No dia 5 de agosto, vários grupos interessados na limpeza da Baía de Guanabara se reuniram para uma barqueata em apoio aos pescadores da baía. As comunidades pesqueiras da Baía de Guanabara têm sido prejudicadas de forma consistente com a poluição e a violência direta da indústria do petróleo, bem como a falsa promessa de uma baía mais limpa para os Jogos Olímpicos de 2016.
O evento foi organizado pela rede de organizações Baía Viva, Casa Fluminense, Associação de Pescadores Livres de Tubiacanga (APELT), Fórum de Pescadores e Amigos do Mar, Goethe-Institut Rio de Janeiro, e a Associação dos Ciclistas da Ilha do Governador (ACIG). O evento começou com discursos que descreveram a importância de uma baía limpa, os efeitos prejudiciais das atividades petroquímicas e a falta de ação governamental sobre questões prementes de esgoto e poluição.
Representantes de diferentes comunidades indígenas falaram sobre a importância da água nas culturas indígenas e apresentaram algumas músicas, incluindo uma canção tradicional para entrar na água antes do grupo embarcar. As músicas compostas especificamente para a Baía de Guanabara criticaram as tentativas das indústrias de “comprarem” direitos sobre o meio ambiente, argumentando que o valor dos recursos naturais não podem ser quantificados.
Sérgio Ricardo, ecologista, planejador ambiental e coordenador do Baía Viva, apresentou a agenda da organização, que ele espera que atenda às necessidades dos diversos grupos que defendem uma baía limpa. O plano resultou em diferentes fóruns públicos em torno da baía, e na colaboração da academia e de outros parceiros públicos. Ricardo falou sobre o estado atual da baía e as necessidades que ele e sua organização identificaram que: “Infelizmente até hoje [as obras prometidas pelo governo] estão incompletas“, e a iniciativa precisa “ampliar a participação popular“. Por exemplo, relatórios como os apresentados no fórum público na Maré mostram que as comunidades próximas precisam de melhorias na infraestrutura, o que, por sua vez, desviaria a poluição da baía.
Ele aconselhou que o governo deveria trazer os recursos existentes e administrar os esforços para a limpeza da baía. Um plano para a baía deve ter a “sabedoria de ouvir as universidades–a universidade pública que estuda essa baía há quarenta anos–de ouvir os pescadores e ter uma outra agenda“. Ele também explicou que as fontes de poluição vão além do simples desvio de toxinas e esgoto para a água: “Além da indústria de petróleo, nos preocupa muito o que nós chamamos de assoreamento. A baía está secando em vários pontos. Isso é uma preocupação muito grande, e tem a ver com o desmatamento“.
Ele explicou que muitos barcos grandes na baía, pertencentes a várias indústrias, operam sem licença ambiental, e que apenas 12% da superfície da baía está disponível para os pescadores. A realidade é que “se um pescador encosta com seu pequeno barco perto de uma plataforma de oleoduto, de gasoduto… que é ocupada pelo negócio do petróleo, ele é preso, a embarcação é presa, e ele vira um criminoso ambiental. Existe um processo de criminalização dos pescadores aqui”.
Sérgio Ricardo continuou dizendo que o barco passaria pela região de São Gonçalo, onde tem uma taxa particularmente elevada de poluição por esgoto e lixo. Os participantes embarcaram para a barqueata em um grande barco, enquanto um grupo de pescadores anexava bandeiras aos barcos e se juntou à viagem. A quantidade de barcos era impressionante–e eles passaram por diferentes pontos da paisagem icônica do Rio, como a Ponte Rio-Niterói e as ilhas da baía chamando a atenção para a necessidade de proteger esse elemento importante da cidade.
Quando o barco retornou para a Praça Mauá, jovens violinistas da comunidade pesqueira se apresentaram. A tarde, os participantes se reuniram para uma bicicletada até a Praça Tiradentes, onde ocorria o evento”Jogos do Sul”, organizado pelo Institut Goethe.