O Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, acaba de realizar o primeiro festival “Comida de Favela”, comemorando os sabores da Maré, no qual 16 restaurantes locais prepararam pratos especiais para serem servidos. Entre 17 de setembro e 17 de outubro, o evento recebeu mais de 4.000 pessoas e teve como objetivo celebrar e promover a identidade cultural e gastronômica das 16 comunidades da Maré através de pratos tradicionais que mostram a criatividade e diversidade da favela.
Um dos maiores complexos de favelas do Rio, a Maré é lar de 130.000 pessoas e tem uma rica cultura influenciada pelas ondas de migração que vieram a partir do Norte e Nordeste do Brasil e pelas raízes africanas de muitos moradores. O Complexo também é lugar de uma vibrante comunidade empresarial: de acordo com o censo de empreendimentos da Maré de 2014, a favela têm 3.182 empresas e 38% são estabelecimentos de alimentos e bebidas.
Organizado pela ONG local Redes da Maré, o Festival Comida de Favela mostrou a cena gastronômica da Maré, com transporte gratuito oferecido nos finais de semana para os visitantes da Zona Norte e Sul da cidade. Os ônibus deixavam os visitantes em três locais diferentes da Maré, cada um com diferentes restaurantes participantes para visitar, com pratos custando em média R$15.
Os restaurantes envolvidos foram escolhidos por suas histórias na região e por trabalharem com os organizadores a fim de criar um prato especial que representasse a cultura e gastronomia da Maré. Os restaurantes competiram em duas categorias: melhor comida de bar e melhor comida de rua. Os três primeiros vencedores de cada categoria foram selecionados pelo público e por um júri especial para um prêmio entre R$800 e R$3.000 e foram, em cada categoria:
Comida de rua
1° Frango assado da Vila
2° Empadinha da Leandra
3° Rei das Cabritas
Comida de bar, restaurante e pensão
1° Sonia’s Gourmet
2° Pensão da Marilda
3° Bar da buchada
Boner Gourmet, restaurante japonês no Parque União, apresentou um sushi feito com salmão, cream cheese e camarão chamado “Hot Gourmet”. O chef Fabio Martins aprendeu a fazer sushi em sua cidade natal, São Paulo, que tem a maior população japonesa fora do Japão. Ele se mudou para a Maré há dez meses e acredita que o festival Comida de Favela tem sido bem sucedido no intuito de quebrar o estigma normalmente associado à favela. “Tem sido muito bom”, disse ele, “Isso mostra que na comunidade não tem só crime”.
Na Nova Holanda, o Quiosque da Luci serve um guisado de feijão mexicano picante com carne picada criado pelo proprietário Felício dos Santos, morador da Maré por mais de 50 anos. Inspirado por um prato que sua filha provou em uma festa, Felício criou o “Feijão Mexicano” e serve no quiosque que ele vem gerenciando durante os últimos 15 anos na praça da comunidade.
“Eu sabia que se [acontecesse um festival de comida na Maré] eu ia querer participar”, disse Felício e explicou que sua intenção era dar visibilidade ao seu negócio.
Outros restaurantes participantes incluíram: a Empadinha da Leandra no Baixo do Sapateiro, que serviu suas especialidades, empadinhas de galinha; o Point do Maracarrão na Vila do João, servindo croquetes de cordeiro com molho de maçã; e o Galeto Dourado no Parque União, que serve uma paella de frutos do mar.
Os visitantes foram convidados a pontuar os pratos e dar votos, que juntamente com os de um júri especial, determinaram os vencedores anunciados na cerimônia de encerramento no sábado, 17 de outubro. O evento de encerramento contou com um show do Dudu Nobre.
Reconhecer a cena culinária diversificada da favela e estimular a economia local atraindo visitantes foi um dos principais objetivos do festival. A coordenadora Mariana Aleixo explica: “Historicamente, os negócios da Maré se desenvolveram a partir da necessidade de suprir as demandas da população local. Com o festival, esses mesmos empreendimentos têm a possibilidade de aumentar o número de clientes e aumentar os lucros”.
Para mais informações sobre o Festival Comida de Favela, visite o site aqui.