na campanha e uniram forças para possibilitar o evento de sábado. A Casa Coletivo providenciou o espaço em união aos esforços da Rede Fora do Eixo, da Mídia Ninja e do Pós TV. Estes grupos trabalharam coletivamente para transmitir o evento ao vivo pelo Facebook. Espectadores que não puderam comparecer ao evento pessoalmente, enviaram perguntas aos candidatos em tempo real pela página no Facebook.
Ana Pessoa, da Mídia Ninja e residente da Casa Coletiva, descreveu a emergência da campanha Vereadores Que Queremos: “[O projeto] nasceu de um laboratório que fizemos em 2012 em São Paulo chamado A Cidade Que Queremos. Foi uma série de debates com candidatos transmitida dia e noite ao vivo pela Pós TV… Quanto mais você ocupa a política, mais você consegue entrar e disputar no sistema de dentro para fora”.
Representando uma mudança importante dada a sua histórica baixa representação na política, diversos candidatos moradores de favelas participaram do evento do dia 17. Claudete da Costa viveu como moradora de rua durante a infância no Rio, até que sua família se estabeleceu na Cidade de Deus quando ela tinha 16 anos. Claudete trabalha para o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis. Nestas eleições ela está se candidatando pelo partido REDE Sustentabilidade e está determinada a fortalecer as vozes dos catadores de lixo, os principais coletores de materiais recicláveis no Rio, no governo local. A sua preocupação é garantir que as políticas públicas e leis existentes, que garantem os direitos dos catadores sejam realmente colocadas em prática. No sábado, Claudete afirmou: “Umas das minhas motivações para me envolver na política é a questão da comunidade negra–precisamos de um espaço de empoderamento! Eu quero fazer parte de um legado de garantia dos direitos humanos, o que requer o envolvimento da comunidade negra na política!”.
Alan Jorge nasceu, foi criado e ainda mora e trabalha na Rocinha. Ele é um dos fundadores do primeiro jornal da Rocinha e também ajudou a fundar a Rádio Rocinha. Hoje ele trabalha como apresentador na rádio comunitária Rádio Brisa. Ele representa o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) na campanha para vereador: “Temos mais de 300.000 moradores na Rocinha. Queremos um governo local que vise as necessidades das favelas!”.
Marielle Franco é oriunda do Complexo da Maré. Ela é candidata pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e sua campanha foca nos direitos dos moradores de favela e na igualdade de gênero para mulheres negras. Ela é formada em Sociologia pela PUC Rio e mestre em Administração Pública pela UFF, onde escreveu a dissertação “UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança do Estado do Rio de Janeiro”. Ela trabalhou em várias organizações civis, incluindo a Fundação Brasil e o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (CEASM). Atualmente ela é coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).
Célio Gari começou a trabalhar na Comlurb em 2002 e ajudou a organizar a greve dos garis durante o carnaval de 2014 e 2015 em apoio aos direitos dos garis. A campanha de Célio foca na participação ativa de trabalhadores no governo local. No sábado Célio explicou que “o gari é um agente de saúde comunitária. Nós proporcionamos uma cidade saudável. Queremos participar do processo político, disputar instituições e lidar com o problema da crise de representatividade”. Ele também é candidato pelo REDE Sustentabilidade.
David Michael Miranda cresceu no Jacarezinho e hoje trabalha como jornalista internacional. Ele está envolvido em várias causas sociais, entre elas na campanha Rio Sem Homofobia. Com o coletivo Juntos! ele ajudou a lançar o projeto Casa da Juventude, que se dedica ao ativismo, a mídia livre e a produção cultural. Com o seu parceiro Glenn Greenwald, David é reconhecido mundialmente pelo seu ativismo em defesa da internet livre: “Eu não quero que ninguém perca a esperança no processo político, especialmente no atual momento que o país enfrenta. Eles venderam a ideia que política não é para ser discutido. Vamos mudar essa perspectiva. Temos que estabelecer uma frente progressista na cidade”, concluiu David no evento. David é candidato pelo PSOL.
A transmissão completa dos debates e discussões pode ser encontrada na página do evento no Facebook.