O Centro Comunitário Irmãos Kennedy #RedeFavelaSustentável [PERFIL]

Perfil da Rede Favela Sustentável*

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Iniciativa: Centro Comunitário Irmãos Kennedy – CCIK
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Ano de Fundação: 1969 / 2010
Comunidade: Vila Kennedy
Missão: O Centro Comunitário Irmãos Kennedy é uma associação sem fins lucrativos gerenciada por voluntários com o objetivo de realizar projetos sociais para desenvolver, empoderar e gerar oportunidades para a comunidade.
Eventos Públicos: O calendário dos eventos semanais e dos cursos oferecidos pelo CCIK pode ser encontrado em sua página do Facebook.
Como Contribuir: O CCIK busca parcerias financeiras para sustentar sua força de trabalho voluntária. Também está de portas abertas para voluntários que possam lecionar nos cursos existentes ou ofertar novos cursos. O Centro no momento precisa especificamente de voluntários com conhecimento de design gráfico e criação de websites.

A  Vila Kennedy, na Zona Oeste do Rio, tem enfrentado sua parcela de desafios em 2018, variando de despejos dos quiosques locais até chuvas destruidoras e uma presença policial intensa. Mas em uma manhã de sábado no final de abril, ocorreu uma celebração no Centro Comunitário dos Irmãos Kennedy (CCIK). Com quase doze voluntários e quase nenhum recurso financeiro, o CCIK celebrou seu 49⁰ aniversário e a formação de estudantes do primeiro semestre dos cursos e atividades, os quais incluem aulas de taekwondo para crianças, aulas de inglês, treinamento para trabalhos administrativos e cuidado de idosos. Seguindo a cerimônia, as crianças se reuniram ao redor da mesa com o bolo de aniversário do centro, enquanto os participantes de todas as idades do CCIK posavam para uma foto com seus diplomas.

No evento, Verônica Gomes Martins da Silva, uma assistente social nascida e criada na Vila Kennedy, estava distribuindo os certificados dos cursos, e cuidando do centro comunitário. Ela começou o voluntariado no CCIK em 2010, quando o espaço deixou de ser uma creche comunitária (fundada por freiras católicas em 1969) e passou a ser o centro que é atualmente. Verônica participou de diversos projetos comunitários durante sua vida, a mãe dela trabalhou na creche e Verônica passava ali o seu tempo livre durante a infância. É natural e nada surpreendente que ela seja atualmente a diretora-presidente do mesmo local, que já proveu serviços para mais de 10.000 pessoas desde 2010, de acordo com Verônica. “Eu posso estar trabalhando em qualquer outro lugar” ela diz com um sorriso no rosto, “mas meu coração está aqui”.

O CCIK oferece uma variedade de atividades e aulas semanais, como: aulas de basquete, aulas de música para crianças, grupos de conversa sobre empoderamento feminino, aconselhamento jurídico solidário, suporte psicológico, serviços sociais e programas de treinamento para trabalho (incluindo administração, recursos humanos e oficinas de artesanato) com parceiros municipais como SENAC e SESC.

“Hoje o centro comunitário faz de fato uma grande diferença: impacta diretamente a vida dessas pessoas. A gente tem consciência disso”, diz Verônica. Em média, o centro oferece mensalmente serviços para mais de 200 pessoas. Para cada curso oferecido, o CCIK recebe em torno de 70 a 80 cadastros, a demanda excede os recursos disponíveis. Por exemplo, 32 estudantes estão ativamente matriculados no curso de inglês, enquanto outros 40 estudantes estão na lista de espera. Similarmente, aproximadamente 25 estudantes estão matriculados nas aulas de taekwondo, para a qual existem mais de 50 cadastrados.

Apesar das conquistas, Verônica não esconde as dificuldades de comandar uma ONG. “É um desafio muito grande, fazer o centro comunitário ser uma referência dentro do território… É um trabalho muito difícil: fazer serviço social sem recurso nenhum”,  ela diz. O centro conseguiu formar parcerias por toda a cidade, mas mesmo assim o suporte financeiro é quase impossível de chegar. Verônica tem outro trabalho, de forma a conseguir ser voluntária como diretora, e nenhum dos outros 10 voluntários é compensado financeiramente pelo trabalho, algo que ela quer mudar para “valorizar os voluntários que hoje estão aqui”.

Através do seu trabalho com o CCIK, Verônica aprendeu que mudanças não ocorrem da noite para o dia. “Quando você chega em um trabalho comunitário, um projeto social, você quer fazer, quer que algo aconteça [imediatamente].” Na realidade, ela percebeu que o processo é mais complicado: você descobre a necessidade de planejar, organizar, de fazer programações. “E isso é tudo de forma mais lenta.” Isso explica por que, por um lado, ela descreve uma visão ideal de um “centro comunitário revitalizado, com reformas feitas, com muito mais parcerias… se for para sonhar”. Por outro lado, ela descreve um objetivo mais estruturado de “avançar… de forma consciente” para “conseguir recurso financeiro para de fato conseguir fazer tudo que a gente precisa hoje”. Ambas as visões são necessárias para que o CCIK alcance seus objetivos.

Além dos problemas monetários, Verônica identifica dois principais desafios em trabalhar na Vila Kennedy. O primeiro é a situação de segurança da comunidade, a qual “acabou fragmentando um pouquinho as nossas ações”, ela disse. A insegurança “acaba desmotivando até os parceiros” tirando a oportunidade de atrair parceiros e voluntários de outras partes da cidade. “É mais uma coisa que você perde” ela diz. Isso faz com que o funcionamento e o trabalho do centro fiquem mais difíceis, mas também mais necessários. Verônica diz que ela consegue ver o impacto positivo dos eventos e cursos feitos no centro para as pessoas que ficam com medo de deixar suas casas. Ela também vê os efeitos de criar um espaço seguro para as crianças que “não têm outra atividade para fazer. Se nós deixarmos, elas ficam o dia inteiro aqui”.

O segundo desafio? O lixo: um problema que Verônica chama de “gigantesco”. Em resposta, o CCIK tem desenvolvido projetos visando aumentar a consciência ambiental. Verônica afirma que o problema “não é uma questão de recolher [o lixo]”–ela diz que a coleta do lixo é excelente–mas sim uma “questão cultural, de educação”. Ela explica que muitos moradores não se dão conta que eles devem deixar o lixo em locais específicos para que a prefeitura colete. Em vez disso, eles costumam deixar o lixo na porta das escolas e creches, de acordo com Verônica. O CCIK fez uma parceria com outros grupos comunitários para educar os moradores nesse processo. Além disso, o centro oferece atividades como sua futura horta comunitária, somado a um projeto que recicla óleo de cozinha usado em produtos como sabão. “A questão ambiental” diz Verônica, “nós estamos começando [a lidar com isso]”.

Apesar dos desafios, Verônica é motivada por um senso de otimismo. “Eu ainda acredito nas pessoas” ela diz. Ela enfatiza que “a história da Vila Kennedy é muita bonita, por ter muitos movimentos sociais e culturais. Eu acredito que a gente precisa fazer esse resgate porque a história se inverteu” nos anos recentes. Mas, Verônica continua, “Nós temos um legado, uma história cultural maravilhosa aqui. Nós temos poetas, artistas, temos um teatro… Nós temos essa riqueza”. Ela começa a listar os projetos sociais da área, desde da creche que precede o CCIK até a Clínica da Saúde local que fez parceria com o CCIK para prover serviços.

“Nós temos muitos jovens que as vezes passam por tantas coisas negativas”, explicou Verônica, “mas a gente tem jovens brilhantes… jovens que estudam, que sonham… São muitas coisas positivas que a gente tem para mostrar… [e] a gente precisa mostrar o que é que nós temos”. Isso é verdade especialmente em um centro regido por voluntários: Verônica sabe o quanto é importante as pessoas verem e acreditarem no que estão fazendo.  Ela chama isso de “questão de reciprocidade: se doar se você acredita… na transformação do lugar”.

Verônica diz que o trabalho no centro continua porque “as pessoas vêm, conhecem [nosso trabalho], e querem se disponibilizar”. Ela considera “surpreendente”–e impressionante também–que as pessoas cheguem ao centro e não apenas fiquem, mas se tornem mais envolvidas porque elas “se apaixonam pelo nosso trabalho”. Ela descreve o centro como um lugar que “causa isso… comoção, essa questão–esse sentimento de pertencimento, de responsabilidade”. A partir desse sentimento vem o desejo de melhorar o centro, e a própria comunidade.

A curto prazo, Verônica diz que os projetos futuros incluem uma horta comunitária, uma loja de doces, e uma parceria para oferece um novo curso chamado “A Arte de Conviver” para crianças de 4 até 14 anos de idade. Mas amplamente, o centro comunitário está trabalhando para aumentar a sua visibilidade por toda a Vila Kennedy e na Zona Oeste. Embora o local exista há quase 50 anos, ele só tem funcionado como um centro comunitário durante os últimos oito anos.

É trabalho duro, mas Verônica saber que vale a pena. Quando as chuvas fortes deixaram o centro comunitário “cheio de lama”, todo mundo apareceu para ajudar, dizendo para Verônica que “esse espaço aqui é da gente”. Tudo no centro é feito coletivamente porque “eles [os moradores] se sentem parte do espaço… As reuniões, os planejamentos são feitos de formas participativas, sempre com os voluntários… Aqui é, de fato, trabalho coletivoSe não, não daria. Eu dependo de cada um que está aqui hoje para manter esse trabalho”.

*CCIK é um dos mais de 100 projetos comunitários mapeados pela Comunidades Catalisadoras (ComCat)–a organização que publica o RioOnWatch–como parte do nosso programa paralelo ‘Rede Favela Sustentável‘ lançado em 2017 para reconhecer, apoiar, fortalecer e expandir as qualidades sustentáveis e movimentos comunitários inerentes às favelas do Rio de Janeiro. Siga a Rede Favela Sustentável no Facebook. Leia outros perfis dos projetos da Rede Favela Sustentável aqui.