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Comerciante Que Perdeu Barraca na VK: ‘O Sonho Não Acabou, Mas Me Atrasaram Bastante’

Por Luisa Fenizola • 11/04/2018

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Pelo menos duas remoções marcaram a história da Vila Kennedy.

A primeira, após o golpe militar de 1964, foi a remoção das famílias que viviam na Favela do Esqueleto. A remoção foi feita pelo governo do Estado para a construção da UERJ. As famílias removidas foram reassentadas nas recém criadas Vila Kennedy e Vila Aliança, em alusão ao presidente americano que tinha acabado de ser assassinado e à Aliança para o Progresso, programa de cooperação entre os Estados Unidos e o Brasil que financiou a sua construção, como parte da política de boa vizinhança americana no contexto da Guerra Fria, para assegurar a América Latina como área de influência americana.

A segunda, no dia 9 de março de 2018, foi a remoção, dessa vez por parte da prefeitura, das barracas que ficavam na Praça Miami, principal entrada da comunidade e local de comércio farto.

Grasiele Gomes não viveu a primeira remoção. Mas com “42 anos de idade e de Vila Kennedy”, como ela mesmo diz, é uma comerciante que teve sua barraca derrubada, dentre outros. Ela fazia e vendia suas quentinhas na praça. “Eu fui camareira de um hotel, eu vendi Natura. Sempre me virei. Mas sempre amei cozinhar.”

“E a comida dela é uma delícia”, disse uma moradora que passava pelo local e entreouviu a conversa. “A gente tava acostumado a comer com ela aqui na praça.”

“É, tem até um grupo no Whatsapp”, emenda Grasiele com um sorriso. “Pessoal liga perguntando ‘Grasi, quando você vai voltar?’. Eu fazia frango assado, costela no bafo. Era eu, meu esposo, minha mãe e minhas filhas me ajudando. Atendia os próprios barraqueiros, motorista de ônibus e passageiros, porque aqui é ponto final, então tem muito movimento. Vinha gente de fora, do Coqueiro, do Catiri, de Bonsucesso, pra comprar na feira daqui, que é famosa, e comia a minha comida. E movimentava a economia da comunidade, gerava renda, né? Porque eu comprava no mercado daqui, comprava com o feirante e vendia a quentinha pra ele.”

Até que sua barraca foi derrubada pela prefeitura sem nenhum aviso prévio. “Eu tava descendo para trabalhar, por volta de 8 da manhã, e me falaram ‘Grasi, corre, que vão quebrar tudo’. Passou um filme na minha cabeça: ‘eu não briguei com ninguém, não entrei em confusão, quem quer quebrar minhas coisas?’. Eles chegaram de supetão, a prefeitura nunca tinha ameaçado fazer isso, nunca tinha dito nada.”

“Desde então eu parei tudo. Eu tava tentando fazer em casa, mas não tenho estrutura pra isso. Me desestabilizou de uma maneira que eu não consegui reagir. Cinco anos que eu trabalhava aqui. A minha casa depende totalmente de mim. Meu marido tá desempregado há dois meses. Mexeu com meu ego como pessoa”, disse ela, emocionando-se. “Eu era a provedora da casa. Tenho cinco filhos, dois netos. Ajudo meu filho mais velho que não mora comigo, que a esposa tá grávida. Você raramente vai me ver pedindo alguma coisa, eu gosto de trabalhar. Quando meu filho vem e diz ‘Ah, mãe, me dá um dinheirinho pra eu tomar um açaí com a minha namorada,’ eu quero poder dizer, ‘toma aqui’.”

“Agora eu tô dormindo até 11 da manhã. Eu me sinto doente. Vivendo um dia por vez. Tiraram totalmente meu chão. Meu projeto de vida, meus sonhos. Pra mim aquilo era só o começo. Eu queria abrir um restaurante. Não que o sonho acabou, mas me atrasaram bastante.”

O argumento alegado pela prefeitura para a derrubada das barracas é que as pessoas estavam trabalhando de forma ilegal. “Alguns barraqueiros que colaram com a prefeitura chegaram na reunião e disseram: ‘a gente tem que entender que a gente tava ilegal’. Beleza, estávamos ilegais, mas a prefeitura errou dentro da nossa ilegalidade. Ela foi mais ilegal ainda, porque ela conhece a lei e a gente não conhece. Ela errou em cima do meu erro”, acusou Grasiele.

Desde então, os barraqueiros receberam licenças para trabalhar e alguns se cadastraram como Microempreendedores Individuais (MEI) para poder ter acesso aos empréstimos prometidos. Mas o MEI exige um pagamento mensal de mais de R$50, mais um custo para o barraqueiro que não existia antes. Além disso, a prefeitura começou a instalar quiosques padronizados, de tamanho bastante inferior ao que a maioria dos barraqueiros usava. Se o que faltava era legalização para retomarem os trabalhos no mesmo local, para que foi preciso derrubar as barracas?

“Eu acredito que a intenção foi outra”, disse Grasiele. “Aqui realmente tava tendo muito confronto, tiroteio todo dia. Os caras e a polícia e o barraqueiro virava alvo. Eles vieram derrubando tudo porque as barracas impediam a visualização da polícia. Mas o problema eram as barracas para botar ordem no bairro? Eles vieram arrebentando tudo, não tinham intenção nenhuma de legalizar ninguém, não tinham nem um plano de remanejamento, queriam derrubar e acabou. Só quando repercutiu, quando veio a imprensa, que a prefeitura teve que botar a cara.”

“Na hora mesmo ninguém falava nada. O pessoal da prefeitura ficou arredio, calado. Quando um barraqueiro foi pedir satisfação ele foi até agredido, recebeu um empurrão. Ninguém falou o que a gente podia fazer, qual era nosso direito. Depois que repercutiu, o prefeito se manifestou em nota e chamou uma reunião com os barraqueiros. No dia seguinte, nós nos reunimos com o prefeito no Palácio da Cidade“, disse ela, lembrando do custo que teve para ir até o Centro da cidade. O filho, que começou a trabalhar de jovem aprendiz, emprestou o vale-transporte para ela ir.

Na reunião, o Prefeito Crivella anunciou uma linha de microcrédito, de R$12-15.000, para os barraqueiros comprarem o que foi perdido e recomeçarem. “Eles querem colocar como se eu tivesse pedindo. A prefeitura ofereceu [microcrédito] e eu vou reivindicar [esse] meu direito, já que eu tô nessa situação. Mas [o microcrédito] é uma burocracia. ‘Ah, estamos vendo qual banco tem os juros mais baixos’, eles disseram. Detalhe: é a gente mesmo que vai pagar o empréstimo depois! Então pra quê isso?”

“Na verdade a gente queria uma resposta imediata, porque as contas chegam. Eu falei isso no dia da reunião. A Clarissa Garotinho [secretária de Desenvolvimento, Emprego e Inovação] ainda propôs, na ignorância dela, que eu levasse e trouxesse as minhas mercadorias. Eu podia até fazer isso se eu tivesse um carro ou uma moto. Mas mesmo assim tem um custo de gasolina. Eu tinha fogão, geladeira, gás na barraca; fazia as compras e trazia direto para cá. Eu vou me sujeitar a isso? Eu tô passando maior perrengue.”

Na praça ainda se vê comércio. Tendas brancas do tipo de praia, disponibilizadas pela prefeitura após alguns dias da ação, foram colocadas no lugar das barracas derrubadas. “Se bater a vigilância sanitária, vão dizer que a gente tá errado e a gente vai perder tudo de novo, mesmo sendo a prefeitura que mandou fazer assim”, diz outra barraqueira. “Falei que a tenda não seria viável. Perguntei se ia ter suporte, condições de trabalho. A Clarissa Garotinho perguntou que tipo de suporte eu precisava. Preciso de uma pia, por exemplo. Ela disse que ia ter”, disse Grasiele, mas uma observação rápida confirma que as tendas não têm nenhuma estrutura. Entra chuva, a comida fica exposta.

Estão funcionando nelas em geral as barracas que não trabalham com alimentação. Um barbeiro, uma venda de capas de celulares. Em uma outra, debaixo da tenda ficam os salgados expostos e banquinhos para os clientes, mas o barraqueiro instalou novamente sua barraca mais estruturada para colocar o freezer que armazena os salgados, a fritadeira e o aparelho de moer cana. “Quase estourei minha coluna levando e trazendo o aparelho de volta. Éramos quatro, mas precisava de oito homens. Tem que trabalhar, não dá pra ficar parado. Vou ter que fazer uma adaptação no quiosque que a prefeitura vai dar pra conseguir botar a fritadeira. Tem que ver se pode.”

“Sou da barraca, mas não sou barraqueira”, brinca Grasiele. “Mas luto pelos meus direitos. O pessoal da Comissão de Barraqueiros diz que eu sou brigona. Eu não sou brigona, eu tô dentro da minha razão. Como que eu vou ter calma? Meus filhos não esperam, meu aluguel não espera, minhas dívidas não esperam. Meu telefone já cortou, só tá recebendo chamada. Nossa necessidade é para ontem. Eu falei desde o começo pros meus colegas ‘vocês não têm que aceitar pouca coisa’. A maioria aceitou, aí a prefeitura entende que a gente já tá trabalhando.” Na reunião, Grasiele mencionou o aluguel atrasado e obteve em resposta uma promessa de aluguel social, que é inferior ao valor que ela paga, “mas já ajuda”, como ela disse. Passado um mês, no entanto, ela ainda não recebeu. Quando procurou a prefeitura para confirmar seus dados, a resposta que obteve foi “vamos ver se mês que vem cai”.

“A primeira–e única–cesta básica que eles deram era uma vergonha. Eu como pobre não como aquilo que tinha na cesta. E eu não vendia aquilo. Não me ensoberbecendo, mas eu trabalhava pra ter o melhor para a minha família. É maior esculacho, é pisar na cara do povo. ‘Vocês tão passando fome? Então toma aí’. Eu nunca quis cesta básica, eu não queria aluguel social. Eu quero trabalhar. Eles me tiraram isso”, lamentou ela. “Eu não precisava disso antes, eu trabalhava para não depender de nada. Eu achei humilhante, mas na minha necessidade eu tive que pegar. Ainda falaram que não era pra gente ficar falando da cesta básica por aí, que era pra gente ficar agradecido e não reclamar.”

“Suporte a gente não tem nenhum. A gente só tem promessa”, concluiu Grasiele.

Matéria atualizada às 15:42 em 11 de abril de 2018.

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