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Esta matéria faz parte de uma série gerada por uma parceria, com o Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, para produzir matérias sobre a questão da água e a população LGBTQIAP+ nas favelas cariocas e na Baixada Fluminense.
Enquanto o verão se aproxima, mas já com altas temperaturas, moradores da Maré estão sofrendo com a falta d’água em diversas partes do território. As favelas do Parque União, Rubens Vaz, Parque Maré e Nova Holanda estão com o problema há pelo menos duas semanas, enquanto Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau começaram a relatar a escassez nos últimos dias. O serviço da Águas do Rio tem variado casa a casa dentro desses territórios devido a um defeito na Subadutora da Maré.
A escassez de água atinge dezenas de milhares de moradores há, em média, 14 dias. Em outras residências da Maré, na torneira, chega uma água escura e com cheiro de esgoto, imprópria para o consumo.
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No dia 10 de dezembro, a Águas do Rio divulgou uma nota dizendo que “devido à necessidade de reparo de um vazamento na Subadutora da Maré, foi necessário interromper o fornecimento de água tratada em partes da Zona Norte” e, por isso, o abastecimento estava irregular ou inexistente.
No dia 11 de dezembro, outra nota dizia que “equipes atuam na Maré há mais de cinco dias, ininterruptos, identificando pontos de vazamento e realizando reparos em busca da normalização do fornecimento de água”.
Na manhã do dia 12, a Águas do Rio informou que o reparo do vazamento na adutora da Maré foi concluído e que os operadores continuarão atuando em um ponto de Manguinhos. Ainda segundo a última nota, ao fim do serviço, o abastecimento será retomado gradativamente para as regiões impactadas. Contudo, ainda não há uma previsão para a normalização completa do serviço.
Nas redes sociais, moradores, lideranças locais e coletivos de comunicação estão se mobilizando, criticando a falta de informação e cobrando uma resposta assertiva da concessionária de água nessa região da cidade.
Após muita pressão da Associação de Moradores da Nova Holanda e dos moradores, a Águas do Rio começou a disponibilizar caminhões-pipa e duas caixas de 10.000 litros de água para que os moradores pudessem buscar água e abastecer suas casas.
Juliana Machado, moradora do Morro do Timbau, diz que “pegar a água nos carros-pipa disponibilizados é difícil, pois ficam na parte baixa do morro”. Isso faz com que os moradores tenham que subir ladeiras carregando baldes e latas d’água pesados, como há décadas atrás.
“É inaceitável a gente estar com a água desse jeito. Não dá para cozinhar, não dá para lavar roupa, não dá para tomar um banho. E ainda tem que gastar mais dinheiro tendo que comprar água para consumo na rua. Um carro-pipa não dá conta de tantas casas com tantas pessoas”, diz Nelson Oliveira, morador da Nova Holanda.
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A justificativa da empresa para a demora na normalização do fornecimento de água é a complexidade da obra. A Águas do Rio assumiu, no final de 2021, o serviço da CEDAE, com a privatização da estatal do estado do Rio.
Juliana Machado destaca que a solidariedade e a coletividade são mecanismos ajudando aos moradores a superar essa crise hídrica: “É típico do morador da favela ter a sensibilidade de ajudar e isso vem acontecendo. Alguns moradores têm cisterna e estão disponibilizando água para outros”.
A Águas do Rio forneceu um número para receber dúvidas e reclamações de moradores sem água, funcionando por ligação ou WhatsApp, é o 0800 195 0 195. Nas redes sociais, reclamações de moradores se acumulam sem resposta. Lohrane, uma moradora, reclamou em seu Twitter:
“Como assim não existe previsão? Um calor do inferno, isso é muita sacanagem, eu com um bebê de 3 meses em casa super irritado com o calor, querendo um banho. Que situação desumana.” — Lohrane, moradora da Maré
Água é um direito básico necessário para a sobrevivência. Na Maré, não só os moradores são afetados, mas também o comércio local, as empresas e as indústrias são prejudicados. A escassez de água também causa sobrecarga nos estabelecimentos que ainda possuem água.