Veja a matéria original por Nicolas Bourcier em francês no Le Monde aqui.
Em português com um leve sotaque alemão, o resultado foi anunciado terça-feira, 3 de dezembro por volta das 20h, diante de uma platéia de cerca de uma centena de pessoas reunidas no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), no Centro do Rio de Janeiro.
O Prêmio Urban Age Award, promovido e organizado pelo Deutsche Bank, foi outorgado ao “Plano Popular da Vila Autódromo”, um projeto de planejamento urbano desenvolvido pelos moradores da comunidade Vila Autódromo, a Associação de Moradores e professores de planejamento urbano voluntários. Este prêmio vem coroar uma iniciativa criada em 2009, logo após a nomeação do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, que busca preservar as casas do local, ameaçadas pela extensão do Parque Olímpico.
Este prêmio permite o coletivo da Vila Autódromo obter a quantia de 80.000 dólares. E legitima, a sua maneira, uma longa luta de 4000 moradores de uma área com alta valorização imobiliária contra os ambiciosos projetos da Prefeitura do Rio.
Dinamismo da Associação de Moradores
Vila Autódromo, que tomou seu nome do antigo autódromo situado ao lado, é uma pequena favela localizada na Barra da Tijuca, uma zona de expansão urbana que tem sido privilegiada nos planos de construção da futura Cidade Olímpica. A comunidade está localizada na beira da Lagoa de Jacarepaguá, que já foi lugar de pesca e agricultura familiar.
Aqui, como na maioria das comunidades, as reivindicações são defendidas pela Associação de Moradores. Desde os anos 1990, ela luta para evitar as tentativas de remoção que se tornaram cada vez mais insistentes devido à especulação imobiliária. Com os Jogos Olímpicos, a pressão tem aumentado ao nível máximo.
As autoridades têm planejado a criação do Parque Olímpico no lugar do antigo circuito de Grand Prix localizado ao longo da favela. Os habitantes da Vila Autódromo fizeram sua luta pública na Internet, transmitindo vídeos de seus encontros tensos com as autoridades.
Apoiados por associações, advogados e professores universitários, apelaram repetidamente aos tribunais para bloquear o processo de remoção. Ações que têm sido, até o momento, sem êxito. Existe mais um projeto, lançado em dezembro de 2011, proposto por urbanistas fornecendo um sistema de saneamento das águas, ao qual não foi dado seguimento. A comunidade, manteve-se firme até agora. Hoje, ela simboliza um movimento de protesto contra as construções faraônicas das autoridades locais em vista dos mega-eventos.
Projetos Urbanos com Objetivo Social
O projeto articula-se em quatro áreas principais–habitação, saneamento e infra-estrutura, transporte e serviços, desenvolvimento comunitário e cultural–e é uma proposta participativa muito diferente das parcerias público-privadas das autoridades locais.
Selecionado entre 170 projetos urbanos para fins sociais, o coletivo do Plano Popular da Vila Autódromo planeja usar o prêmio para construir uma creche. Em segundo lugar no pódio, o projeto Pontilhão cultural ganhou 20 mil dólares. Este montante será destinado a criação de um espaço dedicado aos jovens no Complexo da Maré.
Os projetos Censo da Maré, que tem como objetivo nomear as ruas das favelas, e Agência de Redes Para Juventude, uma associação para formar os jovens, também foram mencionados e aplaudidos.
O Deutsche Bank, que recentemente comemorou seus 125 anos de presença na América Latina, atribui o prêmio pela sexta vez a uma iniciativa que promove uma cidade “mais integrada, mais inclusiva e mais verde“. Depois da Cidade do México e São Paulo, o Rio de Janeiro é a terceira maior cidade do continente a sediar o evento.
Nicolas Bourcier (Rio de Janeiro, correspondente regional e Elie Landreau)