Cadê a Água, CEDAE? #OQueDizemAsRedes

A novela do desabastecimento de água no Rio tem reprise nas torneiras das favelas

Estação de tratamento de água do Guandu

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Esta é nossa matéria mais recente sobre o novo coronavírus e seus impactos sobre as favelas e parte da série #OQueDizemAsRedes que traz pontos de vista publicados nas redes sociais, de moradores e ativistas de favela, sobre eventos e temas que surgem na sociedade. 

Em meio à pandemia do coronavírus no estado com a maior taxa de mortalidade do país perto de um colapso no sistema de saúde, e um calor com sensação térmica de 40ºC, moradores do Rio de Janeiro enfrentam um rodízio de abastecimento de água em mais de 30 bairros da cidade, além da Baixada Fluminense, de acordo com levantamento do jornal Extra. No Complexo do Alemão, Favela de Acari, Complexo da Maré, Tabajaras, Tuiuti. Quitungo e Santa Marta, as torneiras estão secas desde 14 de novembro, conforme denúncia de moradores nas redes sociais.

Em resposta as reclamações, a CEDAE respondeu que a falta de abastecimento de água em certas regiões da cidade era ocasionada por uma “manutenção emergencial em um dos motores da Elevatória do Lameirão que atende os municípios do Rio de Janeiro e Nilópolis”, e garantia: “Estamos trabalhando para concluir o serviço o mais rápido possível”.

A previsão do conserto era de 48 horas, porém, passados mais de 15 dias, o problema persiste. E a solução do problema “mais rápido possível” previsto pela CEDAE agora é para 20 de dezembro, quando já estará publicado o edital que selará a venda da companhia, previsto para o dia 18.

A Elevatória do Lameirão passou a operar com 75% da capacidade devido ao defeito em três bombas. A estação, localizada em Senador Vasconcelos, na Zona Oeste, recebe aproximadamente metade da água tratada na Estação do Guandu. Apenas no município do Rio, estima-se que mais de 1,4 milhões de habitantes foram afetados pelo desabastecimento, segundo dados do Instituto Pereira Passos. Em alguns locais, quando a água chega, vem suja e com cheiro forte.

Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DP-RJ) e professores da Fiocruz e da UFF realizaram uma reunião emergencial com a diretoria da CEDAE para buscar soluções eficientes para a crise de abastecimento, em 26 de novembro.

Somente após este encontro, a companhia criou um gabinete de crise para medidas emergenciais. Dentre elas, a formulação de um diagnóstico contendo identificação das áreas desabastecidas e a elaboração de um plano de manobra de abastecimento, que na prática criou o “rodízio das águas” ou #mapadaágua.

O mapa do “rodízio das águas” pode ser acessado pelo link ou ao clicar na ‘pop-up’ disponível na home do site. A CEDAE está realizando reparo emergencial na Elevatória do Lameirão, que distribui metade da água diária tratada que vem da estação de tratamento do Guandu. A companhia disponibilizou um vídeo que explica o problema da falta de abastecimento.

Enquanto isso, a média do preço do caminhão-pipa varia de R$450 (10.000 litros) a R$650 (20.000 litros) em empresas da área da Zona Norte, Benfica e Pavuna e em Nova Iguaçu, com agendamento de entrega para 48 horas, conforme contato telefônico feito para três empresas de venda de carro-pipa. Mas o valor pode chegar até R$1.000.

Esquemático da Elevatória do Lameirão

Para atendimento sobre falta d’água e solicitação de carro-pipa, os moradores-consumidores da CEDAE podem ligar para o SAC da Companhia no telefone: 0800-282-1195. Para pedir o abastecimento via carro-pipa é necessário ter matrícula ativa, isto é, cadastro regularizado na companhia, informar a capacidade da cisterna e aguardar o prazo de cinco dias para obter o fornecimento do carro-pipa, de acordo com informações passadas pelo SAC da CEDAE, em 3 de dezembro, às 17:57, à essa reportagem.

Enquanto isso, os coletivos Maré Vive, Maré 0800, Cia Marginal e Papo Reto, à partir das favelas da Maré, Cidade de Deus e Alemão, se uniram para realizar um mapeamento da falta d’água nas favelas e bairros do Rio de Janeiro, com a participação popular através de um formulário.

Coé Favela!

O bonde se uniu pra saber onde tá faltando água nas nossas favelas do RJ mapeando as áreas através do…

Publicado por Gizele Martins em Quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado

Podia ser só nome de filme dos anos 1990, mas quando o assunto é o abastecimento de água no Rio de Janeiro, esse não é um problema de anos atrás. O estado passa pela segunda crise hídrica em menos de um ano. Em janeiro, moradores do Rio de Janeiro foram as redes sociais relatar que a água distribuída pela CEDAE saía das torneiras e filtros com cheiro e gosto de terra e turva.

A causa seria uma substância orgânica chamada geosmina, produzida quando há muita alga e bactéria na água, que não teria indícios concretos de malefícios à saúde. A CEDAE é a estatal responsável pelo tratamento e distribuição na região metropolitana.

Na ocasião, em 15 de janeiro, um laudo da UFRJ apontava que “é possível afirmar que a RMRJ é refém da oferta quantitativa de água do Rio Paraíba do Sul e da qualidade ambiental e sanitária dessa bacia. Apesar da importância do controle da poluição hídrica da bacia do Rio Paraíba do Sul, a atual crise que vive a RMRJ é decorrente da insuficiência do sistema de esgotamento sanitário das áreas urbanas”.

No entanto, em junho, análises do pesquisador Fabiano Thompson, professor do Laboratório de Genética e Bactérias do Instituto de Biologia da UFRJ, no Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), revelaram que a substância encontrada na água tem estrutura parecida, mas não é a geosmina. A pesquisa encontrou uma forte presença de esgoto doméstico e também poluição industrial.

Desde o começo da pandemia da Covid-19, moradores de favelas do Rio sofrem com acesso inconsistente à água corrente. Entre 18 a 23 de março, a Defensoria Pública do Estado, recebeu 475 queixas de fornecimento inadequado de água em 140 bairros diferentes em 14 municípios do Rio de Janeiro. A grande maioria desses relatórios veio de favelas na Região Metropolitana do Rio.

A capital fluminense atravessa uma elevação do número de casos e mortes da pandemia do coronavírus nas últimas duas semanas. De acordo com o boletim da Secretaria Estadual de Saúde (SES), houve o registro de 3.788 novos casos da doença, com 124 mortes nas últimas 24 horas. Ao todo, todo o estado do Rio registra 365.185 casos e 22.891 óbitos.

A Fiocruz revelou também em 3 de dezembro que o estado do Rio tem a maior taxa de mortalidade de coronavírus do país. Segundo o levantamento, são 131 óbitos para cada grupo de 100.000 habitantes. A instituição já tinha alertado as autoridade e a população que a cidade estava perto de um colapso no sistema de saúde, podendo vim a enfrentar um quadro sério de falta de acesso a saúde por causa da Covid-19. O acesso a água para higiene pessoal para lavar as mãos constantemente é a maior recomendação para prevenção do coronavírus.


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