O ativista ciclista Carlos Leandro de Oliveira, 35 anos, conta que seu interesse pelo ciclismo começou durante um momento de dificuldades financeiras. “Eu estava três dias sem receber meu salário”, ele diz. “Não tinha dinheiro para pagar a passagem do ônibus para ir para o trabalho. Então, comecei a ir de Queimados para o Rio de bicicleta. E aí eu vi que eu podia usar a bicicleta como meio de transporte, e deste modo eu não dependia do transporte público“. Desde então Leandro se dedica à promoção do ciclismo como um método de transporte mais barato e mais sustentável em Queimados e Japeri, municípios localizados na Baixada Fluminense na Grande Rio.
Carlos Leandro nasceu e foi criado em Queimados e estudou gestão ambiental na Universidade Carlos Branco. Seu atual serviço de consultoria ambiental visa “estimular através do engajamento do poder público, da sociedade civil, das unidades de ensino e da iniciativa privada a adoção da bicicleta como meio de transporte para que possamos ter uma cidade mais humana e menos motorizada”. Sob o pseudônimo de ativista, Carlos GreenBike, Carlos Leandro planeja pedalar em novembro na região do Rio Doce em Minas Gerais, em reconhecimento do trágico e gigantesco rompimento das barragens e deslizamento de terra tóxica que ocorreu no local de mineração da Samarco, em Mariana no ano passado. “O objetivo é ver o que realmente aconteceu, e ver como os moradores estão um ano depois”, ele diz, observando que é fácil para o público esquecer sobre incidentes como esse uma vez que a primeira onda de notícias passa.
Carlos Leandro participou recentemente da Bicicletada Metropolitana da Casa Fluminense como parte da campanha #Rio2017. A campanha visa chamar a atenção para as metas do desenvolvimento do Rio pós-Olimpíadas e promover um conceito mais unificado do Rio, de modo a ser inclusivo com a grande área metropolitana, que é o lar de 74% da população do estado. De acordo com a Casa Fluminense, mais de metade dos moradores de Japeri gastam mais de uma hora no deslocamento para o trabalho todos os dias, contribuindo para o índice de expectativa de vida dos moradores de Japeri que é dois anos menor do que a dos moradores do Rio. Como Leandro ressalta:
“A Prefeitura do Rio sempre diz que o Rio tem a maior malha cicloviária da América Latina, mas eu pergunto: ciclovia para quem? Majoritariamente as ciclovias do Rio de Janeiro estão na Zona Sul. Se você está vindo da Baixada Fluminense e desce na estação Central do Brasil, você não tem como chegar por meio da ciclovia até o Aterro. Para chegar na ciclovia você tem que passar pela rua, no meio do tráfico.”
Leandro descreve uma série de obstáculos enfrentados para se deslocar de bicicleta, por aqueles que vivem fora do Centro da cidade do Rio. Bicicletas são apenas autorizadas nos sistemas de trem e metrô depois das 21h durante a semana e nos finais de semana. “Falta estrutura dentro do trem pra deixar a bicicleta” ele diz, “e as pessoas olham para você como se fosse um extraterrestre”.
Leandro também destaca a falta de lugares para prender as bicicletas: “Em Queimados, muitas pessoas andam de bicicleta até a estação, mas não tem onde trancar as bicicletas e os furtos de bicicleta são muito altos. Você não pode ir de bicicleta para fazer compras e deixá-la do lado de fora e ficar tranquilo. Você tem que ficar de olho nela sempre”.
O Prefeito Eduardo Paes prometeu construir 450km de novas ciclovias antes dos Jogos Rio 2016 para cumprir a promessa da prefeitura de que as Olimpíadas trariam renovação urbana, desenvolvimento sustentável e inclusão. Bairros da Baixada Fluminense poderiam ter sido beneficiados especialmente. Como Carlos Leandro diz, não há ciclovias nas periferias do Rio. De acordo com o geógrafo Hugo Costa, as ciclovias que foram construídas estão quase exclusivamente nos bairros da Zona Sul e na Zona Oeste, que já possuem o maior espaço de lazer e a menor densidade populacional. Moradores do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, se depararam com a prometida ciclovia, de 22km, incompleta e construída com qualidade inferior.
Além disso, uma política especial adotada especificamente para as Olimpíadas tornou o deslocamento através de bicicletas quase impossível para os moradores do Rio durante os Jogos. “Durante as Olimpíadas e Paralimpíadas–que supostamente promovem esportes, acessibilidade e inclusão–ninguém podia entrar no metrô ou no trem com uma bicicleta”, Leandro descreve. “Foi uma forma de exclusão“.
Carlos Leandro ainda permanece esperançoso. Para ele, já que os Jogos Olímpicos Rio 2016 não foram bem sucedidos como “ponto de chegada” para legados, eles podem ser usados como um “ponto de partida” para novas melhorias.
Doações para a viagem ecobicicletária de Carlos GreenBike ao longo do Rio Doce podem ser feitas em sua campanha de financiamento colaborativo Kickante até 22 de outubro ou entrando em contato com ele através do número +55 21 97511 3860 ou na página do Facebook de Carlos GreenBike.