Cadê a Água? Moradores da Maré Relatam Falta d’Água Há pelo Menos Duas Semanas

Arte original por Estevão Ribeiro
Arte original por Estevão Ribeiro

Click Here for English

Esta matéria faz parte de uma série gerada por uma parceria, com o Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, para produzir matérias sobre a questão da água e a população LGBTQIAP+ nas favelas cariocas e na Baixada Fluminense.

Enquanto o verão se aproxima, mas já com altas temperaturas, moradores da Maré estão sofrendo com a falta d’água em diversas partes do território. As favelas do Parque União, Rubens Vaz, Parque Maré e Nova Holanda estão com o problema há pelo menos duas semanas, enquanto Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau começaram a relatar a escassez nos últimos dias. O serviço da Águas do Rio tem variado casa a casa dentro desses territórios devido a um defeito na Subadutora da Maré.

A escassez de água atinge dezenas de milhares de moradores há, em média, 14 dias. Em outras residências da Maré, na torneira, chega uma água escura e com cheiro de esgoto, imprópria para o consumo.

 

View this post on Instagram

 

A post shared by CocôZap (@cocozapmare)

Obra realizada pela Águas do Rio na rua Flávia Farnese, na Nova Holanda. Foto: José Bismarck
Obra realizada pela Águas do Rio na rua Flávia Farnese, na Nova Holanda. Foto: José Bismarck

No dia 10 de dezembro, a Águas do Rio divulgou uma nota dizendo que “devido à necessidade de reparo de um vazamento na Subadutora da Maré, foi necessário interromper o fornecimento de água tratada em partes da Zona Norte” e, por isso, o abastecimento estava irregular ou inexistente. 

No dia 11 de dezembro, outra nota dizia que “equipes atuam na Maré há mais de cinco dias, ininterruptos, identificando pontos de vazamento e realizando reparos em busca da normalização do fornecimento de água”.

Na manhã do dia 12, a Águas do Rio informou que o reparo do vazamento na adutora da Maré foi concluído e que os operadores continuarão atuando em um ponto de Manguinhos. Ainda segundo a última nota, ao fim do serviço, o abastecimento será retomado gradativamente para as regiões impactadas. Contudo, ainda não há uma previsão para a normalização completa do serviço.

Nas redes sociais, moradores, lideranças locais e coletivos de comunicação estão se mobilizando, criticando a falta de informação e cobrando uma resposta assertiva da concessionária de água nessa região da cidade.

Após muita pressão da Associação de Moradores da Nova Holanda e dos moradores, a Águas do Rio começou a disponibilizar caminhões-pipa e duas caixas de 10.000 litros de água para que os moradores pudessem buscar água e abastecer suas casas.

Juliana Machado, moradora do Morro do Timbau, diz que “pegar a água nos carros-pipa disponibilizados é difícil, pois ficam na parte baixa do morro”. Isso faz com que os moradores tenham que subir ladeiras carregando baldes e latas d’água pesados, como há décadas atrás.

“É inaceitável a gente estar com a água desse jeito. Não dá para cozinhar, não dá para lavar roupa, não dá para tomar um banho. E ainda tem que gastar mais dinheiro tendo que comprar água para consumo na rua. Um carro-pipa não dá conta de tantas casas com tantas pessoas”, diz Nelson Oliveira, morador da Nova Holanda.

A justificativa da empresa para a demora na normalização do fornecimento de água é a complexidade da obra. A Águas do Rio assumiu, no final de 2021, o serviço da CEDAE, com a privatização da estatal do estado do Rio.

Moradores abastecem galões e baldes d'água em carro-pipa. Foto: Carlos Viana
Moradores abastecem galões e baldes d’água em carro-pipa. Foto: Carlos Viana

Juliana Machado destaca que a solidariedade e a coletividade são mecanismos ajudando aos moradores a superar essa crise hídrica: “É típico do morador da favela ter a sensibilidade de ajudar e isso vem acontecendo. Alguns moradores têm cisterna e estão disponibilizando água para outros”. 

A Águas do Rio forneceu um número para receber dúvidas e reclamações de moradores sem água, funcionando por ligação ou WhatsApp, é o 0800 195 0 195. Nas redes sociais, reclamações de moradores se acumulam sem resposta. Lohrane, uma moradora, reclamou em seu Twitter:

“Como assim não existe previsão? Um calor do inferno, isso é muita sacanagem, eu com um bebê de 3 meses em casa super irritado com o calor, querendo um banho. Que situação desumana.” — Lohrane, moradora da Maré

Moradores pegando água no meio da rua em baldes, latas e tinas. Foto: Carlos Viana
Moradores pegando água no meio da rua em baldes, latas e tinas. Foto: Carlos Viana

Água é um direito básico necessário para a sobrevivência. Na Maré, não só os moradores são afetados, mas também o comércio local, as empresas e as indústrias são prejudicados. A escassez de água também causa sobrecarga nos estabelecimentos que ainda possuem água.


Apoie nossos esforços para fornecer apoio estratégico às favelas do Rio, incluindo o jornalismo hiperlocal, crítico, inovador e incansável do RioOnWatchdoe aqui.